quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Crise grega I. Belerofonte.

"Perseu montou uma firma de segurança com Belerofonte.
Cuidam só de celebridades."

Quando um herói grego é citado, vem à baila,
imediatamente Hércules- melhor dizendo: Héracles.

Pois bom, a saga dos heróis antecede

Héracles e seus doze trabalhos.

Belerofonte é mais antigo
e também tem trabalhos memoráveis.

Lá vai:
Belererofonte era filho de Sísifo.
(Seu pai Sísifo, foi,
séculos depois, imortalizado no romance
do argelino existencialista Camus.
Muito boa leitura aliás.)

Pois bom,
Belerofonte era bem brigão e um pouco atrapalhado.
Mata seu irmão Delíades, "sem querer"
(crente que sou na intencionalidade do ato falho,
duvido muito dessa desculpa)

Belerofonte faz isso depois de ter morto
numa outra contenda,
um vizinho lá do pai dele chamado Beleros,
o que provoca uma reação tão valente
nos aderredores que ele é banido da sua pátria.

Não podendo ficar por perto da sua casa,
por ter deixado toda a vizinhança nos cascos
com as duas mortes, ele pede asilo prum
reino mais distante: Tirinto.

O rei dali, Preto, segue a tradição de oferecer
pompa e festejo àqueles que lhe pedem pousada.

Recebe Belerofonte generosamente.

O Preto é casado com Antéia.
Antéia fica maluquinha pelo Belerofonte.
Oferece-se numa desfaçatez ousadíssima.

O Belerofonte se esquiva,
diz que está com dor de cabeça,
arranja umas caçadas longas e
longe do Palácio do Rei Preto,
desfila com umas gurias engraçadinhas
na frente da Altéia...

Tudo prá se manter leal ao Preto,
que havia lhe dado guarida quando ele estava na pior.


A Altéia bravíssima,
por ser recusada pelo seu hóspede,
mente pro Preto que o Belerofonte
está se inclinando para ela.

Resultado: Preto manda o Belerofonte
pro reino do Iobates, pai da traidora da Altéia.

Uma vez na Lícia começa tudo de novo,
festejos, caçadas, banquetes, pelejas...
mas aí o Iobates lê a carta na qual o Preto conta
que o Belerofonte era um safado
que andou seduzindo a Altéia,
"Sua filha, ó aí meu..."

O Iobates não quer bater de frente
com todos os demais reis, seus amiguinhos...
(era um pouco sem educação matar um hóspede)
arranja um meio de se livrar do Belerofonte
disfarçando seu intento.

Manda o Belerofonte pra missão suicida
de dar cabo da Quimera.
Uma monstruosa figura que tinha
cabeça de leão, corpo de cabra, cauda de serpente,
e tinha um bafo que era fogo.
Imagine só!

É o Belerofonte também imaginou
e foi se aconselhar com o advinho Políido,
que diz para ele domesticar Pégaso,
que era o mascote das musas.

Pois bom,
ele coloca uma rede no pescoço do Pégaso,
e montado nesse cavalo alado,
ele realiza façanhas realmente heróicas.


foi assim... até já!



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Trocando em miúdos



Uma amiga reclamou
que a neta não entende
as piadas da série "crise",

que eu postei quando
o problema econômico da Grécia
fazia a manchete dos jornais,
domésticos e importados.

Ela também me disse que ela explica
mas quando faz isso,
a brincadeira proposta se esvasia.

Decidi contar cada mito
ou personalidade citados ali.

Espero conseguir
uma linguagem adequada
pra meninada.
Não acho legal eles pensarem que
mitologia é mesmo um porre.

Nem mesmo quando falo do
Dionisos, ou do Seleno seu
pai adotivo, os quais viviam
mais ou menos truviscados...



até já!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Suplício de Tântalo

Uma porção de expressões que nos vieram d'antanho
escondem sua origem.

Suplício de tântalo (assim mesmo, em minúscula)
passou a ser na linguagem corriqueira
uma forma de definir uma pena muito cruel,
muito dolorosa.

Vou contar de onde veio:

Havia um sujeito chamado Tântalo
que era amigo pessoal, dileto, do Zeus.

Era convidado pros jantares,
participava do carteado das quintas,
do aperitivo dos domingos e dos churrascos
da firma do Zeus, o Monte Olimpo, que eu desconfio,
devia ser uma firma de seguros
como era o Montepio antigamente.

