sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cadê?

Eu adoro, choro todas as vezes que vejo ou ouço,
sinto na flor da minha pele,
e nesse clip em que o Chico Buarque, num close,
bota no fundo da alma da gente, aquellos ojos verdes, translúcidos, serenos...

eram, ele e o Milton Nascimento tão jovens!

Mas por que não mostraram o músico que sopra aquele solo tão pungente?

Vai lá!  Http://www.youtube.com/watch?v=Fy8LsPjONw8&feature=related

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Crise IV

Mnemosine, está desenvolvendo um tão bom treinamento de leitura dinâmica e memorização que tem recuperado inclusive pacientes com Alzheimer.

Apolo tem feito avaliações para museus e galerias e é o leiloeiro oficial da Sothebis mas os marchands estão um pouco fartos dele. Ele é muito snob.

Adonis, que está de maneco exclusivo do Armani, está sendo sondado pelo setor de cuecas da Calvin Klein.

Jasão é  armador grego, fazendo iates maravilhosos, lanchas velozes que só!
Gasta seu tempo numas gincanas divertidas, com os rapazes da turma,
procurando tosões de ouro na Ilha de Caras.
Vai fazer um casamento de conveniência
com uma princesa que trabalha pra uma editora famosa...
Dizem que a Medéia Callas, que estava com ele até outro dia, está bravíssima,
jurando vingança.


                                             até já!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

crise III

A Esfinge tem uma reconhecida firma de montar provas para
concursos públicos, vestibulares, exame da Ordem...
e faz dinâmicas para  preenchimento de altos cargos em empresas de grande porte.
Quem passa nos seus testes dificílimos, está feito na vida!


Aegle, Vésper, Arethusa, são designers de jóias e logotipos.
Seu símbolo mais expressivo, a maçã de ouro,
virou "logo" da marca de alta tecnologia das mais importantes do planeta.
Têm usado o Jardim das Espérides como espaço, muito elitista,
pra exposição de arte de vanguarda.


Continuo a postos, qualquer novidade informo a vocês.    
                                                                                     
                         
                                                        Até já!
                           

Crise II

Fui alertada pelos meus correspondentes

de que a Medusa montou uma "estetica"
bem perto da Placa; um lugar da moda ali na Grecia;
e deixa todo mundo com cara de estátua.

Ela oferece ainda tratamentos que dão vida aos cabelos.

Está montando sucursais nos melhores SPAS clínicas e consultórios
de cirurgiões plásticos pelo mundo
com a tecnologia , o intrumental e procedimentos que adquiriu na Venezuela.

Dizem meus correspondentes ,
que quem está amasiado com o general é o Ares.

Ele publicou mesmo o livro,
e o casal  vende  sim o know-how de guerra pra quem pagar bem
e por conta dessa atividade eles tem informação privilegiada
na compra e venda de ações desde material bélico até botões de elevadores...

A Athená vive mesmo é de exportar azeitonas: maduras, polpudas e macias.
Claro que ela emprega albaneses e poloneses na pior, pra colheita.

E o Minotauro estrelou dois filmes.
Chamaram Hellboy alguma coisa.
Parece que foi sucesso de bilheteria e ele ganha royalties da distribuidora,
que os inseriu na programação de TV por assinatura

Zeus achou um filão importantíssimo na utilização de seus raios
na conversão de eletricidade limpa e barata. Isso já está resolvido.
Seus acessores estão tendo dificuldade em desenvolver uma embalagem que não mate o  remetente, o emissário,  e o freguês.

Foi quase assim...  Até já!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Crise na Grécia I

Está singrando pela internet
a revelação das consequências da crise financeira
pela qual a Grécia está passando.

Algumas pessoas queridas me pediram pra dar a minha abalizada versão dos fatos.

Lá vai:

Perseu montou uma firma de segurança com Belerofonte.Cuidam só de celebridades.

Hefesto tá usando umas alavancas na perna pra deixar de mancar,
vende jóias pelo leilão da TV, junto com Hades que vende suas esculturas
em tamanho natural, da sua representativa fase "Quem mandou olhar pra tras?"

Os dois têm ainda um negócio não muito lícito, de contrabando de armas brancas
e convenceram Penélope e Procne a vender pela mídia televisiva,  suas tapeçarias.

Zeus com problemas de manutenção do Olimpo,
montou alí um "sujinho" em sociedade com Hebe e Ganimedes,
que exigiram que fosse porquilo pra não servirem as mesas.
e já estão franqueando a marca, que pega pela ironia.

Hermes tem franquias de Fedex, Sedex e similares,
uma transportadora de carga internacinal com aviões próprios
e com containeres em navios e tudo.

Aquiles não via resolvido seu trauma do calcanhar,
Atlas que morria de dores nas costas,
Prometeu por causa do fígado
e Tirésias que precisava de córneas
juntaram-se a Asclépio e meteram um processo milionário no seguro saúde.
Vivem de renda, velejando pelo Egeu.

Hipócrates é chefe de pesquisa de medicamentos da Shering.

Hércules perdeu seus doze trabalhos e com Teseu  montou academias de ginástica treinando levantadores de peso para competições internacionais. Seus pupilos vencem todas.

Démeter está trabalhando pra Monsanto em pesquisa de transgênicos.

Perséfone montou um inferninho no Hades que tá bombando.

A Nestlé somou aos seus congelados um ragú
e paga uma grana alta de royalties pra culinarista responsável,
que é ninguém menos que Filomela.

Dionisos errou no corante e as garrafas do seu vinho ficaram azuis,
não podia perder o investimento, exportou assim mesmo.
Diz que faz um sucesso louco

As Musas estão fazendo coro em Glee.

Phebo montou franquias em todas as plagas onde se alugam charretes.
Estava indo bem mas o sucesso veio quando fez sociedade com Pégaso,
Unicórnio e o centauro Kiron.

Amaltéia é embaixadora da Unicef  viajando o mundo pra arrecadar fundos pra infância desamparada.
Dão o maior Ibope suas palestras sobre amamentação.

Archimedes tem um lucrativo negócio de coroas, pra misses, reis, bailes à fantasia,
tem se esmerado nas tiaras.e está derivando pros pentes à  espanhola,
espetos de gueixa, ramonas pra chignons, fivelas...
tende a crescer mas ainda é bico pra complementar o seu salário
de chefe do DNER na fiscalização de balanças nas estradas.

Narciso está badaladísimo desenhando espelhos pra Baccarat.

Ártemis montou uma ong em defesa das corças e entrou para o Green Peace.

A premiação do Tragos será ao vivo, com tradução simultânea, e comentários do Rubens Ewald.

Athena tem feito belos chapéus de casamento e se mantém com isso e ,
treinando corujas pros filmes do Harry Poter
Dizem as mas línguas que ela está amasiada com um general do exército
pra quem ela assopra estratégias de guerra..
O general  vende pro mundo inteiro
e racha os dividendos das ações do armamento e material de apoio com ela e Ares,
que é quem tem as manhas da arte da guerra.
Este andou publicando um livrinho sob pseudônimo que foi best seller.

O Minotauro teve participação especial em "Crepúsculo"

Epicuro, coitado, tá fumando maconha medicamentosa pra sedar as dores,
mas montou uma bela rede de ensino, a Peripatética, com venda de apostilas
cursos de línguas e computação.
Parece que no ano que vem ele vai pedir o registro de universidade.

O Sócrates fez plástica, implantou cabelo, oferece consultoria motivacional
nas empresas, escreve livros de auto-ajuda, tais como: Inteligência Maiêutica,
Cura pela Maiêutica,  Maiêutica e Destino, Pare de Sofrer com a Maiêutica...

Safo montou um resort chiquíssimo na Ilha de Lesbos recebendo grupos de terapia de casais homoeróticos
e  alugando  pra eventos da "Caras"

Eros montou um curso de arco e flecha que vende pras empresas pra dar um up grade no moral dos executivos.

Afrodite é modelo e manequim. A mais requisitada pra qualquer grande evento em Paris, Milão, Noviorque.

Perseu e Neptólemo  montaram agencias de segurança patrimonial por todos os países, com treinamento requintado e asceclas do mais alto padrão.

Ulisses tem uma agência de viagem a "Turismo Ática", em sociedade com Posídon
que ainda cuida da parte artística agenciando as sereias, os golfinhos, as nereidas, promovendo espetáculos aquáticos e campeonatos de surfe, e concursos de dança com ênfase no ragae e  calipso.

O cavalo de Tróia é alugado e reciclado todos os anos por Helena, que é uma das carnavalescas mais importantes do Sambódromo e da Sapucaí e ainda faz umas incursões no Boi de Parintins, devidamente corneado é claro. Pra parecer com um bovino, ó pá! não tem nada a ver com a Helena.
Êta gente fofoqueira...

Demóstenes oferece consutoria em fonoaudiologia e, se não me engano, até um rei ele curou de gagueira.

Péricles foi pego no Parthenon fumando com uma estagiária. Deu um buchicho danado

Diógenes saiu do barril. Encontrou seu homem sincero.

                                foi mais ou menos assim!                    até já!

domingo, 20 de novembro de 2011

11.222

Outro número legal, foi esse negócio de lidar com essas incidências que me fez pensar no Galton e no Gauss.

A História Sem Fim

Eu trabalhava muitíssimo nesse tempo,
durante o dia numa clínica, algumas noites noutra
e ainda dava plantão numa maternidade nos finais de semana.
Ah! e traduzia uns folders pra uma fábrica
e era a redatora de trabalhos e pesquisas de uma faculdade.

Uma tarde resolvemos gazetear:

Fal, que nesse tempo era Fabia,

Pedrão que era Pedrão mesmo

e Stra,  que sempre foi Marcelo Estraviz
(mas ele era da galera; chegou perto a gente apelida)

fomos pro cinema Gazeta,
nome apropriadíssimo considerando o que estávamos fazendo naquela tarde.

Era um programa que eu podia bancar pra mim e pra garotada.

Fomos assistir à "A História Sem Fim".

Começando pelo começo,
o autor se chama Michael Ende, claro que tem que aparecer um "fim" no que ele escreve...

Eu levava alguma felicidade de pacotinho: bala de goma, Bis, uva passa...

