Pessoas presas em árvores ou pedras, mastro de navios, proas, cruzes, caixas, exercem sobre nós atração irresistível.
Saber que alguem foi instalado numa submissão paralisante e conseguiu se safar, empresta-nos uma esperança muito saborosa, a de que conseguiremos ser Houdinis, conseguiremos quebrar as correntes, romper os grilhões, desatar os nós.
No entanto parece que estar amarrado a qualquer pilastra nos livra da tentação, do mergulho no desejo, na incompetencia de conter, de controlar.
Lá na infancia, quando ansiamos por liberdade, tememos ser deixados livres por imaginarmos abandono, o que nos conforta mesmo é pertencer: a uma família, a um clube, a um bairro, país, grupo...
Quando um time ganha o jogo seus torcedores afirmam "ganhamos".
A torcida não jogou, não defendeu, não liderou mas a vitória é considerada pessoal porque torcer para um time faz pertencer.
O banimento é a alternativa à pena de morte.Ser deixado ao deus dará ser abandonado pelos pares, ser esquecido, é um castigo, talvez, pior que a morte.O confinamento, morar nas casas de detenção, ser convicto, é a forma moderna de banimento e todas se referem à paralisia, a impotência decisória, à impossibilidade de ir e vir, entre nós a expressão corriqueira é "ser preso".
Há vezes em que nos deparamos com nosso lado mais feio:
a ansia de morte, a covardia abjeta, a inveja destrutiva,
desespero paralizante, ou qualquer desses atributos dos quais
ninguem pode se furtar mas que na maior parte do tempo,
não se exerce, consegue-se controlar só a duras amarras,
senão nós deparamos com uma figura vergonhosa de nós mesmos.
As virtudes consideradas básicas necessárias
em quase todas as religiões são contrapostas aos defeitos
que atualmente batizamos de neuroses.
Gastar de mais, colecionar qualquer coisa,
sentir~se superior ou inferior aos semelhantes,
transar demais ou de menos,
surrupiar coisas, mentir por ofício de fé na mentira, enganar,
comer de menos (comida ou pessoas), comer de mais (comida ou pessoas),
matar (pessoas ou obrigações),
amar demais, ser incapaz de amar;
tem seus correspondentes em praticamente
todas as religiões com o nome pecado.
Consideremos para fins didáticos que
prá cada sociedade a gravidade dos pecados ou defeitos
sofrem alterações sutis, ou retumbantes.
No código cristão de regras, o "Não Matarás ! " vem em...5º lugar?,
o pricípio budista da não violencia vem em primeiro e norteia todos os demais.
Não estou botando em jugamento,
acredito que pra cada código ser fundado
as razões históricas norteadas pela geografia,
topografia, submissão ao clima, solo,
densidade demográfica, organização social,
cuprimento ritual de deveres e tarefas,
ou seja as leis da sobrevivencia, quer dizer,
as questões biológicas e ... evolutivas
se impuseram sem permitir muita tergiversação.
Onde eu queria chegar é que antigamente (mas não muito)
as pessoas se consideravam amarradas
por terem que cumprir certo número de normas sob pena de banimento,
senão da aldeia, do grupo, do clube, da turma, do trabalho...
agora todos têm direito de exercer suas neuroses
e serão recompensados com pilulas
de felicidade, de tesão, de equilíbrio,
ou serão subjugados pelo proprio temperamento.
Não se dão conta que tanto as neuroses quanto as pilulas são amarrações,
só que ao manter sob rédeas curtas
os pecados (ou defeitos ou neuroses)
é exercicio do próprio sujeito,ha escolha,
portanto ha liberdade.
quando quem domína é o defeito,
ou na sujeição às pilulas, não há auto controle,
o vivente está envolvido, preso, amarrado
e a não ser em casos extremos
( de algém botar em risco os inocentes e alheios circunstantes)
a liberdade de trangredir, pecar, conformar-se, negar...
é um poder humano,
dos mais básicos, né não?
Até já!
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