Tântalo participava até dos banquetes
de ambrosia e néctar, a comida e a bebida
destinada aos deuses e tabú para o comum dos mortais.

Um dia querendo retribuir as gentilezas do Zeus,
Tântalo convida todos os olímpicos para uma festança.,

Às horas tantas, ele descobre
que todos os deuses dirão presença,
o que é raríssimo acontecer em qualquer festa
de qualquer anfitrião.

Pra ninguém deixar de ser servido
ele tem que botar mais água no feijão
e usa o filho, Pélope, pra completar o ragú.

Tântalo esquarteja a própria cria e o põe pra cozinhar.

Dizem os informantes que ele estava
testando a divindade do Zeus: queria saber,
se o Zeus ia se dar conta dessa manobra horrorosa.

Qualquer que seja o caso é de uma loucura
digna de cruzeiro infinito na Nau dos Insensatos.
E é quase isso mesmo que o Zeus pensa.

Condena o Tântalo a sentir sede e fome pra sempre.
Prende o maldoso num pé de romã e figo,
maçã e azeitonas, inclinado sobre um lago

O lago sobe e desce, obedecendo aos luares,
de tal forma que há vezes que a água ondula
sob seu lábio inferior, sobre seu queixo.

Quando Tântalo se inclina pra sorver a água,
esta se afasta e ele não consegue alcançar jamais.
Quando ele faz conchinha com a mão pra recolher um
gole, a água lhe escorre entre os dedos.

Os galhos da árvore estão carregadinhos,
tem todos os frutos já citados, em grande quantidade
mas cada vez que Tântalo estica a mão pra se servir,
uma ventania os coloca fora do alcance de sua mão.

Além disso tudo, há uma pedra enorme,
precarianente apoiada logo acima da árvore,
que ameaça a integridade do cranio
do Tântalo, o que deve ser un pouco aflitivo.

Todas essas penas, imputadas aos transgressores,
eram da alçada da Nêmesis, a deusa da vingança.

Acautelem-se, crianças, qualquer pecado será punido
e todas as ações são vigiadas.



foi assim... Até já!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dióscuros

Respondendo aos que perguntaram e
informando aos que não se manifestaram,
comecei a falar dos dióscuros em julho,
com o cisne e Leda, a Mamãe Gansa.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Da pá virada: Clitmenestra


Tem gente que afirma que foi rapto,
tem gente que diz que foi transgressão voluntária
das irmãs, que eram mesmo da pá virada,
quero dizer que, as moças deram porque
queriam dar e fim de papo.

A verdade é que na família da Helena
essa história de rapto é uma constante,
muito mais comum do que
estatíscamente ocorre nas demais famílias.

A Helena tinha uma irmã, a Clitmenestra.
Esta moça, que devia ser bem bonita,
casou-se com um rapaz chamado Tântalo.

Teve um menininho desse casamento
e era tipo uma senhora de engenho,
bem felizinha com sua vida.

Eis que Agamenon se aprochega,
mata pai e filho,
tornando Clitmenestra viúva e desconsolada.

Ato contínuo, rapta a Clitmenestra
e quase provoca uma segunda desgraça na familia
pois os irmãos da viúva, Polux e Castor
querem punir o raptor.

Daí, Tyndaro, o pai de todos(mas não muito)
conversa e acalma e consola
até dissuadir os Dióscuros dessa empreitada.

Não é pra menos, foi ele quem aconselhara
a Agamenon a cometer o rapto.

Pois bom, lá vai Agamenon prá guerra de Troia.
Bota um vigilante, Egisto,
prá pra contar qualquer deslize da mulher

mas deixa ali prá distraí-la,
pelo tempo que estivesse fora,
um artista, que toca instrumentos,
compõe canções, faz versos...
(não havia tevê a cabo nesse tempo)

Na verdade, o artista, vai vigiar o vigilante.

Resultado: os dois foram infieis.

Quando, Agamenon, o marido traido volta da guerra,
é morto por ordem de Clitmenestra e Egisto.

Acontece que o Egisto era casado
com uma vidente, de pouco sucesso,
chamada Cassandra com quem tinha filhos.

A Clitmenestra juntamente com Egisto
manda matar a Cassandra com sua prole,
casa-se com o viúvo e vivem felizes para sempre.
Muito curtinho, o tal do sempre.

Orestes, filho dela do segundo casamento,
(quando ela foi raptada, lembra?)
mata a mulher ingrata e o padrasto.

E a história se fecha.