Distribuí pra minha turminha o que eles preferiam, e o filme começou.
.
As crianças ficaram caladíssimas mesmo quando perdiam algum lance,
isso não era de estranhar, eles estavam acostumados a assistir de um tudo,
de concertos eruditos a pastelão de circo e a respeitar, mesmo que não apreciassem o espetáculo.

Quando acabou o filme eles tinham tantas perguntas...

Era um tempo em que eu já estava muito pobre e era preciso fazer os programas renderem bastante.

Eu não tinha como oferecer muitos prazeres pros meus filhos.

Entramos numa lanchonete, pedi refri prá todo mundo.

Chegou a noite e ainda estávamos convesando sobre o filme,
encontrando nele a teoria  Junguiana que eu fui capaz de sacar,
eu explicando pra meninada o que queria dizer tal cena,
uma certa fala, ou aquela imagem...

Eu estava com a corda toda porque eles estavam se divertindo!

A Susan Sontag que me perdoe mas
interpretação é uma das grandes alegrias mentais de que podemos desfrutar

Tendo em vista que, como diz Caymi, o tempo muda e o vento virou,
os circunstantes desse episódio me pediram pra fazer o mesmo exercício interpretativo 'tra veis.

Estou convidando.
Quem quiser que participe, mas vai ter que ler o livro (e ver o filme, se encontrar)

                                                                    Até já!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

quem olha o mito...

Aquilo que não é compreendido escapa do controle e pode passar a dominar.

Tudo o que se manifesta criando estranhamento, todo o imponderável,
é aceito como hierofania: tanto pode ser  benção quanto maldição;
pode ser dos diabos ou celestino,
está acordado no entanto que é uma interveniência do sagrado na vidinha dos mortais.

A pedra que rachou ao meio por causa da queda de um raio,
a única árvore que sobreviveu à tempestade,
o animal ou humano albino,
o sujeito com qualquer talento fora do comum,
a moça extravagantemente bela,
a fruta com a cara do Nixon, ou que secou sem apodrecer...

Qualquer aspecto extraordinário na condição humana,
no ambiente conhecido, na rotina,
nos fatos determinantes da vida, nascimento, casamento, morte,
merecem rituais que garantem a boa vontade sagrada,
ganhando status de hierofania.

Expressão divina ou demoníaca, no mundo profano

As manifestações dos deuses devem ser aceitas embora não compreendidas.

Não estou falando do mundo pré histórico ou medieval,
nem de grupos mais afastados geograficamente,
de qualquer cultura  que se tenha cristalizado...

Falo do que ocorre hoje em dia, já adentrados na segunda década do século XXI.

Cada vez que nasce um semelhante desigual a comunidade sofre um sobressalto.

Se atinarmos que o mundo é organizado pros normais,
que os excepcionais atrapalham,
fica assentado que o diferente é disfuncional,

sobra o medo atávico de ter uma diferença,
atribuida à onipotência dos diferentes panteões
e é expresso por:
"os deuses determinaram;  os deuses sabem o que fazem;
é uma benção na minha vida;   é um castigo justo;
eu não merecia essa punição...''
e vai por aí!

E porque os panteões estão sempre instalados nas alturas,
as decisões são sempre tomadas pelos superiores, os supremos, os do alto,
é assim que ajeitamos as coisas, pra não atribuir culpa
aos envolvidos pela desgraça da diferença. 

Só pra lembrar: graça é a ponte de comunicação entre o sagrado e o humano,
cair em desgraça portanto é ter esse caminho fechado.

Voltemos pros normais.
Normal é o miolo da curva de Gauss, (um conceito adquirido no ginasial)
Significa que o ápice da curva ascendente
indica que a queda é iminente. .

Não quer dizer que no restante da parábola não haja exemplares,
do que quer que estejamos classificando,
distribuidos por toda a tragetória da tal curva.

Em bom português, normal é vulgar, comum, corriqueiro, ordinário, numeroso, sem novidade, sem especialidade.

O normal é normal.
Não tem muita possibilidade de alterar a ordem das coisas.

                                                   até já!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

11111

Mó legal!
.
Chegamos à repetitiva cifra de 11.111,  graças às atenciosas leituras de vocês.

Estou gostando muito de brincar com essas cabalices numéricas... 


                                                                                   Até já!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tirésias

Era uma vez um menininho chamado Tirésias.
A mãe dele era a ninfa Cáriclo e seu pai se chamava Everes.
Não ha nada que os destaque no panteão senão o fato de serem pais do Tirésias.

Lá pelo início da puberdade ele estava flanando por um campo quando,
sem mais aquela, ele separa um casal de serpentes enroscadas, transando e mata a fêmea.
Imediatamente ele é transformado em mulher
Por vários anos ele é uma moça e vive sob essa identidade.

"Meu nome é Tirésias, mas pode me chamar de Tirésias..."

É verdade que tem gente à bessa que não se apropria muito de
qual é a sua, no início da sua carreira namoradora...
Tirésias portanto, não é excessão.

Já mais avançado na juventude, Tirésias está subindo uma colina
quando encontra um par de cobras copulando e desfaz o par, de novo.
Mata a fêmea de novo e volta à sua forma original, de rapaz, como fora um dia.

Desta vez ele matou a cobra e mostrou o pau.

Numa noite rotineira no Olimpo, durante o jantar, lá estão Zeus e Hera
numa briga dos diabos, digo; dos deuses,

por conta de um assunto de relevante importãncia:
quem tem mais prazer durante o sexo, o homem ou a mulher?

Como ninguém chega a qualquer entendimento,
por ter vivido sob os dois gêneros sexuais,
é chamado Tirésias pra desempatar a questão.

Ele é definitivo, se o prazer sexual fosse fracionado em dez partes,
a mulher obteria nove dessas fatias e o homem uma só.

Claro que todo mundo cre que a Hera se  envaideceria com essa resposta
porque ela poderia esfregar no nariz do Zeus a superioridade sexual feminina...

Nada! ela fica danada da vida.

O Tirésias cometera dois pecados: primeiro revelando um segredo.
A sexualidade feminina deveria ser mantida envolta em véus,
disfarçada e passível de ser esgrimida ao bel prazer (literalmente) da usuária;

segundo pecado, ao contrário do que se pode pensar de imediato
essa declaração exibe a mulher muito dependente do homem  para receber todo esse festejo físico,
o que confirma a superioridade masculina.

Zangadíssima que fica com a indiscrição do Tirésias
a deusa tira-lhe a luz do olhar.

Tirésias é tornado cego.

Cáriclo se insurge contra o tremendo castigo imposto ao filho
e carrega nos adjetivos depreciativos contra a deusa, braços erguidos, mãos cerradas, pronta pro ataque.

Hera  num passinho atrás, compensa Tirésias dando a ele
o dom de advinhar, com precisão e requinte, o presente, o passado e o futuro.

O cego Tirésias é tornado vidente embora continue sem enxergar.

                                                  Foi assim... Até já!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cabalístico...

Quase ao mesmo tempo que se deu o 11/11/11 deu-se  o 011.011

Acho que está havendo conjuminação dos astros,
centralização do meio do céu,
paralelização dos planetas ou qualquer coisa semelhante.

O que importa é que o blog vai que vai
navegando por mares nunca dantes,
velas pandas rumo ao futuro.


                                               Até já!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Propósitos

Prometeu era do panteão dos deuses a que pertenciam Zeus, Démeter, Mnemosine.
Ele prismava os humanos sob lentes diferentes das dos demais deuses.

Ele acreditava que a humanidade deveria ser independente,
e decidiu dar aos homens o fogo,
para o qual  poderiam inventar uma porção de usos,
além de aquecer-se e de obviamente,
mantê-lo aceso para homenagear os Olímpicos.

Zeus fica  furibundo com essa iniciativa.
O fogo era apanágio do divino,
os mortais não deveriam nunca se apropriar dessa mágica.

Prometeu é acorrentado à uma pedra,  em decúbito dorsal,
braços abertos para o Cáucaso,
pra facilitar o acesso dos abutres ao seu fígado
que seria bicado pelas aves e cresceria de novo,
e de novo beliscado, crescendo outra vez..
É da natureza dos fígados se refazerem
até o amargo fim, a não ser quando estão com cirrose...

Ele é condenado a viver esse castigo eternamente.
Até que Hércules acorreu em seu resgate...

O que me alegra é que Hércules salva Prometeu,
aquele mesmo que era um herói e não um deus.
Os outros deuses não vieram em defesa
do deus da providência.

São sempre rejeitados, os semelhantes
de quem não se reconhece
os princípios, os métodos, as crenças.


                                             Foi assim...   Até já!    (11/11/11)

desde M.M.D.C.A.

Há a possibilidade ainda de alterar as coisas e marcar sua passagem pela várzea do Pinheiros...

Há como sair da mesmidade e revelar o original.

Há como perdurar e fincar mourões,
num mundo de reconhecimentos fugazes e superficiais.

Há como mostrar insatisfação sem pecar por excesso,
sem extrapolar na irregularidade,
sem  mostrar inépcia,
nem revelar  ingenuidade,
nem exibir desamparo,
sem provocar desespero...

Há como não queimar as pontes,
não quebrar as lanças, não quebrar a cara...

Há como evitar as cacetadas,
como não se expor às injúrias,
não ouriçar a zanga da turba ignara..
.
Sei que há, deve haver um jeito,

Há uma forma de tornar tudo melhor, que não é narcísica,
embora isto seja contradição em termos.
Há como deixar em relêvo, no painel do comportamento, o gen altruista,

e compartilhar as bênçãos.

De preferência sem dor.
sem topar nos entraves,
sem as rasteiras que derrubam,
ou o medo das consequências,
nem o engodo dos sofismas,
impedindo a distorção dos enunciados,
não se arremessando aos vícios dos capitais...

Um C.Q.D. limpo e direto,
em que tese e hipótese coincidam,
em que as angulações, planos e curvas estejam claros, precisos, alcançáveis. 

Eu não sei dizer como,
Eu não sei como,
Eu não sei, não...

                
                                       até já!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mea Culpa

Eu não fiz um bom trabalho.
Os deuses sabem que eu tentei, eu me empenhei mesmo.

Eu queria que eles fossem felizes, conscientes, realizadores, amados e amantes em todas as possibilidades que se apresentassem; dos romances às revoluções, sob as probabilidades estatísticas favoráveis.

