terça-feira, 24 de maio de 2011

A primeira vez a gente nunca esquece.

Então, minha mâe nos vestiu para sair.  Muito arrumadinhas, eu, num vestido de veludo marrom de gola chale de renda branca,  luvinhas e um laço improvável, segurando as madeixas rebeldes, rumamos para uma aventura no meio da semana.

Eu não sabia nada do que ia acontecer porque não havia qualquer possibilidade de questionar as decisões maternas.

Descemos do ônibus, caminhamos um pouco de mãos dadas, até chegarmos a um prédio amplo cheio de cartazes coloridos.
Dirigimo-nos a um guichê onde ela me instalou diante de sí; encostada ao seu joelho, meu  rosto querendo esbarrar na parede à minha frente. (Esse era o truque para que eu não saísse de junto dela quando precisávamos soltar as mãos.)

Resolutamente atravessamos o saguão de pé direito altíssimo, entramos numa sala imensa cheia de cadeiras cor de vinho e ela procurou um lugar para nós duas onde não houvesse alguém que impedisse a minha visão.

Ficamos ali sentadas e eu já achando tudo bonitíssimo, as luzes, os chapéus de mamães e filhinhas, o rumor de tantas vozes, a cortina grená, a música enchendo a sala.

Ao meu lado sentou-se uma família inteira, pai, mãe dois meninos e duas meninas. Quando um deles pediu  ao pai para passar o saquinho de doces,  um apertão no braço impediu-me de olhar.
Lição número um de conviver com estranhos. 

Foi então que as luzes se apagaram, parte delas de início, todas elas a seguir e a cortina se abriu.A tela branca encheu-se de imediato de imagens em branco e preto enquanto um instrumento de sopro secundava figuras descritas por uma voz masculina muito elegante.

Embora a televisão tenha diminuido a magia desse episódio inaugural, eu penso que pros meus filhos a primeira sessão de cinema tenha oferecido deslumbramento semelhante.

Quero acreditar nisso porque, embora eu fosse muito pequena na ocasião, eu gravei para sempre o medinho de  estar num lugar desconhecido e escuro, o cheiro daquele salão, os ruídos todos e o silêncio ao eclipsar das luzes.
Principalmente as imagens enormes e o som vibrando no ar.Uma história contada com som e fúria.

E  claro, o orgulho da minha mãe por me dar um presente tão precioso.

                                                               então inté jacaré

12 comentários:

  1. Vc tem esse dom, de fazer qualquer experiência a coisa mais linda. Adorei o post. O primeiro filme que vi no cinema foi o gato que veio do espaço. e o seguinte acho que já fui pelo meu pp pé...
    Bjo...

    ResponderExcluir
  2. Não me lembro da primeira vez - não tive roupa bonita nem a mão da minha mãe - mas me lembro das sessões de domingo.

    ResponderExcluir
  3. Vc me fez lembrar a minha primeira vez. Não foi com minha mãe e sim com um tio muito antenado. Até hoje lembro do filme.
    Beijão, Maliu.
    Marinaide.

    ResponderExcluir
  4. Claudio Louis Le Dolphin,
    Naquele tempo as pessoas se punham nos panos pra ir ao cinema.Eu era muito pequena, mas essa moda durou até o despertar de 1970. Cê escapou disso por um fio,môfio.

    ResponderExcluir
  5. Isa Alecrim
    que coisa boa cê tá sempre na torcida-brigadíssima
    copiando Pedrão: fica na boa jacaroa.

    ResponderExcluir
  6. Olá Marineide Nereida
    È, minha mãe também era antenada...

    fica na boa jacaroa.

    ResponderExcluir
  7. O cinema da minha cidade ficava no bairro dos operários da fábrica de papel, onde meu pai trabalhava, uns 30 km da minha casa: uma viagem no fusca. O cinema era antiquado e assisti O Mágico de Oz - isso em 1975, mais ou menos. Meu pai levantava o tempo todo pra fumar. Foi inesquecível, claro. Lindo post, Maliu (me deu medinho, no começo). Bjk

    ResponderExcluir
  8. Olá Tina Bonita,
    Que linda história! Obrigada por compartilhar.
    O mágico de Oz é bom de assistir até hoje.

    ResponderExcluir
  9. Ah, Maliu querida, que texto precioso! Cheguei a ver e sentir a experiência. Minha primeira vez no cinema foi para ver a Branca de Neve. Estava a família toda e me lembro com muita vivacidade do entusiasmo da nossa chegada ao cine mais chique de Campinas.
    Beijinhos pra você!

    ResponderExcluir
  10. Olá Sealvia Bella,

    Não fosse pela laaaaaaaarga difernça de tempo podia se você com a família ao meu lado.
    os gestos inaugurais tem sempre essa dimensão cósmica.
    fica na boa jacaroa.

    ResponderExcluir
  11. Que lindo, arrepiei aqui. Eu lembro da sensação da primeira vez, foi assistindo Branca de neve.

    ResponderExcluir
  12. Olá Nalú*A,

    É bom mesmo retomar uma situação do passado e descobrir como foi marcante.
    Fica na boa jacaroa.

    ResponderExcluir

Olá, deixe seu recado para mim :o) Um beijo, Maliu