Que família! E você ainda se queixa da sua?


foi assim... Até já!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dióscuros: Castor e Polux


A Helena,a de Troia teve três irmãos nascidos de dois ovos.

Um ovo divino engedrado por Zeus. Outro ovo de Tyndaro.

O ovo de Helena era o divino e foi compartilhado por Polux.
O de Tyndaro conteve Clitmenestra e Castor.

Egressos dos ovos os quadrigemeos formaram paresinhos
como diz a antiga brincadeira de criança
"home com home mulhé com mulhé"

Os irmãos, Castor e Polux, tornaram-se inseparáveis.

São designados sob o ep´teto de Dióscuros:
Filhos de Zeus (Zios, Dios e Kouroi, homens jovens, adolescentes)

Hermes, como sempre o encarregado
das tarefas divinas mais delicadas,
carrega os dois para Pallene
para serem alimentados e educados.

Eles se comportam como heróis
livrando dos pirata todo o arquipélago,
daquela ilha onde foram instalados,

tornam-se argonautas de Jasão
participando da conquista do tosão de ouro,
resgatam Helena que havia sido raptada por Teseu.

Passam a ser considerado heróis marinhos
e são invocados nas tempestades.

Polux era o bambambam nas lutas,
Castor no hipismo e corria como o vento.

No entanto cometem uma besteira.
Tyndaro, o pai (de pelo menos um deles)
tinha um irmão, o tio Leucipo lá dos garotos,
cujo qual tinha duas filhas danadas de bonitas,
a Phoebe prometida a Linceu
e a Ilaire, prometida de Idas.

Já adivinhou?
Eles se lançam na empreitada de raptar as primas
e são perseguidos pelos ficantes,
briga daqui, batalha dali, luta por acolá,
Castor é morto pelo Lynceu.
Ele não era filho do Zeus, não era imortal.

O Polux vai lá e acaba com o Lynceu.
Finaliza, no jargão das artes marciais.

O Idas também golpeia o Polux
mas este era filho de Zeus. Era imortal, sabe como?

O Polux se recupera e vai pro Olimpo
pedir ao Zeus pai que ressuscite Castor.
Perda de tempo.
Zeus não pode atender a esse pedido,
porque ele divide a divindade com os irmãos.

Cada reino é de um irmão: Zeus no Olimpo,
Posídon nas águas e Hades no Hades.

Um não se mete nos dom´nios do outro.

Polux então resolve doar
metade da sua imortalidade pro Castor.

Resulta então que a cada seis meses
um deles vai para o Hades e o outro fica no Olimpo.

No céu a Constelação de Gemeos
tem duas estrelas principais, quando uma aparece
a outra se oculta e assim sucessivamente.

Com Polux e Castor também ocorre o mesmo.
Eles nunca mais se encontraram.


foi assim... até já!

domingo, 8 de julho de 2012

Paulistada

Nove de Julho,
Preparem-se para acordar ao som da marcha Paris-Belfort e um breve trecho da Bandeira Paulista lindamente declamado.
                                                Até já! (mesmo)

Os dióscuros. Mamãe Gansa.

"Um dia um cisne morrerá por certo,
e ao chegar esse momento incerto,
no lago, onde talvez a água tisne,
que o outro cisne cheio de saudade,
nunca mais cante, nem sozinho nade,
nem nade nunca, ao lado de outro cisne."

Esse é o fecho de ouro de um soneto
apropriadamente chamado "Os Cisnes"

no qual, Julio Salusse afirma, poeticamente,
aquilo que os zoólogos contam
do alto dos domínios do seu conhecimento:

os cisnes são monogâmicos.

O rameirão do cotidiano, com assuntos
fora das ligações românticas oficiais, que compreende:

cantadas ao vivo e no feicebuque,
flertes, insinuações, declarações de duplo sentido,
encontros às escondidas,
celulares com duplo chip e chamadas criptografadas
motéis em estradas sinuosas e pilantragens várias,

não fazem parte do repertório dos cisnes...
Lindos e majestosos eles passam ao largo dos trambiques humanos

Ao contrario da Helena, que conheceu (biblicamente) alguns mancebos
na sua tragetória pré, intra e pós belicosa,

os cisnes se atém a somente um amor, por toda a vida.

Estou falando da de Troia, 'aquela' Helena.

Vou contar a historia...

Então Zeus se enamorou de uma bela e graciosa mortal (outra) esta é Leda

Já casada com Tyndaro  gostava dele bem muito e não queria enganá-lo.

Resolve enganar o Zeus e se tranforma num ganso.