Queria que eles vissem o mundo, não com os olhos particulares de um momento, de um episódio, de um indivíduo, por mais inspiradores que fossem o objeto ou o sujeito...
Eu os queria capazes de alcançar o universal, o infinito, o imemorial...
Eu os queria fortes e ousados. 

Que chegassem às camadas mais profundas da escavação. Ao princípio de tudo. Ao amanhecer.
Ao inaugural.

Eu não lhes dei o sentido. Esse, eram eles que deviam buscar.

Eu não lhes dei as conclusões. Eram as questões que deviam imperar.

Eu não  lhes dei a coragem. Já me havia acovardado e eles seguiram meu exemplo.
Funesto modelo que fui.

Foi lhes oferecido um retiro macio e morno.
Eles não deixaram seu conforto pra olhar o mundo.
Talvez  tivessem achado significado, buscado respostas, razões pra luta.

Talvez  se tivessem posto de pé.

Talvez constituissem seus símbolos

Quem sabe no fundo, no fundo, lá no fundo tivessem encontrado meu olhar
e não se vissem nele, mas vislumbrassem  um lugar possível,
um desejo genuíno, uma razão legítima.

Eu lhes peço perdão. Não lhes ensinei o caminho das pedras.

Não lhes decodifiquei o mapa da mina.

Não lhes indiquei uma vereda pra encontrar o templo.

Não lhes confiei ritos para conservar.

Não lhes ensinei  as mezinhas, não benzi suas cabeças, não honrei meus pais.

                                Até já...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Por um fio

O sujeito se chamava Dionisio.
(Não confunda com o deus).
Ele era importante paca: era o primeirão da lista da Forbes do sec. IV a.c.

Tinha tudo o que se podia desejar:
o último modelo de biga esporte, de quadriga cupê,
na marina tinha, ancorado, o maior barco trirreme
com cabines confortáveis para dezoito hóspedes e toda a tripulação.

Esta afinal não ocupava tanto espaço,
já que ficava acorrentadinha no porão,
presa a uns bancos estreitos e com os pés molhados.

Dispendiosos eram os sujeitos da timba, batucando dia  e noite,
que o tal Dionisio tirou de  quartetos de jazz e custavam seu peso em ouro...

Ele era rico mas era econômico;
enquanto os percussionistas marcavam o ritmo pros remadores,
também suingavam pra alegrar os convidados.

Ele tinha um palácio cheio de quartos mas o dele era isolado por um fosso;
ele retirava a ponte quando entrava nos seus aposentos
para impedir a entrada de qualquer outro pagão.

Dizem que ele só permitia, que fizessem sua barba e cabelo,
suas filhas pequenas mas quando cada uma  delas chegava
à idade de ter idéias malévolas no uso da lâmina afiada,
ele a substituia pela seguinte, mais jovem.

Quando a caçula cresceu, ele passou a tosar barba e cabelo
com nozes em braza. Ui!

Ele era mesmo um déspota muito impiedoso,
o que lhe dava a desconfiar, que algum insatisfeito súdito,
poderia se insurgir contra sua tirânica maldade

Mas como todo o poderoso que se preza,
ele tinha bajuladores escancarados e descarados.

Vai daí, que durante uma festa, um tal de badalo chamado Dâmocles
declamando os bens que Dionisio possuia,
revela a imensa cobiça que cultivava pela fortuna de seu anfitrião.

Imaginem a paranóia do Dionisio como ficou destemperada.

Ele então, oferece a Dâmocles todos os confortos e luxos possíveis,
mantem-no cercado de criados e criadas prontos para serví-lo
mas pendura sobre a cabeça do invejoso,
num fio fininho, uma espada afiadíssima!

Claro que este, atarantado, não consegue pensar em mais nada.
Fica no meio de todos aqueles objetos de desejo
em desespero, temeroso por sua vida.

Deixando de cantar em verso e prosa a felicidade de que Dionísio era possuidor,
Dâmocles implora pra voltar à sua antiga situação: pobre mas limpinho.

C.Q.D.
Dionisio prova ser um pobre menino rico. Maluco e infeliz...

E a tortura que ele inventou, faz parte da edição da Forbes até hoje...
Quantos bonitões sorridentes em suas páginas,
mantem-se ali,
com as espadas sobre as nossas cabeças.

                                     Foi assim!            Até já...

Situações

A cidade foi construida há priscas eras na cratera de um vulcão.
Foi frequentada pela corte portuguesa,
a concentração de enxofre de suas águas é tal.
A população flutuante é x e no inverno x+y.
A altitude do pico mais alto é de tantos metros
e o volume d'água de cada uma das cachoeiras
é comparável a uma quantidade enorme de caixas d'água por aí a fora.

Nada disso define uma cidade.
Isso é conversinha de guia feita pra você esquecer daí a meia hora.

O cotidiano de cada grupo e a rotina de cada pessoa é que explicam um lugar.

Levantar-se, dar café pra família,
encarar o dia de trabalho, ir e vir da empresa,
sentar-se à noite e  jantar, o que assiste na televisão,
que comentários faz, o que ocupa seu tempo,
sua atenção, suas finanças, seus olhos e ouvidos,
o que lhe arranca suspiros ou muxoxos..

A citações  de guerra costumam exibir as batalhas,
suas sequências e consequências.
Claro, são esses episódios os responsáveis pela vitória ou derrota do tal embate.

A impressão que se tem é que só fatos monumentais propõe a vida.

Ninguém se lembra da população comum
que continua envolvida nas suas tarefas vulgares,
dormindo à cada noite e acordando todas as manhãs
numa mesmidade beirando o tédio,
sem possibilidade de sair do apelo da vida,
que  os obriga a viver e continuar a despeito
do cenário, dos bombardeios, das fardas amassadas
mal cobrindo a empáfia dos invasores...

Nada não!
É que o moço da padaria veio entregar os víveres e eu não pude evitar estas considerações inúteis.

                                               até já!

Volta Bela!

Sinto falta de falar dos deuses.

Quando era menina me voltava sempre ao Monteiro Lobato e relia o Minotauro,
As Viagens da Dona Benta, A Chave do Tamanho.
Eram esses os meus favoritos.
Eu precisava confirmar que, o que eu tinha entendido, era aquilo mesmo.

Agora com o Blog tem sido a mesma coisa.
O que eu conto é o que eu entendi dos mitos e então eu preciso falar deles.
De cada um.
Repetir vez que outra; comentar diversos aspectos das suas existências;
reproduzir o olhar de algum mitógrafo,
comentar a interpretação de diferentes mitólogos...

Tenho sentido saudades destas conversas e sofro pela minha ausência do Panteão..

Vam' ver se a despeito do Zé eu volto a estabelecer uma rotina de escrita
Obrigada a quem escreveu, mesmo eu não dando as caras.

Esse é o outro lance de estar aqui:
"vanitas vanitatem" (mais ou menos  "a vã vaidade")
Claro que me sinto honrada pelos apelos(adoro uma aliteração)
dos "vorta, bela!" que recebi.

Encabulada, de olhos fitando as mãos, cedo às instâncias.

Parafraseando a Lucy do Charlie Brown  " A mitófila está".

                                        Até já!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

010.010

Tive dez mil e dez visitas!

Obrigada a todo mundo que gentilmente lê, que segue, faz comentários
e generosamente indica.

Sou a sexagenária mais orgulhosa dos blogs.

Não importa que sejamos especialistas em generalidades,
se tem o sexagenária apostrofando, viramos autoridade...

Cá entre nós acho que seria mais movimentado ser sexygenária...

Obrigada de novo. Volte sempre. Estamos às ordens.
                      
                                            até já!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um cacho

Naquela manhã, o sol dourou e corderrosou os céus de Nisa muito cedo,
despertando Dionisos,
que ainda estremunhado pelo frio da noite,  foi obrigado a se levantar.

As cabritas já se movimentavam fora da gruta
e ele não podia deixá-las pastando sem a atenção do seu olhar.

Ele caminhou, seguindo seu rebanho, por várias horas,
somente parando aqui e acolá para
beber de um ribeiro ligeirinho que serpenteava pela pradaria.

Era o filho muito amado de Zeus
Dionisos era um belo exemplar de deus,
que sentia enorme prazer em cumprir as funções corriqueiras,

cuidando de suas cabras,
colhendo o leite para o queijo generoso e macio,
cabeceando com as crias mais buliçosas,
cuidando para que nenhuma se encalacrasse
em qualquer greta no pasto,
ou se enredasse nalgum espinheiro.

Ria das brincadeiras que elas faziam entre si,
enternecia-se com os cuidados
que as mães ofereciam aos filhinhos,
identificava~se com os bodes grandes
e fogosos na época da cruza.

Aquela manhã quente no entanto estava esgotando seu entusiamo.

Quando o sol ia a pino as cabras buscaram sombras de árvores
depois de sorver longamente a água fresca do regato.

Dionisos aproveitou esse aquietamento e procurou um lugar,
ele também, para fugir da inclemência calorenta de Phebo,
que brilhava. absoluto.

Olhou à roda e numa elevação do campo, junto de algumas árvores,
Dionisos percebeu um convidativo caramanchão sombreando a relva verdejante.

Quando se aproximou viu que
sarmentos lançavam a vide a se espalhar nos olmos.*

Escolheu aquele recanto pra fazer a sesta.

Abaixou-se pra entrar no ensombrado nicho e aspirou um perfume delicioso
que não sabia de onde vinha, que desejava tivesse substância pra que ele pudesse tocar e ver

O que cheirava daquele jeito devia ter maravilhosa forma,
consistência agradável,
cor deslumbrante,
textura de sonho...

Dionisos olhou, vasculhou o solo com o pé,
arrepanhou as folhas irregulares que pendiam dos ramos,
examinou as garrinhas em espiral que se enroscavam
nos troncos dos olmos e na encosta da colina.

Não achou nada que explicasse o aroma
e na frescura da folhagem  que o protegia
ele se deitou na relva.

Dionisos estava molinho e quase adormecido quando Phebo enviou-lhe
raios que se filtraram na ramagem
e foi aí que ele viu, brilhando, rosado, lindo e suculento,
um cacho enorme de uvas...

Ele era bem jovenzinho,
na fase das descobertas, quando a beleza compõe
a codificação dos valores.
Ficou deslumbrado com aquela visão

Ele ergueu o tronco e apoiado-se sobre o cotovelo,
estendeu o outro braço; envolvendo com a mão aquela
maravilhosa  pirâmide rósea iluminada pelo bruxuleio da luz
filtrada pelas ramas.

