quinta-feira, 28 de julho de 2011

Descoberta.

Acostumada que estava aos filmes com começo, meio e fim açucarados de Hollywood,
cabulei aula uma tarde pra pegar um cineminha.
Fui ao Bijou, um cinema de São Paulo que fugia do circuito comercial 
e mostrava o que era menos corriqueiro.

E foi ali que descobri Ingmar Bergman.
Saí do cinema sem conseguir organizar o que vira.
As cenas tinham todas peso semelhante.
Tudo era denso, intenso, explícito mas cheio de significados.
Tudo era tão igual ao cotidiano e tão próximo do irreal.
As coisas que eu via poderiam ser de todo mundo.
Eram precisas mas sem contornos identificatórios.

Daí encontrei Pasolini, Antonioni, Visconti com suas alcovas azuis e o cinema francês e tcheco.
Ainda houve o teatro de Arena e Guarnieri, Arrabal e Dario Fo, Zé Mauro de Vasconcelos, Bob Dilan, Beatles, Chico, Juca Chaves, Rosinha de Valença, Jobin, Sidney Miller, Aldir Blanc, Arrigo, Caetano, Donovan, Elis, Jobin, Caymi, Cartola, Carrilho, Capinã, os Sousa Lima, os Carrasqueiras,
Oiticica Parangolés e Clark e o movimento do Embú
e inda deu tempo prá Renata Tebaldi, Pixinga, Canhoto, Jacó do Bandolim, Billy Blanco, Paulo Mendes Campos, João Cabral, Drumond... 
A Cigarra, O Cruzeiro,  Manchete, Realidade O Pasquim, Senhor...

Vi dançar Maria Pia, Ansaldi, Haydée e Rudy Nureyev
e alcancei  Ana Botafogo, Lobão, Premeditando o Breque, Lulú Santos, Calcanhoto...
Ora! não dá prá citar todo mundo.

Sempre que penso nos anos da minha formação (excluindo a ditadura) eu me sinto privilegiada.

Pertenço à primeira geração de ingresso democrático à universidade.
Filhos da classe média e pobre disputando lugar nos bancos acadêmicos
ombro a ombro com alunos aristocratas, ricos, riquíssimos e milionários.
Mulhers já não sendo avis rara na esfera dos pensares.
Tive um mundo à minha volta que sacava que o conhecimento não trazia a felicidade
mas permitia entender a infelicidade.
Era um tempo em que ter era menos importante do que ser,
e sentir, e copreender, compreender-se, e cooperar.

Ainda havia reuniões "open house",
As pessoas convidavam para entrar. Hoje só convidam pra tuitar.

Sou contemporânea de grandes pensadores nas artes, filosofia, ciências,
testemunhei avanços tecnológicos.Vi Brasília nos primórdios.

Desfrutei da  formalidade dos "50".

Finquei pensares libertários nos "60",

Acreditei poder fazer a diferença nos "70''

Tive a minha casa no campo nos "80"

Entrei na onda das comunicações dos "90'.

Vivo devido ao progresso biológico dos "2000".

E carrego em mim a paranóia pós moderna...

Eu pensava que só poderiam se vangloriar da sua época os afortunados dos anos 20 e 30!

                                          então inté jacaré...

2 comentários:

  1. "conhecimento não trazia a felicidade
    mas permitia entender a infelicidade.
    Era um tempo em que ter era menos importante do que ser" palavras pra quê. espero que volte esse tempo, apesar de eu me achar uma priviligiada por viver nesta era e ter conhecido a era antes da tecnologia dos computadores e tal. o que nao invalida o conhecimento ;)
    Bjo,
    Isa, a portuga

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  2. Olá Isa Alecrim,
    Acho que essa é uma das vantagens do conhecimento que excede à comunicação: cê se percebe objeto e sujeito da história, isso facilita o of´cio de viver, né?

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Olá, deixe seu recado para mim :o) Um beijo, Maliu