O Zeus que era onipresente, onisciente, e onívoro
(ele comia de tudo e todas, né não?)
sacou o estratagema e se transforma num cisne.

Numa tarde quente, enquanto a nubente nadava candidamente,
num lago de águas claras, Zeus possui Leda

Eu não sei qual é a do cisne mas pato tem um conluio amoroso
rapidíssimo, sem preliminares nem nada.

Se assim foi, deve ter sido um fiasco e Leda, decepcionada,
deve ter achado que o deus tinha incontinência orgásmica.

Pois bom Leda, a gansa, botou dois ovos
de um deles nasceram Helena e Pollux filhos de Zeus
do outro ovo nasceram os filhos de Tyndaro: Castor e Clitmenestra.
Claro; os dois primeiros imortais, já que eram filhos do deus e
os outros dois menos bem aquinhoados pelo destino,
um dia morreriam por certo.

O legal nessa historia é que para alguns mitólogos
Leda era só o nome de disfarce da Nêmesis- deusa da vingança-
prá outros Leda era a babá,
para outros ainda, a mãe adotiva da Helena e seus irmãos.

Nêmesis jamais perdoou a filha por ser tão bela assim,
claro! ela era a própria 'vendetta'
e com feitiços e magia, torna a vida da Helena
um verdadeiro calvário nos quais ela sofre raptos,
e sua beleza provoca guerras e desgraceiras que nunca se acabam.

Como se vê a Branca de Neve é bem mais velha do que conta a lenda...

foi assim... Até já!

sábado, 7 de julho de 2012

De novo nove de julho.

Dia mal aberto, horizonte cor-de-rosa e berilo.

Friorento e mal agasalhado o menino com cara de índio,
alegrinho e buliçoso entregava o pão de porta em porta,
levados numa cesta de vime fixada na bicicleta.

Ele assobiava prá espantar os fantasmas das suas mágoas.
Pois é, ele as tinha.

A mãe morrera, ficara sob a guarda do pai severíssimo,
justo porém duríssimo que embora não ministrasse castigos físicos,
era um crítico cruel, e tornava a vida insuportável,
mantendo com os filhos a disciplina férrea que ele mesmo recebera dos jesuítas.
 
Entregar o pão para ganhar o pão,
era a menor das penas que a vida imputara àquele menino
que mal completara doze anos e já se sentia
absolutamente dono do seu destino. 

Além disso tinha todo o salário para gastar e ele adorava roupas.

A padaria lhe fornecia cama e refeições.
Dormia em "prateleiras" de concreto: beliches de três andares ligados à parede
com pijamas e lençóis feitos dos sacos
de farinha e de açúcar (ninguém veria mesmo!)
que a padaria fornecia de graça.

Sempre havia um padeiro casado que pedia à sua mulher
que fizesse pijamas para o  órfão da vez.
Daquela vez era ele.

Havia um ganho secundário nesse trabalho:
à noite, enquanto ouvia a arenga dos padeiros e ria das suas anedotas
ele cortava cuidadosamente algumas palhas,
justinho no feitio das tampas das garrafas de leite
e fazia os cordões para amarrar.

Era como se usava naquele tempo.

Conhecedor do trajeto do leiteiro ele cumpria seu próprio roteiro,
dando um jeito pro leite ter sido entregue antes do pão.

Manhã cedinho, as ruas vazias,
ele abria a garrafa deixada em uma ou outra casa,
que ele variava sempre, pra não se denunciar
e tomava no gargalo um gole de leite fechando em seguida
com a palha e o cordão adrede preparados.

Os padeiros perceberam seu expediente.

Um dia um deles pediu ao garoto que ele pusesse um papelsinho
na caixa do pão de uma certa casa de uma determinada rua.
" Não deixe ninguém ver!" Foi a ordem.

Ele tentou protestar mas os demais padeiros mostraram que
se ele tinha tecnica e sutileza pra tomar o leite
ele seria bem capaz de cumprir essa nova tarefa.

E assim ele fez.

Não por elegancia mas por timidez
não perguntou o que estava escrito nos recados lacrados.

De início ele pensou que estava deixando
poesias e carinhos pra uma  bonita cabocla,

depois o número de bilhetinhos  que ele teve que entregar
e a variedade de endereços,
fez com que o José Menino Tolosa entendesse que havia se tornado
um mensageiro da Revolução Constitucionalista.

"Quando se sente bater, no peito heróica pancada,
deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer."