Calculou mal a força que devia fazer pra arrancar do caule
o cacho de cheirosos, suaves bagos suculentos.
As uvas se romperam e o sumo lhe escorreu pelo lindo braço forte.
Ele sorveu aquele suco, que lhe soube divino.

Dionisos acabava de inventar o vinho...

* Eu usei uma frase de um poema que conta a lenda de Filomela,
daquele maravilhoso tradutor adrede citado.

                                          Foi assim...                     até já!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Oh,oh,oh e uma garrafa de run

E veio o véio Zé de guerra...

Claro! Chegou às onze e pouco,
muito além do horário em que era esperado.

Apanhou as sacas de livros
e jogou no cangote cada uma delas.

Foi lampeirinho levar prá escolher, separar, entesourar.
Parecia mesmo um pirata e sua arca.

Ele adora roupas. Fica com todas. Usa todas.
Especialmente as que ficam bem largas.
E meias. Ele as prefere escuras e bem longas e usa com bermudas.

O que ele considera vendável ele leva prum sebo aqui perto.

Papéis, velhos cadernos e quejandos ele vende por peso,
pro sucateiro da esquina da rua Emboabas.

Quando o fígado dele não está tão curtido ele entra em parafuso.

Ele pede cachaça prá Célia, ele me pede doces
e nem a brama gelada dá conta de acalmá-lo.

Ele fala sozinho num monólogo cheio de exclamações e intenções,
enquanto carrega areia, cimento, livros ensacados, pedras...

Ele precisa fazer muita força.

É necessário muito cansaço pra suportar
seus desvairios, a solidão,
a faina, o destino e a abstenção...

É indispensável muita bravura pra aguentar-se sóbrio.

                            Até já!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

scuta Zé!

Hoje o Zé não veio. Ele faz assim.

Ele é o último bastião da liberdade num mundo institucionalizado.

Sempre lhe cabe a última palavra em acertos de horários a cumprir e que, mesmo depois de concordados.ele descumpre ao seu bel prazer, numa declaração de independencia que não admite retruque ou retoques.

"Oh! Zé? ce sabia que eu tinha cinco pilhas de livros pra tirar da passagem hoje!?"

Muito educadamente, ele reponde com voz de trovoada:
" É, mas eu não vou!"

"Oh Zé, mas nem pra retirar aqueles livros? Só pra gente poder caminhar por ali!"

" Não Sra, Dona, hoje eu não quero ir não! sexta-feira eu vou."
Olhando no fundo dos seus olhos com franca e obstinada decisão.

E você do alto dos seus muitos conhecimentos de comportamento humano,
(em grupo e no individual) sem entender nada,
não vê outra alternativa senão esperar pela sexta-feira

que permanece uma incógnita no quesito
 dará o Zé o ar da graça?

                                              até já!   (ou até sexta.)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Zé

Boemia aqui me tens de regresso!

Porque quem tem um Zé por perto tem sua energia minada
até a mais completa exaustão,
o blog largado às suas próprias penas, confirma o que eu digo.

A Fal testemunha, dia a dia, hora a hora, minhas exortações ao trabalho
dirigidas ao valoroso Zé.
Bondoso até o último fio de cabelo. Forte.
Obediente e gentil como só alunos primeiros da classe costumam ser
mas confuso; como ele é atrapalhado!

Ele precisa de uma organização específica:.
encosta tudo na parede, depois,
forma fileiras progressivas e afastadas. Como pinos de boliche...

Mas ele é forte!
Meninos, ele carrega uma saca de livros, cheia até a boca,
como quem leva um travesseiro de plumas...
e isso por uma quadra, das antigas, de ladeira íngreme.

Porque quem tem um Zé por perto, tem sua energia exaurida
até a mais completa extinção...

Não o Zé!
Ele não se desmancha nunca.
Ele não desmorona jamais...

Ele é uma alegoria deambulante do Brasil.

                                                                   Até já!

domingo, 11 de setembro de 2011

Preguiça

Considerada um dos vícios capitais, a preguiça é uma conduta a ser combatida.

Atitude é a disposição para determinado comportamento; conduta é levar uma disposição à prática.

A preguiça é vista como um traço negativo da personalidade;
maldição genética na herança do vivente.
Entre atenienses, espartanos, gregos, troianos
e romanos, godos, visigodos, ostrogodos e outros godos,
a atividade produtiva fazia parte do código de boa conduta.

Estar envolvido em ações práticas ou contemplativas era inerente ao fato de estar vivo.

Na idade média o dolce far niente,
é proposto aos bem nascidos como direito inalienável da aristocracia.

O sujeito que nasce duque,marquês, conde, visconde...
não deve trabalhar sob pena de ficar mal visto,
tanto pelos seus pares quanto pelos súditos.

Essa é a atitude geral e a conduta particular, até os primordios do século vinte.
Ser nobre é ser desocupado.

São Tomás de Aquino considera a preguiça uma virtude,
para ele, ser capaz de ficar sem fazer nada
é também uma forma de honrar a Deus.

Hoje eu seria a mais virtuosa das damas da paróquia de São Tomás.

                                                Até já...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Billy Eliot

Eu posso rever Billy Eliot infinitas vezes.
Não importa que eu já tenha visto o filme naquele mesmo dia,
eu assisto de novo e sempre descubro um novo gesto,
uma tomada de câmara, uma frase... 

Sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, que não pode ser,
um filme tolinho, quase infantil, tão romântico...
É, mas tem a tal greve dos mineiros de carvão.

Tomar a terra, moldar, fazer da argila um objeto com função cotidiana...
Ser a Terra,  gerar na terra,  materializar, dar forma, formatar na deusa,
faz-nos pensar que os oleiros comunicavam-se com o divino
nos primórdios da fundação da humanidade.

Os oleiros tinham familiaridade com a Terra, a Géia, a Gaia, a Rhea:
a mesma intimidade que os mineiros demonstram
ao tirar das entranhas da deusa, o minério,
que será formado para aumentar
suas forças: o martelo;
seu alcance: a lança;
sua proteção: o escudo...

Dá ao mineiro,
em seguida ao ferreiro,
mais tarde aos alquimistas
depois aos químicos
e hoje aos bioquímicos,
o encantamento e a divindade que possuem os heróis.

O trabalho dos mineiros, em quase todas as culturas, exige o envolvimento do sagrado.

Um gesto ritual no momento de descer às profundezas,
um culto protetor quando da abertura e aprofundamento da mina.

Estar sob a superfície, meter-se sob a terra,
arrancar dela seus tesouros,
torna seu explorador divinizado e profano (profanador)
 
Eram suas armas que traziam as vitórias nas guerras,
eram eles os conhecedores dos mistérios
que transformavam as benesses da terra em vantagens,
em superioridade contra o inimigo.
O bronze em escudo e lança.
O meteorito em machado e martelo.

A tribo dava um jeito de conservá-lo num isolamento seguro:
os ferrreiros eram presos,
tornados coxos para não fugir
encadeados nas correntes que forjavam,
vigiados, destinados aos deuses,
tornados mudos para não revelar seus segredos...

Billy Elliot  é resgatado do submundo e alçado aos céus em forma de cisne.

Essa é uma saga que pode ser experimentada
por uma porção de gente, nos dias atuais,
que explica a atração fútil e imediata que as pessoas tem pelos famosos...

Abandonar o submundo e alçar voo acima do comum dos mortais.
Essa é uma das consequências do sucesso.

No trajeto corre-se o risco de ficar manco,
mudo, vergar sob o teto baixo das galerias

mas se não for pelo valor do ferreiro,
pela transformação do minério
e pela importância do artefato, 
o ferreiro ficará de mãos vazias e inútilmente enredado nos elos que forjou.
                       
                                      foi assim....               até já!

     

domingo, 21 de agosto de 2011

Aliki

Eu vi a cantora violonista no youtube, está lindo !
Só dependo de você pra traduzir e eu botar aqui no blog,
é prá quem acessar o enderêço compreender o que diz 
a moça bonita que canta Safo..
Cá entre nós, aquilo é grego pra mim....

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Safismo

Safo, de Lesbos, que talvez os mais jovens não saibam,
deu origem à palavra lésbica e seu conceito;
foi uma grega danada de valente.

Ela se mandou da casa senhorial,
numa época em que as gregas faziam parte das propriedades,
estando sujeitas ás decisões dos seus déspotas,
os donos dos oikos, os quais, amparados pela lei
tinham o direito de vida e morte sobre todos os seres sob seu teto,
mesmo se estivessem a céu aberto
.
Ela vai morar na tal ilha de Lesbos.
Um punhado de mulheres
que também estavam zangadas com o tratamento indigno que recebiam,
a exemplo do que fizera Safo, fogem prá Lesbos
e encontram alí abrigo seguro contra seus algozes.

O meu é um olhar romântico, não posso evitar, mas a história é clássica
Alguns autores mostram que aquelas mulheres na ilha
não  tinham necessariamente inclinação homoerótica,
nem teriam ido parar lá por esse motivo, como se fez acreditar posteriormente.

Bom, um punhado de mulheres emancipadas, tocando uma vida autosustentável,
devia causar um certo rebuliço mesmo.
Era melhor acreditar que essa atitude escondia algum mistério;
até porque como poderia uma poetisa rica e mimada,
administrar uma ilha com sucesso?

A verdade é que  as mulheres de Lesbos, as mulheres da Safo,
deram pano pra manga tendo sua saga misturada à lenda das Amazonas,
as tais guerreiras implacáveis, que carregavam o albornoz
com a correia frontal escondendo o seio esquerdo,
o que gerou a ilusão de que elas cortavam essa mama
para ficarem mais livres nas batalhas.

Contei tudo isso  porque me lembrei do Alceu,
aquele apaixonado pela Safo, que escreveu um
hai-kai grego:

"Cuidado amigo,
debaixo de cada pedra
esconde-se um escorpião"

Não é genial? como é que isso não virou adágio popular?

ainda, da tradução primorosa que me escapa o domínio.

                                                foi assim...             até já! 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A quem interessar possa III

A bela tradução de Safo e Alceu eu não sei a quem atribuir.
Eu trago esses versos na memória desde a adolescência
Emprestei o livro muitos anos atrás ( isso eu sei, foi em 1969)
e claro é esse o jeito mais fácil de perder qualquer coisa.
Quem souber por favor diga-me pra eu fazer justiça
com minhas proprias mãos no computador.

