quinta-feira, 7 de julho de 2011

relembranças.

Quando a gente começa a inventar uma identidade, escolhe também que coisas serão aceitas, das trazidas pela vida, as cometidas pelas pessoas e entre os acontecimentos socias.

Quando se ouve assim ó: aguento mentira, não gosto de nhenhenhe, detesto um incendio na floresta, acidente na estrada, caminhão entalado em viaduto, massacre etnico, pesca à baleia, falo quatro idiomas, entendo alguém me trair, ouço jazz ou pagode ou Mozzart ou Satie, invento que vivi na Paris nos anos loucos, adoro bleiser marrom... qualquer dessas afirmações, mesmo que seja uma só delas solta no espaço, forma-se um perfil de quem a proferiu.

Define-se a pessoa por apenas uma expressão de valor.  

Eu penso que não é precipitação, é que se deve montar, a partir do que se tem, o quebra cabeças que o outro representa.
Quando se tem o biotipo de quem fala fecha-se, mais depressa a questão, até que um dado mais recente
desacomode a paisagem  e de novo deve-se encaixar as pecinhas recortadas nos lugares apropriados.

É preciso entender como o outro se mexe, qual e quanto espaço ele ocupa no mundo, e quanto de aproximação pode-se permitir.

O medo do outro só é reduzido quando há a constatação de que é possível lidar com as diferenças, imbricar as semelhanças, partilhar gostos ou ignorar desgostos.

Assustador mesmo,é quando há a apropriação de quanta igualdade existe entre os da mesma espécie. Aquela identidade inventada a partir das características peculiares de cada um, elaborada e burilada a cada dia, exibida com propriedade e vaidosamente, não elimina o fundamento determinado pelo DNA.  

                                                           então inté jacaré!

8 comentários:

  1. noutras palavras: não me enche o saco, vagabundo, que tu não sabe porra nenhuma da minha vida. Palhação.

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  2. Me fez lembrar Quintana:

    "E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo.
    Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.
    Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão."


    (Revista Isto É, 14 de novembro de 1984)
    Mário Quintana

    Eu, hoje, poderia resumir esse quebra-cabeças que sou com o conto de Heminghway(cinquentário da morte dele este ano):

    "Vende-se: sapatos de bebê, nunca usados"

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  3. A memória, companheira ingrata que insiste em nos lembrar de algumas coisas, sobetudo do que fizemos e prefeririamos nos esquecer.

    A memória, essa alma sombria que nos persegue, e sem a qual, apesar de tudo, não faria sentido viver.

    Pedrão

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  4. Pensando alto, e lembrando umas conversas a partir do que escreveu.
    Antes a gente via e ouvia se falar em direitos de cidadania.
    Agora a gente só ouve, praticamente, se falar em direitos de consumidor.
    Quando nossa identidade parou de ser a de "cidadão do mundo" e passou a ser "você é o que você consome" não sei.
    Batsos
    Pedrão.

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  5. Olá Pedrão coração de leão,
    Se pensamos um pouquinho lá atrás, acho que foi no momento em que nos demos conta que não há regime pol´tico,ou qualquer ideologia capaz de nos salvar,sobraram as escolas econômicas, seus profetas, seus legisladores e seu executivos (nossos executores?)

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  6. Olá Pedrão coração de leão,
    Ou como aprendi menina com Celide queridíssima:
    memória é a faculdade que esquece...marquês de maricá

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  7. Olá Isa Alecrim,
    modesta e ruborizada devo concordar.




    Olá Silvaninha a bela dos Pampas,
    Que lindo!
    Quintana dámesmo a idéia de que ele era o poeta de período integral e dedicação plena.
    Tive uma fase total Hemingwayana.Não conheço esse conto, e esse título me faz pensar em Cinderela ainda no borralho,ne?




    Filha Fal querida e franca,
    è ninguem sabe nada de ninguem e a despeito das nossas zangas com ele temos que concordar com Caetano: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

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