Ele viu que alguns padeiros deixaram a folha dobrada.

Ele parou de tomar o leite alheio.
Não como um comportamento maduro e sim como uma forma de honrar os colegas mortos.

                                      até já!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Carnaval, desengano...





Só um pouquinho de Momo, já que ele é o olímpico do carnaval

Tem mitólogo que diz que ele é masculino, o deus da gozação,
da crítica irônica, do sarcasmo, do prank,
do trocadilho, da piada..

Momo é mostrado arrancando a máscara da face
e levando um bastão que denota o símbolo da loucura:
o castão é a cabeça de um boneco  circundado por guizos

É amigo de Como, o deus da alegria, das danças noturnas,
aquele que preside os banquetes, os festins, a libertinagem...

(Quem sabe é o dono do lago, tendo sido homenageado ao piano,
pelas raparigas em flor, até os idos de 1960.)

O deus Como é representado jovem
com a fronte circundada por uma guirlanda de rosas,
faces brilhantes pelo vinho,
carregando na mão direita um facho enquanto
a esquerda ampara sua bebedeira numa estátua.   

Como se pode perceber,
ambos os deuses foram misturados de tal forma,
que quando pensamos em Momo
os atributos de Como nos assomam à memória.

Etmológicamente, o verbo "moskathai" significa
ridicularizar, zombar, troçar.
Momo configura aquele que caçoa.

Na Teogonia, Hesíodo diz que Momo
é filha de Nix
e irmã das Hespérides,
aquelas que guardam os pomos de ouro.
É a deusa da pilheria, do chiste,
espirituosa, engraçada, palhaça...

É legal pensar também, que
as Hespérides tem a ver com
ocaso, fim de tarde, poente, anoitecer.
Nix, a  noite, é a mãe delas todas.

Penso que o dia foi feito para os assuntos graves, sérios, solenes.
É do por do sol em diante que brincar, caçoar, rir, divertir-se é permitido.

Pois é, a deusa Momo, do Hesíodo, dá um palpite feliz pro Zeus.

Houve um momento em que a Terra estava superpovoada.
Zeus dá tratos à bola pra diminuir a densidade demográfica,

porque a população crescia em progressão geométrica
enquanto os recursos da Gaia, a Terra,
cresciam em progressão aritmética.
(Um lance que um tal de Malthus vai prever milênios depois.)
A terra estava se esgotando

Zeus pensa em dizimar os seres excedentes
com cataclismas diversos mas não se anima,
porque,  um ato divino dessa monta,
não seria bem visto pelos seus devotos.

Ele não queria se expor ao desprezo dos humanos
mas também não inventa o DIU, a camisinha,
a pílula, nem mesmo a tabelinha ou os espermatozoides lerdos.

Exatamente como fazem os governantes hoje em dia,
é melhor botar a culpa dos desmandos, injustiças
e medidas desconfortáveis;
nas costas dos mortais comuns.

A deusa Momo sugere que Zeus engedre Helena
para suscitar a guerra entre Ásia e Europa,
provocando a guerra de Troia,

que durante dez anos, deu cabo de boa porção dos viventes,
do mundo conhecido à época.

Tal como hoje, as razões das guerras nunca são as declaradas.
O buraco é sempre mais em baixo.

                                   Foi assim..         Tenham todos um momesco carnaval.           Até já!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Qualquer maneira de amor

Os ginásios eram as academias gregas
Era ali que acontecia a malhação.

Treinar todas as modalidades esportivas em voga naquele tempo,
exigia, tal como hoje em dia,
constância, um bom personal treiner,
a porção blanceada de mel, azeitona, queijo feta e nozes
e  Nike aos pés
(os tenis não:  a deusa!
que oferece ao ginasta suas bençãos
e lhe garante vitória).

Não havia esteiras
que são aliás o maior paradigma do mundo moderno:
alguém que caminha sem destino, até a exaustão,
por uma estradinha curta sem paisagem,
para chegar a lugar nenhum.

Pois é, como acontece hoje, alí ocorriam enamoramentos.

Os mocinhos,
que mal apresentavam uma penugem leve
sobre as partes pudendas, nas faces e no buço,
eram avaliados pelos cidadãos,

enquanto se exercitavam nús, sobre a areia,
deixando nela a marca dos seus belos corpos
e levando neles  suave camada de
areia sobre o suor e unguentos.

O cidadão grego, o amante, inclinava-se para o jovensinho,
que se tornava seu ascecla, era o amado.