                                                        até já!

Poetas

A Safo, já morando em Lesbos, tinha um fã, também poeta; Alceu.
Nas suas canhestras tentativas para conquistar Safo,
ele enviou a ela uma sazonada maçã  com um verso;

"Toma essa maçã e nota como é efêmera a beleza"

Resposa de Safo a Alceu:

"Se quisesses tão só o bom e o belo,
se em tua boca más palavras não tramasses,
não haveria essa amargura no que dizes
e poderias exprimir-te francamente."

                                foi assim...                  Até já!

Hefesto

Hefesto, aquele que brilha de dia.

Tem toda a minha simpatia, o Hefesto. Os adictos sempre têm
Qualquer que seja a adição, qualquer cigarro, drinque,  pico ou comprimidos, chocolate ou ginástica
e qualquer grande amor.
Hefesto era totalmente apaixonado pela Afrodite dos gregos,
Venus lá dos Romanos
Ela a mais bonita das deusas, ele o mais feio dos deuses.
Claro que se casaram.

Como se sabe, os ferreiros eram mancos, tinham cicatrizes muito feias,
ou lhes faltavam dedos e outras partes do  corpo como a orelha, um olho...
se nós temos marcas de batalha por picar cebola e estrelar ovos,
imagine no fogaréu de uma forja e no malhar da bigorna como é que ficaríamos?

Não é só isso.
Frequentemente o ferreiro tinha marcas
da sua dedicação á causa da guerra por ter lutado
e não somente pelos acidentes sofridos na oficina obscura de seu povoado.

Os ferreiros, não raras vezes, haviam sido bravos guerreiros.
Tivessem sido fracotes não teriam perdido só um pedaço de si mesmos...
Seus ferimentos os tornavam incapacitados para o serviço militar
mas não para a vida civil,
como rezam as dispensas do exército até hoje.

Por sua intimidade com os campos de batalha,
com a luta aguerrida no enfrentamento corpo a corpo,
sabiam das necessidades dos soldados
tanto no ataque quanto na defesa.

Eram portanto mais competentes para desenvolver e fabricar
o arsenal bélico apropriado e resistenste, melhor do que qualquer outro,
o que era uma baita vantagem contra os oponentes.

Assim os deuses ferreiros da maioria das mitologias são coxos e feios,
escandalosamente fortes porém sensíveis.
É preciso sensibilidade para cuidar do semelhante, oferecendo a ele os meios de obter sucesso.

Um sucesso que angariava a boa vontade dos chefes tribais
e das casadoiras de plantão
e que ele, ferreiro, não mais obteria.

Excetuando Thor, é claro !

Só pra ter pé na situação;
veja quantas personagens se nos apresentam
e nos cercam por toda a vida
e que carregam esse mesmo jeitão do arquétípo que comove... 

A Fera da Bela, o Quasímodo da Notre Dame, o Cirano de Bergérac,
todos os órfãos das narrativas inglesas dos 1800,
o dono da Escrava Isaura, o médico da Inocencia, os palhaços, os piratas, os vampiros
e os cafajestes (e as piriguetes) com quem nos deparamos na nossa caminhada
e aos quais mais à miúde do que deveríamos, entregamos nosso coração,
e acreditando em sua conversa, carregamos sua bandeira.

A exemplo do que foi feito nos Heróis,
tentemos encaixar nesses paradigmas alguns circunstantes.
Assim nos damos conta de que
o pecado original não mora ao lado, nasceu mesmo conosco.

Seu outro nome é " que grande engano!"
a pessoa não era o ferreiro, mas nós já nos ferramos...


                                            foi assim...                até já !

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mnemosine

À deusa Mnemosine, mãe das nove Musas, é atribuida a proteção da memória.  Ela era uma das filhas de Cronos e Réia e seus irmãos eram Zeus, Hades e Posídon, Démeter, Hefesto... um time de primeira linha.

Numa passagem linda, no "Adriano", Marguerite Yourcemar conta que, num papinho entre Sócrates e um jovem poeta recém egresso das Dionisíacas, o poeta narra sobre as festividades e como foram as tragédias e quem ganhou o Tragos... fofocas de praxe, como as do Oscar.

Instado por Sócrates a declamar o poema vencedor, o ascecla diz ser incapaz disso mas que o que transcorrera naqueles dias para a glória de Dionisos, Sócrates poderia ler em algum tempo mais prá diante.
O lente horrorizado pergunta  "Se escreverem o conhecimento (o logos), não haverá mais necessidade da memória.  Como se honrará Mnemosine?"

Ou seja, a forma de homenagear a deusa mãe das artes era recordar-se.
Simples assim : ao se lembrar você cai nas graças de Mnemosine.

Os gregos levavam tão a sério a recordação, que quando o Hades  ainda era só o submundo isolado pelo Estige, onde Caronte remava garantindo a entrada desde que pagassem, e Cérbero vigiava com suas tres cabeças, latindo e uivando e cravando os dentes nos incautos que tentavam sair dali, antes de haver o conceito de Campos Elíseos, o Hades era o lugar no qual seus habitantes de nada se lembravam,
o lugar dos sem memória.
O inferno é se esquecer... 

Dizem que os poetas apresentavam suas obras de cor e não satisfeitos com essa assombrosa competência, saiam das festas tendo na lembrança  todas as odes representadas durante os três ou  quatro dias de festejo.
Na antiguidade helênica as pessoas tinham muitos gigabytes.

Pobre do Homero que não tinha post-its, não lançava mão de lembretes pra todo lado.
Com tais recursos fica fácil contar a Odisséia e descrever os mitos e suas peripécias.

.                                          foi assim...                até já !

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tia Gisella

Ela era baixinha, espigadinha, elegante e muito severa.
Tinha estudado em Oxford, numa época em que mulheres nem eram alfabetizadas.

Não me lembro dela vestida de outra cor senão de marinho
com gola e punhos brancos.Eventualmente  creme.
De raro em raro um traje cinza que uma vez
ela completou com uma écharpe amarelo gema. Que lindo que estava!

Lindas bolsas, sapatos e foulards. Nada de jóias.Sempre de luvas.

Ela contava das festas que frequentara logo depois da primeirona (guerra)
e que numas férias de verão, em Portugal, tinha conhecido seu marido.
Um português bonitíssimo, boníssimo e alegre e chic.

Quando se casaram foram viver em Paris, claro!
Ele se juntou aos maguis na segundona.
Ela nunca deixou qualquer brecha pra perguntas sobre a morte dele.
Não tiveram filhos.

Muito católica que era, viúva, tornou-se franciscana de terceira ordem.
Quando as Franciscanas Missionárias de Maria vieram pro Brasil,
ela que dominava o idioma, veio também.

Eu a conhecí já dando aulas de piano e de ballet no Instituto Santa Amália,onde estudei.
Tinha o sotaque mais arrevezado que se podia imaginar.

Quando ficávamos no colégio pra algum retiro ou cursilho,
lá pras cinco da tarde ou depois do jantar, íamos todas pra biblioteca, seu domínio.
Sentávamos à volta da mesa grande muito curiosinhas.
Ela nos embalava com suas histórias de melindrosa européia,
descrevia as festas que frequentara,
com que vestidos, chapéus e jóias se exibira,
a decoração dos salões e as garden party,
quem estava presente e o que a orquestra tocara.
Eu experimentava um certo mistério naquelas narrativas.
Era como uma transgressão conhecer as memórias daquela mulher formal e prática.

Depois ela ia pro piano, contrariando a norma de então,
que era, só nos apresentarem os eruditos,
tocava algo popular e nos ensinava as harmonias, a mão esquerda, pra tirarmos a música em casa.
Os pedidos que fazíamos eram Feuilles Mortes, La Vie en Rose, Un Jour Tu  Verras, La Mère,
ela dedilhava num jeito à Liberace.Cantávamos no nosso francês de horrível sotaque
juntando versos que conhecíamos em inglês.

Quando a infância já nos ia abandonando, na mesma longa mesa da biblioteca,
com a mesma arrumação dos móveis,
a mesma luz entrando pelos janelões, ela nos serviu  chá com genebra.
Descobrimos que a nossa sábia, glamurosa, sofisticada mestra, bebia às escondidas...

Anos depois, já adultas, formadas, trabalhando, casadas,
íamos vê-la a cada primeiro dia de primavera, seu aniversário.
Na hora do chá ganhávamos da Tia Gisella, na nossa xícara 
exatamente como fazia prá si mesma, um pingo de leite
e uma colher de chá, medidinha, de gin.

                                                     até já !

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vai lá !

Quer ver que bonito? entre no   www.carnet-de-voyage-rs.blogspot.com

Vigia dos livros

Praticamente terminei a primeira triagem.
Decidi manter Pessoa, Alphonsus Guimarães, Camões, Fitzgerald claro! João Cabral, Paulo M. Campos,
Oh, vida! estou cometendo tantas injustiças com os demais... Mas inda pretendo conservar Bataille, L. Carrol,
Joyce, Barthes, Faulkner, Stein, Steinb....

domingo, 31 de julho de 2011

montanhas

Claro que como toda mocinha da minha idade
depois de assistir à Noviça Rebelde eu dançava no quarto,
braços abertos girando e sorrindo alegre,
completamente possuida pelo espírito da freirinha preceptora.

Havia algo no filme que eu queria tomar pra mim: a montanha.

Crescí ouvindo descrições de passeios na montanha pela nonna Terezza e pela avó Bertha.
Era num tempo em que as paisagens faziam parte do cotidiano, dos sonhos, dos medos, das festas...

Nonna Terezza contava dos piqueniques feitos na encosta  da montanha.

Quando os italianos ainda podiam se valer do que produziam,
no outono, ao se haver sazonado a frutificação,
as mulheres da família e vizinhas, reuníam-se pra fazer conservas e compotas, moer grãos,
os homens providenciavam o fumeiro e preparavam-se as carnes a serem defumadas.

