Eu posso rever Billy Eliot infinitas vezes.
Não importa que eu já tenha visto o filme naquele mesmo dia,
eu assisto de novo e sempre descubro um novo gesto,
uma tomada de câmara, uma frase...
Sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, que não pode ser,
um filme tolinho, quase infantil, tão romântico...
É, mas tem a tal greve dos mineiros de carvão.
Tomar a terra, moldar, fazer da argila um objeto com função cotidiana...
Ser a Terra, gerar na terra, materializar, dar forma, formatar na deusa,
faz-nos pensar que os oleiros comunicavam-se com o divino
nos primórdios da fundação da humanidade.
Os oleiros tinham familiaridade com a Terra, a Géia, a Gaia, a Rhea:
a mesma intimidade que os mineiros demonstram
ao tirar das entranhas da deusa, o minério,
que será formado para aumentar
suas forças: o martelo;
seu alcance: a lança;
sua proteção: o escudo...
Dá ao mineiro,
em seguida ao ferreiro,
mais tarde aos alquimistas
depois aos químicos
e hoje aos bioquímicos,
o encantamento e a divindade que possuem os heróis.
O trabalho dos mineiros, em quase todas as culturas, exige o envolvimento do sagrado.
Um gesto ritual no momento de descer às profundezas,
um culto protetor quando da abertura e aprofundamento da mina.
Estar sob a superfície, meter-se sob a terra,
arrancar dela seus tesouros,
torna seu explorador divinizado e profano (profanador)
Eram suas armas que traziam as vitórias nas guerras,
eram eles os conhecedores dos mistérios
que transformavam as benesses da terra em vantagens,
em superioridade contra o inimigo.
O bronze em escudo e lança.
O meteorito em machado e martelo.
A tribo dava um jeito de conservá-lo num isolamento seguro:
os ferrreiros eram presos,
tornados coxos para não fugir
encadeados nas correntes que forjavam,
vigiados, destinados aos deuses,
tornados mudos para não revelar seus segredos...
Billy Elliot é resgatado do submundo e alçado aos céus em forma de cisne.
Essa é uma saga que pode ser experimentada
por uma porção de gente, nos dias atuais,
que explica a atração fútil e imediata que as pessoas tem pelos famosos...
Abandonar o submundo e alçar voo acima do comum dos mortais.
Essa é uma das consequências do sucesso.
No trajeto corre-se o risco de ficar manco,
mudo, vergar sob o teto baixo das galerias
mas se não for pelo valor do ferreiro,
pela transformação do minério
e pela importância do artefato,
o ferreiro ficará de mãos vazias e inútilmente enredado nos elos que forjou.
foi assim.... até já!
Comovente o ballet Billy-Gaia, Maliu, bem visto e ben trovatto! Filakia, Aliki
ResponderExcluirtão lindo esse texto... amei suas conexões
ResponderExcluirPesquisando Hefesto para escrever um conto, encontrei seu blog - e adorei o que li. Parabéns pela sensibilidade e pela escolha da temática. Sucesso!
ResponderExcluirOlá Ana,
ResponderExcluirQue bom, que bom, que bom! Obrigada.
Olá Ana,
ResponderExcluirEu de novo.Deixe-me saber do seu conto. Obrigada.