Embora algum mistério se propusesse enlaçando os envolvidos,
era segredo de polichinelo e os pais do ascecla deviam aprovar a parceria.

Em Esparta, os casais se eclipsavam dos olhares intrusos
por cerca de dois meses e voltavam, como se nada houvesse,
ao findar esse prazo..

À boca pequena na  ágora:
"Você viu por quem se inclinou o Cidadão Fulano?" -perguntava um
"Ah mas o rapaz é, mesmo, muito interessante!" -respondia o outro,

O grave era quando o ascecla e o cidadão
queriam prolongar o tempo regulamentar...
A paixão não devia fazer parte desse arranjo.

Para os gregos o pathos (a paixão) era uma forma de doença

O amado, era aquele que não experimenta qualquer reação,
nem física nem emocional.
Durante os conluios,
o amante, inclinava-se, era quem exercia a soberania,
quem exprimia entusiasmo( pleno de deus).

Assim que a penugem começava a se tornar hirsuta
o amado se convertia em amante,
era a vez dele percorrer os ginásios em busca
do ascecla que o tornaria entusiasmado.

Moral e moda tem a mesma raiz etmológica.

                                                          foi assim!     até já...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

13013

Olha aí um cabalístico de novo, gente!
Topei com ele quando abri o computador hoje. Foi o número de visitas.
Obrigada a quem leu e a quem foi gentil pra voltar depois deste longo afastamento.
Sò pra constar, o pintor da casa que me obrigou a silenciar por tanto tempo,
disse que volta hoje pra completar o serviço.

                                                                  até já!

Dionisos de novo

Claro que ele é o meu preferido,  embora haja um montão de deuses que sequer foram citados, eu volto ao Baccho, O Louro, tão belo, tão blasê, tão festeiro, sempre e sempre...

Então Dionisos se enamorou.
Foi a  descoberta de um amor absoluto e eterno.O primeiro amor.
Eram os dois jovens e alegres, fortes e plenos de sonhos e intenções...

Nas leituras que fazemos, parece-nos que Dionisos estava mais encantado, era mais apaixonado;
como ter certeza disso se ele costumava ser  por demais intenso em tudo o que lhe acometia?.

Pois bom:
Dionisos costumava jogar com os sátiros lá pelas bandas da Lídia.
(aqueles homens altos, de longas pernas de bode
e caras magras e compridas, de cavanhaque  pontudo sobre o queixo ídem,
que dominavam  as artes musicais,
e acompanhavam o séquito ruidoso de Dionisos,
compondo e tocando seus instrumentos )

Eles tem o tipo do Clark Gable " no vento levou" ou
o Errol Fline em todos os capespada, sá comé?.

Pois bom:
Entre eles havia um rapaz
cujo qual era observado por Dionisos atentamente.
O deus admirava seus longos cabelos esparramados sobre os ombros e peito,
o cor de rosa nacarado de sua pele, que tinha luz própria,

a força de seus membros a imobilizar os adversários nas lutas,
a gargalhada sonora, o olhar de descoberta, as mãos ágeis, o cheiro doce e acre.

Ampelo é desejado pelo deus que anseia que o rapaz
lutasse só com ele, jogasse só com ele,
fosse seu companheiro de folguedos e dos momentos graves.

E assim se fez.

Dionisos adorava quando nas lutas, eles se entrelaçavam,
e nas corridas eles se abalrroavam e rolavam na relva,
e adorava quando iam pro rio banhar-se

e o sol se filtrava nos cabelos do Ampelo
e se desdobrava em cores, sobre a pele do Ampelo nu.

Numa ocasião, um presságio divide Dionisos em duas reações antagônicas,
ele sofre desesperadamente e ri descontrolado:

Pois bom:
Numa fantasia,ele vê um dragão de chifres longos e agudos,
depositar numa pedra, um cabrito que trouxera inerte nos ombros.
Nessa pedra fica uma poças de sangue,
que o cabrito derrama quando,
o dragão lhe crava os chifres.

Devido a essa visão, o deus recomenda a Ampelo
que este poderia se acercar de qualquer animal que desejasse
menos dos touros com seus chifres

Ampelo não entendeu bem a advertência
e estando só, encontrou um touro entre as rochas,
acariciou seus chifres, amansando-o
e montou em sua garupa
mas uma mosca  põe-se a picar  a animalia, que corcoveia descontroladamente,

o moscardo fora enviado por Selene; lembra?,
a mãe do Dionisos, que está enciumadíssima

Vê que a fama das sogras se estabeleceu em tempos (e razões) ancestrais...