Arranjavam então um farnel com coisas das que haviam aprovisionado pra aguentar o inverno
e na encosta da montanha providenciavam um ballo.
Claro que levavam seus instrumentos musicais  e no local escolhido,
que devia oferecer uma bela vista, sentavam-se  sobre mantas dobradas
e apoiavam cachos generosos de uvas verdes e rosadas em varinhas finas
que se estendiam para além da largura de regatinhos que corriam  montanha abaixo,
formados pela neve ainda não firme


Durante o tempo em que as pessoas manducavam a refeição de presunto e panccetta defumados
queijo de cabra,  pão regado a azeite e basilicato seco, tudo caseiro, claro que regado a vinho da casa,
e ainda enquanto cantavam e dançavam festejando a  generosidade da terra e pela simples alegria de viver;
permaneciam ali os bagos enfeixados nos cones tão bonitos,
megulhados na água barulhenta,
que se agitava ligeira morro abaixo, refrescando e lavando as frutinhas.

Daí  recolhiam-se as uvas polpudas e muito geladas
que eram trincadas com com os pré molares
e alguns gritinhos porque doía morder.
 -Então porque faziam, nonna?
 -No lo so.
Um suspiro, um muchocho, uma olhada fixa em mim...e a conclusão:
 -L'amore c'e lo´ stesso ...Machuca un po' quello lá tamem...


Oma Bertha contava que no início da primavera subiam a montanha,

bandos de moços e moças, portando as roupas de lã verde,
coletes e meias 3/4, muito coloridos, capotinhos curtos de camurça,
provisões e cobertores nas mochilas.
Subiam parando num que outro ponto pra espiar Innsbruck pequenininha lá embaixo.

Alguns levavam flautas ou rabecas,  sanfonas ou clarinetas...
Acampavam na montanha por uns dias, colhiam edelweiss,
que ela ainda conservava, secas,  numa caixinha de porcelana sobre a penteadeira e me mostrava às vezes.
À noite eles cantavam, dançavam e se protegiam do frio do monte e do resto do inverno,
valendo-se de fogueiras e do calor dos corpos uns dos outros.
Dormiam muito juntinhos.

Daí com uma risada bem malandra ela completava:
 - Qguado o  xente decía tinha porrçon do moços do bochecho bem verrmelho.
(eram moços e moças muito encabulados)
Entón qguando xegaffa verron tinha porrçoon de casamentos
e cegonias fassendo ninho ne chaminé de porrçoon dos casa lá...

Quer saber? eu adoro me lembrar das coisas que as "minhas" mulheres me contavam...

                                                              então inté jacaré...

Livre dos livros?

Nesta semana estou vivendo algo inusitado:  fazer seleção dos meus livros com a decisão firmada em minha mente de ficar só com os de trabalho, os da Doris Lessing, do Ítalo Calvino,  do Fitsgerald e do Neil Gaiman  e Proust.

Queixo-me pra Fal e Pedrão que me explicam que consulta a gente faz pela internet sobre qualquer assunto que desejar,  que é preciso abrir espaço pra leituras novas e eu sei que não tenho mais um escritório com largueza necessária pra consevação do saber.

Eu tambem sei que não temos mais empregados que mantenham tudo sem pó, arejado e com as estantes polidas de lustra-móveis de cheiro tão bom e familiar...
Mesmo assim é completamente esquizofrenizante: há uma voz em mim que informa que eu devo e outra que me acusa de ser iconoclasta.

                                             então inté jacaré...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

códigos

O velho e bom pai Freud, sacou que havia
um ego; que lida com as questões de ordem prática;
um superego;  que dá conta das questões morais,
e um id; que dá vasa ao desejo.

O ego e superego tem que frear e refrear o id, o qual exige satisfação constante.
Quando o id se manifesta, ele quer ser atendido imediatamente
sem considerações sobre horário, geografia, pertinência,
olhares de estranheza, tempo de validade...

Ou seja, o id não está nem aí.
Ele é cego, surdo e mudo, sem olfato e nenhum tato. Ele é só desejo.

Daí, que é o ego quem pesa os prós e contras, auxiliado de perto pelo superego que mostra o valor moral do ato, pra que a pessoa aja.

O superego é construido quando aprendemos que certas ações farão bem ou mal pros nossos semelhantes ou pra outras espécies.
O ego vai se organizando quando atentamos que certas atuações não nos deixam confortaveis por oferecer risco ou dificuldade à nossa organização e instalação no mundo
(Isso inclui saber gramática, matemática, pregar botões, plantar e cozinhar feijão....
não me lembro quanto importa, vergar etiquetas no ponto mais exibido da vestimenta)

Asimov nos "Robôs" cria um código de conduta pras suas criaturas positrônicas, o que provoca nelas dilemas éticos.

Como é que eu vejo tantos pais, que não oferecem os meios necessários pros filhos se tornarem humanos, não permitindo  desenvolvimento de cada instância das suas personalidades?
Há pais que odeiam tanto suas crias?

                                                           então inté jacaré...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Descoberta.

Acostumada que estava aos filmes com começo, meio e fim açucarados de Hollywood,
cabulei aula uma tarde pra pegar um cineminha.
Fui ao Bijou, um cinema de São Paulo que fugia do circuito comercial 
e mostrava o que era menos corriqueiro.

E foi ali que descobri Ingmar Bergman.
Saí do cinema sem conseguir organizar o que vira.
As cenas tinham todas peso semelhante.
Tudo era denso, intenso, explícito mas cheio de significados.
Tudo era tão igual ao cotidiano e tão próximo do irreal.
As coisas que eu via poderiam ser de todo mundo.
Eram precisas mas sem contornos identificatórios.

Daí encontrei Pasolini, Antonioni, Visconti com suas alcovas azuis e o cinema francês e tcheco.
Ainda houve o teatro de Arena e Guarnieri, Arrabal e Dario Fo, Zé Mauro de Vasconcelos, Bob Dilan, Beatles, Chico, Juca Chaves, Rosinha de Valença, Jobin, Sidney Miller, Aldir Blanc, Arrigo, Caetano, Donovan, Elis, Jobin, Caymi, Cartola, Carrilho, Capinã, os Sousa Lima, os Carrasqueiras,
Oiticica Parangolés e Clark e o movimento do Embú
e inda deu tempo prá Renata Tebaldi, Pixinga, Canhoto, Jacó do Bandolim, Billy Blanco, Paulo Mendes Campos, João Cabral, Drumond... 
A Cigarra, O Cruzeiro,  Manchete, Realidade O Pasquim, Senhor...

Vi dançar Maria Pia, Ansaldi, Haydée e Rudy Nureyev
e alcancei  Ana Botafogo, Lobão, Premeditando o Breque, Lulú Santos, Calcanhoto...
Ora! não dá prá citar todo mundo.

Sempre que penso nos anos da minha formação (excluindo a ditadura) eu me sinto privilegiada.

Pertenço à primeira geração de ingresso democrático à universidade.
Filhos da classe média e pobre disputando lugar nos bancos acadêmicos
ombro a ombro com alunos aristocratas, ricos, riquíssimos e milionários.
Mulhers já não sendo avis rara na esfera dos pensares.
Tive um mundo à minha volta que sacava que o conhecimento não trazia a felicidade
mas permitia entender a infelicidade.
Era um tempo em que ter era menos importante do que ser,
e sentir, e copreender, compreender-se, e cooperar.

Ainda havia reuniões "open house",
As pessoas convidavam para entrar. Hoje só convidam pra tuitar.

Sou contemporânea de grandes pensadores nas artes, filosofia, ciências,
testemunhei avanços tecnológicos.Vi Brasília nos primórdios.

Desfrutei da  formalidade dos "50".

Finquei pensares libertários nos "60",

Acreditei poder fazer a diferença nos "70''

Tive a minha casa no campo nos "80"

Entrei na onda das comunicações dos "90'.

Vivo devido ao progresso biológico dos "2000".

E carrego em mim a paranóia pós moderna...

Eu pensava que só poderiam se vangloriar da sua época os afortunados dos anos 20 e 30!

                                          então inté jacaré...

domingo, 24 de julho de 2011

Cancan a Festa./ Orphée aux Enfers

Então nasce Offenbach, quer dizer ele nasceu Jacob Ebert, em Colônia, Alemanha, aos vinte de junho de 1819.
Seu pai era um cantor de sinagoga que dá a iniciação musical ao filho.
Reconhecida sua inclinação para a música, mandam-no para Paris para receber aulas de grandes mestres.

Lá ele estuda pra valer, muda seu nome de Jacob para Jacques, justapõe o nome da cidade de orígem de seu pai tornando-se Jaques Offenbach e em um ano já esta incorporando os quadros do Comédie Française.

Mais um compositor que vai contar a tragédia de Orfeu e Eurídice que fez tantos admiradores,
em todos os tempos.
Se esse mito fosse um blog seria campeão de visitas.

Estamos em franco segundo Império, com Napoleão III no franco trono, já decadente devemos combinar.

O maestro Offenbach se põe a escrever Orfeu no Inferno.
Sua primeira ópera.

Pensem que era o romantismo que singrava os mares dos pensares parisienses nesse momento...
obviamente Offenbach estava tomado por esse zeitgeist e
ao contrário dos seus antecessores que tinham se voltado para os clássicos e mostravam os mitos em ingênuas pastorais.

Offenbach faz uma ópera bufa na qual trabalha árduamente cuidando da música com rigor,
contando com o concurso dos libretistas Crémieux e Halévy, que caçoam do mito original
cometendo ousadias impensáveis na narrativa e sendo transgressores ao misturar os deuses
e adulterar situações.

O que foi imperdoável  para os conservadores de 1858.
Depois da exibição seguiram-se críticas ferozes.
Offenbach responde com tal argúcia que reverte os sermões detratores, a seu favor.

Cancan

Uma bailarina francesa cria uma dança que é chamada de 'quadrilha', que deve ser apresentada por moças, todas elas com um metro e setenta de altura, propõe uma gestualidade e meneios novos, e sincronia de movimentos (inspirando Ziegfeld Follies já no século vinte).

Um ano depois a quadrilha é transformada na Inglaterra e o coreógrafo bota o nome de cancan porque assim soavam os passos no tablado de madeira.
Além de conservar os elementos da quadrilha francesa, o cancan  exige mais malabarismos, mais saltos, as pernas remetidas mais pro alto, mais remexer dos quadris e passos lascivos além do guarda roupa sugestivo, cheio de babados laços e frufrus e as ligas, que prendiam as meias, exibidas a cada alçar das saias.

Na Inglaterra a dança é rejeitada por ser considerada indecente, já na França faz um sucesso retumbante e é adotada por todas as casas noturnas que apresentam números musicais.
O cancan desde o seu surgimento é sinônimo de Paris.
É o cancan que faz o baile dos deuses e ninfas transmitir uma alegria irreverente que o peso de tragédia impediria.

Orphée aux Enfers
Nesta versão, o casamento do Orfeu e Eurídice não vai nada bem,
cada um deles tem seus romances extra matrimoniais,
eles não suportam as idiossincrasias um do outro
e assim Eurídice foge para o submundo com o Plutão - o nome romano do Hades.

Porque o Zeus tem que manter as aparências de moralidade impoluta,  prá não ser acusado de conivente,
faz Orfeu sair no resgate de sua mulher, o que gera um festim dos infernos. Literalmente

A ópera vem pro Brasil e é apresentada por francesinhas no Alcazar,
nos moldes do Moulin Rouge  fazendo um auê barulhento,
não só porque os tupiniquins gostam de tudo que fala estrangeiro, embora não entendam nada,
nem conheçam o mito pra facilitar a compreensão da ironia 
mas também porque a música do Offenbach é mesmo maravilhosa.

Então um humorista brasileiro, o Rei do Riso, Francico Correa Vasques,
faz uma adaptação  e em 1868,  Orfeu na Roça  pra consumo interno,
em português, mantendo a mesma caçoada dos libretistas franceses,
é levada ao palco fazendo uma carreira brilhante de quatrocentas apresentações.
  
Assim é que há mitos que dão samba e cancan.

                                               então inté jacaré...

sábado, 23 de julho de 2011

Cancan o Mito

Cirene era uma belíssima ninfa.Claro que Apolo raptou a moça que gostava mesmo era de caçar.

Cirene teve da união com Apolo; Aristeu que foi amadrinhado pelas ninfas-murtas, sabidíssimas, que ensinaram a ele a coalhar o leite pra fazer queijo, cultivar  oliveiras e extrair o azeite, cuidar das abelhas e recolher o mel.
Os produtos que ele obtinha nas diferentes atividades, eram saborosos pra valer e ele fica bem importante por causa disso.

Um dia Aristeu viu, caminhando sozinha, Eurídice, que era uma beleza, decide que a quer para si e perseguiu a moça que fugiu numa corrida desabalada, pulando raízes, topando em pedras, escorregando no musgo afundando na lama, esfolando-se nas árvores, arranhando-se nos espinheiros e pisando numa cobra, que pica seu calcanhar.
Ela morreu por conta desse ferimento.

Hermes, o deus psicopompo, encarregou-se de levá-la para o Hades. O inferno lá deles.

Eurídice era noiva de Orfeu, completamente apaixonado por ela. Ele era  um músico irretocável, comparado a Apolo em musicalidade.
Ele compunha, tocava e cantava de amansar feras, enternecer desalmados, melhorar tudo com sua arte.

Numa profunda melancolia, pela morte do seu amor, Orfeu não saiu do luto, não tocou nem cantou mais e a terra ficou muito triste sem suas cantigas.
Os homens entraram no clima depressivo e os deuses chateados conversaram com  Zeus que concedeu a Orfeu ir buscar sua amada no submundo.

Em lá chegando Orfeu argumenta, pede,  implora,  humilha-se,
beija os coturnos do Hades que não está nem aí.

Perséfone, a mulher do Hades, boasinha, intercedeu  junto ao marido e este fez um trato com Orfeu: ofereceu-lhe um tempo bem exíguo pra ele sair dali com Eurídice mas ele não poderia olhar para trás sob nenhuma circunstância.

Lá ia Orfeu apressado abrindo caminho e confiando que Eurídice conseguiria seguí-lo.
Já via um facho de luz da superfície, quase lá, ele quis se certificar que sua querida estaria no seu encalço.
Ele olhou para trás e Eurídice foi tranformada numa estátua.

Essa tragédia deu samba, óperas várias e o cancan.


                                                                 foi assim!                então inté jacaré...

Típico

Carl Jung nasceu pouco depois da primeira metade do século dezenove na Suiça,
foi aluno dileto e dissidente do velho e bom pai Freud.

Uma razão da cizânia deles foi porque o Jung sacou que os viventes tem um inconsciente coletivo.

Ele afirma que carregamos uma memória ancestral, que tal qual a memoria de uso diário,
emerge quando algo atinge nossos órgãos do sentido;
um som , um cheiro, um gesto, um toque,  o sabor ou textura de uma comida ,  um brilho contra a vidraça, uma gargalhada...

Qualquer coisa pode abrir um postigo na nossa mente e nos remete a uma situação anterior,. assim é o inconsciente individual,  já o inconsciente coletivo oferece-nos uma cena calada na alma
de toda a humanidade desde os primórdios, até voltarmos ao topo das árvores catando insetos.

Deixa-nos ver uma nesga da nossa alma que se formou ao longo do percurso evolutivo.
São situações jamais vividas por nós mas que algum antepassado nosso encarou pro bem ou pro mal, que foi recorrente e provavelmente comum a todos os grupamentos humanos na luta pela sobrevivência.

Pro olhar do Jung, a par da nossa herança genética, carregamos uma herança sensível, moral, que determina nossa organização no mundo e do mundo.
O  inconsciente coletivo faz parte da  composição do nosso incosciente pessoal

O conhecimento da genética que vimos tendo, permite que o rastreamento do DNA, de todos nós, chegue até a  nossa fundação mais básica.

Os geneticistas que se ocupam dessa tarefa, tem encontrado os mais diversos genes em biotipos extremamente específicos.
Quer dizer, louros com ancestrais negros, ruivos com mouros, negros com chineses e por aí vai. 
Isso significa que partilhamos dos mesmos antecedentes, não importando a naturalidade a nacionalidade, a cor da pele, do cabelo, dos olhos...
e a organização da cadeia genética percebe uma memória biológica.

Acho que o Jung sabia das coisas e se assim for podemos aceitar que 
num passado remoto estávamos todos no Éden, colhendo maçãs com o casal  primata primordial.

"O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano, meu maestro soberano, foi Antonio Brasileiro".    Chico Buarque

                                                então inté jacaré..

domingo, 17 de julho de 2011

Amarrações

Pessoas  presas em árvores ou pedras, mastro de navios, proas, cruzes, caixas, exercem sobre nós atração irresistível.

Saber que alguem foi instalado numa submissão paralisante e conseguiu se safar, empresta-nos uma esperança muito saborosa, a de que conseguiremos ser Houdinis, conseguiremos quebrar as correntes, romper os grilhões, desatar os nós.

No entanto parece que estar amarrado a qualquer pilastra nos livra da tentação, do mergulho no desejo, na incompetencia de conter, de controlar.

Lá na infancia, quando ansiamos por liberdade, tememos ser deixados livres por imaginarmos abandono,  o que nos conforta mesmo é pertencer: a uma família, a um clube, a um bairro,  país, grupo...

Quando um time ganha o jogo seus torcedores afirmam "ganhamos".
A torcida não jogou, não defendeu, não liderou mas a vitória é considerada pessoal porque torcer para um time faz pertencer.

O banimento é a alternativa à pena de morte.Ser deixado ao deus dará ser abandonado pelos pares, ser esquecido, é um castigo, talvez, pior que a morte.O confinamento, morar nas casas de detenção, ser convicto, é a forma moderna de banimento e todas se referem à paralisia, a impotência decisória, à impossibilidade de ir e vir, entre nós a expressão corriqueira é "ser preso".

Há vezes em que nos deparamos com nosso lado mais feio:
a ansia de morte, a covardia abjeta, a inveja destrutiva,
desespero paralizante, ou qualquer desses atributos dos quais
ninguem pode se furtar mas que na maior parte do tempo, 
não se exerce, consegue-se controlar só a duras amarras,
senão nós deparamos com uma figura vergonhosa de nós mesmos.

As virtudes consideradas básicas necessárias
em quase todas as religiões são contrapostas aos defeitos
que atualmente batizamos de neuroses.

Gastar de mais, colecionar qualquer coisa,
sentir~se superior ou inferior aos semelhantes,
transar demais ou de menos,

surrupiar coisas, mentir por ofício de fé na mentira, enganar,
comer de menos (comida ou pessoas), comer de mais (comida ou pessoas),

matar (pessoas ou obrigações),
amar demais, ser incapaz de amar;
tem seus correspondentes em praticamente
todas as religiões com o nome pecado.

Consideremos para fins didáticos que
prá cada sociedade a gravidade dos pecados  ou  defeitos
sofrem alterações sutis, ou retumbantes.

No código cristão de regras, o "Não Matarás ! " vem em...5º lugar?,
o pricípio budista da não violencia vem em primeiro e norteia todos os demais.

Não estou botando em jugamento,
acredito que pra cada código ser fundado

as razões históricas norteadas pela geografia,
topografia, submissão ao clima, solo,
densidade demográfica, organização social,

cuprimento ritual de deveres e tarefas,
ou seja as leis da sobrevivencia, quer dizer,
as questões biológicas e ... evolutivas
se impuseram sem permitir muita tergiversação.

Onde eu queria chegar é que antigamente (mas não muito)
as pessoas se consideravam amarradas
por terem que cumprir certo número de normas sob pena de banimento,

senão da aldeia, do grupo, do clube, da turma, do trabalho...
agora todos têm direito de exercer suas neuroses
e serão recompensados com pilulas
de felicidade, de tesão, de equilíbrio, 
ou serão subjugados pelo proprio temperamento.

Não se dão conta que tanto as neuroses quanto as pilulas são amarrações,
 só que ao manter sob rédeas curtas
os pecados (ou defeitos ou neuroses) 
é exercicio do próprio sujeito,ha escolha,
portanto ha liberdade.
quando quem domína é o defeito,
ou na sujeição às pilulas, não há auto controle,
o vivente está envolvido, preso, amarrado
e a não ser em casos extremos
( de algém botar em risco os inocentes e alheios circunstantes)
a liberdade de trangredir, pecar, conformar-se, negar...
é um poder  humano,

dos mais básicos, né não?

                                                   Até já!                       

Ishtar

Tem povos anteriores, organizados, com hierarquia de comando desenvolvida, divisão de poderes, religião com rituais estabelecidos, identidade cultural, unidade linguística, território demarcado... 
mas os Sumérios é que são considerados os donos da primeira civilização.