Pois bom:
Ampelo cai da montaria, rola pelo chão e é chifrado inúmeras vezes pelo touro, morrendo assim.
Dionisos não consegue lamentar o amado.
Não fora feito para prantear.
Não era afeito às lágrimas.

Um dos presentes ao velório, assistindo à sua dor, recomenda lhe um novo amor.
" Só isso fará acalmar seu coração"
Dionisos não consegue, nesse momento, olhar noutra direção.

O deus quer somente seu amado de volta.

Sabe que sendo um deus não poderá seguir o jovem ao Hades.
Um deus imortal...isso é o que ele é.

Ampelo é transformado em videira: a dor de Dionisos.
O pranto de Dionisos, as lágrimas de Dionisos,
são convertidas no fruto da videira, as uvas
têm a forma de pingos, de gotas, né não?

a frutinha que refaz a cor nacarada, rósea, do Ampelo.
e quando espremida com os dedos,
liberta sobre o braço divino o sumo acre adocicado.

.
                                    Foi assim!            até já...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O tempo perguntou pro tempo...

Estava bom demais aquele friosinho dos últimos dias... Já voltou esse calorão
i n s u p o r t á v e l.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ano Novo

 Vocês já se deram conta que o mês de janeiro acabou?
Como é que a passagem do tempo virou a correria dos dias, o corredor das horas, o desabamento dos minutos?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Brun

Eu a chamei Brunhilda.
Claro que em homenagem,
mais do que declarada,
à valquíria mais velha dentre as irmãs gêmeas,
que o Wagner decidiu por estabelecer que eram nove.

Tantas quantas eram as musas.

Ela veio pra ser amiguinha do Bolívar.
Um pastor alemão preto, imenso, forte,
de maus bofes, voluntarioso e belíssimo,
que a Fal havia me dado.

Eu trabalhava por muitas horas naquele tempo
e fiquei definitivamente preocupada
com a solidão que o Bolívar
enfrentaria na chácara todos os dias.

Inclusive aos sábados e domingos e feriados.

Cães foram inventados
para caminhar com o ser humano.

Se houver mato melhor. Se houver perigo.
Se estiver escuro, ou topografia acidentada.

Só quem já andou com cães amassando barro,
procurando algum filhote perdido,
vasculhando um ruído estranho,
perseguindo uma ratazana,
precisando de guia para se orientar no escuro;
sabe o que esse companheiro inestimável oferece de segurança.

Pois bom, a Brun chegou pro Bolívar não ficar só.
De lambugem andaria comigo à beira do lago
e se deitaria aos meus pés
enquanto eu estivesse preparando aula,
estudando, cozinhando, ou
estaria sentada no banco do passageiro
enquanto eu dirigisse (naquele tempo podia)

Eu havia dito ao meu filho Pedro
que fosse ao canil comprar uma fêmea,
porque eu sei que machos adultos
são danados pra brigar.

Pedi que fosse uma boa fêmea..
"Olhe os jarretes" ,eu disse-
"Verifique a insersão das orelhas,
perceba a profundidade do céu da boca,
veja se tem reconhecimento
da Sociedade Brasileira de Cães Pastores Alemães,
dê um estalo forte perto dela
pra ver se ela é medrosa, procure ver os pais"....

Recomendações excessivas,
já que ele sabia tudo.
Crescera cercado por pastores.
Aprendera a andar levado por uma pastora.
Fora acordado por um pastor todas as manhãs da sua vida.

Lá foi o Pedro com um cheque em branco
e uma solene missão.

À noite ele foi me buscar no consultório.
A Fal já tinha chegado
na expectativa de conhecer
a pastorinha de quatro meses,
idade que eu exigira.

Já que eu não teria
como cuidar de um bebê de cachorro,
ela teria que ser
um pouco mais velha
para estar totalmente vacinada.

Pedro estacionou na rua.
O estacionamento do consutório
era só para um carro por casa.
Percorreu todo o pátio da vila
com a cadela na trela,

tímida, literalmente arrastada.

Entrou na saleta de espera e... surpresa:
era o pior espécieme de pastor alemão
que eu já havia visto.

Magérrima, sem porte,
orelhas caidas, sem orgulho,
desenxavidíssima!

"Pedrão,
porque você me trouxe esse bicho horroroso?"
-perguntei bravíssima

"Com quatro meses só tinha esta
e a irmã dela!" -ele me respondeu.

"A irmã dela também era assim ruim?
"Então não me trouxesse nenhuma!"
-eu retruquei bem azeda.

"Não!A irmã dela era grandona, alegre"...
-ele afirma olhando nos meus olhos
"mas se eu não trouxesse esta, ninguem ia querer, mamãe".
-ele me falou com a voz mais penalizada do mundo

E foi assim que eu recebi o melhor cão
de toda a minha longa vida.

Por conta dela, anos mais tarde,
ele me deu o livro Mulheres que Correm com Lobos.

Outra grande escolha!.


Até já!

Jurasí

Experimento uma certa dificuldade com os deuses egípcios e  hindús.

A teogonia deles é intrincada demais para os meus parcos neurônios,
já desgastados, neste ato da ópera.

A Mitologia Latininoamericana, no entanto, traz alegria ao meu desgastado coração.

Claro que não caiu do céu por descuido,
a lenda da fonte da eterna juventude, vulgarmente conhecida como Eldorado.
(Que não ficava exatamente na Venezuela,
como poderão pensar os vaidosos de hoje
tendo em vista o resultado de mágico rejuvenecimento,
que se vê em quem veraneia por lá. Pitangui fez mesmo escola...)

É mais ou menos assim a versão original:

Havia uma princesa que não envelhecia.
Ela já havia se casado muitas vezes.
Seus maridos iam recebendo rugas, cãs brancas, juntas rijas e memória fraca,
vista curta e gengivas longas, raciocínio e metabolismo prejudicados

mas a princesa continuava fagueiríssima.
Fresca como o orvalho da manhã.

Pela enésima vez ela deve se casar.
Escolhe como marido um rapaz muito jovem dentre os da sua corte:
pele morena, músculos no lugar, dentes brilhantes, olhar vivaz,
farta cabeleira negra e lisa, que ele prendia numa tira trançada de capim cheiroso

Ele tinha constante interesse em aprender,
grande disposição pra descobrir o mundo,encantava-se ao conhecer pessoas...
Seu desempenho nos jogos era perfeito e sua resistência quase ilimitada.

Ele se sentia muito orgulhoso por ser o paradigma da juventude saudável.

O casal era visto em todos os lugares da moda, caros e exclusivos,
faziam cruzeiros carregando uma entourage enorme, frequentavam resorts,
eram vistos mostrando-se bem felizes nas festas importantes,
dançando até a orquestra exaurir-se de tocar.

Foi assim  por muito tempo até que ele percebe
que a passagem dos anos é vista em sua própria aparência
enquanto a princesa continua louçã.

Não disposto a perder seus atributos de encanto
ele decide descobrir que segredo é esse, que a princesa esconde tão direitinho,
que a mantém jovem enquanto a idade começa a pesar nos ombros do muchacho. 

Ele a segue determinado e desconfiadíssimo
até  ver que ela sobe uma encosta
de um monte qualquer dos Andes, perdendo-se na vegetação.

Ele se confunde nas veredas, enlameia-se até os joelhos,
lanha-se nos galhos que não enxerga, no rumo do seu rosto e corpo,
pra não perder a mulher de vista

assim descobre que ela se banha num poço formado pela junção de vários regatos
que descem a montanha e que, naquele ponto,
encontram um olho d'água que oferece água cristalina e quente.

Ele deduz que aquele banho misterioso é responsável pela louçania da esposa
e começa a se valer desse spa tão eficaz.

Um dia ele se distrai e é surpreendido pela princesa, antes mesmo de
se refestelar na bacia de pedra,

bravíssima por ver seu banho conspurcado por outrem,
ela grita assustando a passarada e provocando eco nas montanhas

"Jurasí, jurasí!"
que significa fervente, fervente!

a fonte ferve e cozinha o marido incauto.

A água nunca mais deixou de ser fervente
e a princesa perdeu, para sempre, seu banho de beleza.

Deve ser por isso que a espanholada não encontrou o Eldorado,
que aliás é uma outra história

que eu pretendo contar "con quel che resta della mia giventù"

                                    foi assim...          até já!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

mais São Paulo

Uma cidade querida, um amigo querido



Niver de São Paulo. Parabens cidade maltratadinha!

Pedro Miguel foi um amigo queridíssimo.
Quando a Bi era bebê,
nós íamos aos shows dele e a levávamos numa cestinha,
depois foi a vez do Pedrão

Na verdade,
eu namorei tendo sua voz macia
embalando nossos encontros e me
consolando nos arrufos.

até já!