Além de todos esses parâmetros acima, civilização implica em duração longa, uma especificidade de caráter ideológico, ou filosofia norteadora da moral, que se espalha sobre quaisquer das suas manifestações culturais e que vai determinar transformações sobre todas as nações expostas a ela, inclusive muito além do tempo da existência do tal povo "civilizador".

(Foi isso aproximadamente, o que aprendi em história. Há priscas eras).
Tem uma coisa que acho que não é oficial e subjaz a essa reflexão que é: todos os demais povos são considerados bárbaros, menos civilizados. São fruto de genética inferior e "sem" cultura...

Pois bom, os Sumérios inventaram a escrita cuneiforme, lembram disso?  os estiletes com figuras triangulares na ponta, apertados contra o tijolo achatado de barro molinho, no qual faziam marcas de pesinhos de aves bem pequenas, como se elas tivessem ciscado pra todo lado.

Na religião Suméria havia a deusa Ishtar,
que era a padroeira do amor, do parto, da maternidade e que era a lua.
As sacerdotisas de Ishtar eram  simbolizadas pelas estrelas.

Hetaira é o nome de sacerdotisas que oferecem sexo em troca de dinheiro.
Os devotos de Ishtar transavam com as hetairas e pagavam por isso.
Havia lugar destinado aos encontros amorosos no próprio templo.

Não era prostituição mas o rito através do qual honravam Ishtar.
Era essa a forma de se conseguir os favores e a benção da deusa.

Outras deusas, em outras religiões antigas, tinham a mesma função e recebiam honrarias iguais.
As hetairas não tinham conluios sexuais fora do culto, pois eram consagradas e instruidas  nas artes do amor, somente para o exercício de sexo santificado.

Se esse culto sobrevivesse até a atualidade, creio que haveria quem pagasse altas propinas pra passar no vestibular de sacerdotisa e cavalheiros que estariam de joelhos calejados de tanto rezar...


 " A lua, tal qual a dona do bordel, pedia a cada estrela fria, um brilho de aluguel"   Aldir Blanc

                                                  foi assim!                então inté jacaré...


.

Ledo Engano/Eurínome

Nas mitologias primitivas a origem do mundo devia-se às deusas que pela partenogênese geravam seres reponsáveis pela organização da natureza, do tempo, da vida.

Todos os seres viventes, todos os inanimados, tinham em comum sua orígem: eram criações da deusa mãe, que daí sim , em cada cultura configurava um hierofania particular.

Pra algumas era a lua, a estrela vesper ou d'alva, a própria terra, o céu, um animal, a baubo mítica, uma gruta misteriosa, uma entidade imaginária, uma pedra ou montanha, rio, mar ou lago, árvore...

Melanie Klein constatou que crianças pequenas acreditam que o bem e o mal lhes vem dos seios da mãe.
Os povos primitivos ampliavam essa percepção para a Terra e aderredores.
Todo o bem e todo o mal: as mães e as erínias.
A felicidade suprema e o inverno da desesperança.

A capacidade de conceber, gerar, parir, alimentar e cuidar dos descendentes,
para o entendimento dos nossos ancestrais, tinha um caráter divino.

Aliás, mesmo hoje, com a habilidade de criar seres usando provetas, pipetas, congelamento, centrífuga, células e hormônios,
de acompanhar o desenvolvimento do bebê dia a dia pela janela da ultrassonografia,
a maternidade ainda é misteriosa.

As especulações éticas não acompanham na mesma rapidez, o conhecimento biológico.
Se nem a descriminilização do aborto foi resolvida,
como a criação de seres, especialmente nossos semelhantes,
pode ser abrigada tranquilamente na moral das sociedades?.

A proposta de que todas as espécies merecem um lugar ao sol (dependendo da espécie à sombra e água fresca) só começa a ter reconhecimento em poucas consciências e mesmo assim com quase nenhuma representatividade no mundo civilizado.

.A despeito de todo progresso ainda nos arrogamos reis da criação.

 Ledo engano. Gaia ciência.

                                        então inté jacaré...


Eurínome


Na mitologia pré helênica  Eurínome, a deusa de todas as coisas, emerge do Caos e vai dançando separando o céu e o mar .
Cada vez mais tomada pelo baile cria ventos e decide que eles são propícios
à geração de uma serpente com quem copula botando a seguir, o ovo universal.

Ela choca esse ovo sobre as ondas e a tal serpente se enrola nele sete vezes,
fazendo a primeira  incubadora,
a casca do ovo se rompe e dele saem filhinhos: o firmamento com todos os astros e planetas, a Terra com todos os seus acidentes geográficos e toda a vida de plantas e bichos.

Ela escolhe prá viver o monte Olimpo e, como a tal serpente Ofíon, quer os direitos autorais do big bang
a Eurínome achata sua cabeça com o calcanhar, arranca seus dentes e
exila a atrevida para os confins mais escuros.
Daí então ela arranja Titãs  para serem  responsáveis por sete (sempre o sete!), corpos celestes: Lua, Sol,  Mercúrio,Venus, Marte, Júpiter, Saturno.

Sob sua égide, o primeiro homem se eleva do chão da Arcádia, donde nascem mais alguns e
o primeirão, Pelasgos, cria as indústrias extrativas ensinando aos demais a
comer os frutos do carvalho, usar a madeira lá da Arcádia pra fazer cabanas,
a usar couro de javali pra fazer as túnicas...
enfim, valer-se dos recursos naturais pra viver, ainda antes de plantar e pastorear.

Há semelhança nas diferentes mitologias. A deusa primordial é usualmente responsável sozinha, pela fundação do universo.

Mais do que explicado portanto, o medo e consequente repressão exercida;
pelos machos humanos (ainda hoje em muitas culturas),
sobre a curvilínea metade da humanidade.

Eles nem levam em conta que são mais bonitos que as fêmeas.


                                     foi assim...          então inté jacaré!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inverno?

Toda vez que penso na mitologia germânica uma sensação me perpassa a alma:
não fôra por esse substrato cultural a segundona talvez nem tivesse acontecido.

Todos os filmes, os documentários, qualquer matéria que  mostra batalhas ou estratégias e armas e remédios, desenvolvidos por causa da segunda guerra, não me fazem  pensar no argumento pró guerra que frequentemente é esgrimido: progresso!

Eu penso em retrocesso, ou mais ou menos isso porque
a lógica subjacente da mitologia viking é o eterno retorno.

Não importa o que viva em cada dia, sejam quais sejam as aventuras neste vale de lágrimas ou no mais alto galho da Ygdrasil, o pagão vai voltar pro mesmo lugar e viver tudo de novo tim tim por tim tim.
Os deuses lá deles também!

Quando tudo acabar e não restar pedra sobre pedra,
o recomeço já estará se processando e vai evoluir até o amargo fim,
de novo e de novo, ao longo das eras.

É um conceito complicado prá  quem aprendeu a pensar em
céu, inferno, purgatório, karma, pecado,
culpa e castigo, virtude e recompensa,
ou seja, na expectativa de mudança logo alí na esquina,
na busca da felicidade a qualquer preço,
a crer que tudo vai dar pé, que na próxima será melhor,
cujos deuses tem obrigação de melhorar a existencia dos viventes,
que ser batizado é necessário e imprescindível pra alguem ter  livre arbítrio...

Como compreender um povo que se define por estar
abençoado ou condenado
à mesma  trama num círculo eterno?

Se não houvesse nos recônditos da alma do Führer
(fruto do incosciente coletivo ?),
a certeza de que ele fazia parte desse panteão fatalista,
distinto do resto da humanidade, por se acreditar determinado
a  reviver exatamente o mesmo roteiro com seus diálogos e coreografia,
a cada volta do planetinha azul,
será que o desrespeito demonstrado pra  todas as demais nacionalidades teria sido possível?

O mais estranho é que a mitologia nórdica é pela vida, não se faz na submissão aos deuses,
mas pelos rituais determinantes do cotidiano.
É eminentemente prática.

Sua  compreensão  tornava possível a resolução de problemas imediatos:
a lavoura, a fecundação, o nascimento e não propunha elocubrações metafísicas
geradoras de desesperança e dubiedades. 
        
                             
                               
                                                      Foi assim...           então inté jacaré!

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sábado, 9 de julho de 2011

Non Ducor Duco

Sinfonia de São Paulo
              de Billy Blanco

São Paulo que amanhece trabalhando
São Paulo que não sabe adormecer
Porque durante a noite paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer

São Paulo todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto que fazer
Na reza do paulista, trabalho é o Padre Nosso
É a prece, de quem luta e quer crescer!

MMDC A


Quando se sente bater
no peito heróica pancada                   
deixa-se a folha dobrada
enquanto se vai morrer

Tobias Barreto

Bandeira Paulista

Bandeira da minha terra
Bandeira das treze listas:
São treze lanças de Guerra
Cercando o chão dos Paulistas!
Prece alternada responso
Entre a cor branca e a cor preta:
Velas de Martim Afonso,
Sotaina do Padre Anchieta!
Bandeira de Bandeirantes,
Branca e rota de tal sorte,
Que entre os rasgões tremulantes
Mostrou as sombras da morte.
Riscos negros sobre a prata:
São como o rastro sombrio
Que na água deixava a chata
Das Monções, subindo o rio.
Página branca pautada
Por Deus, numa hora suprema,
Para que, um dia, uma espada
Sobre ela escrevesse um poema.
O poema do nosso orgulho
(eu vibro quando me lembro)
Que vai de nove de julho
A vinte e oito de setembro!
Mapa de Pátria Guerreira
Traçado pela Vitória:
Cada lista é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!.
Tiras retas firmes: quando
O inimigo surge à frente,
São barras de aço guardando
Nossa terra e nossa gente.
São os dois rápidos brilhos
Do trem de ferro que passa:
Faixa negra dos seus trilhos,
Faixa branca da fumaça.
Fuligem das oficinas;
Cal que as cidades empoa;
Fumo negro das usinas
Estirado na garoa!
Pinhas que avançam; há nelas
Correndo num mesmo fito,
O impulso das paralelas
Que procuram o infinito.
É desfile de operários;
É o cafezal alinhado;
São filas de voluntários:
São sulcos de nosso arado !
Bandeira que é nosso espelho !
Bandeira que é nossa pista !
Que traz no topo vermelho
O coração do Paulista!</em>

Guilherme de Almeida