domingo, 29 de maio de 2011

Valquírias

Para os nórdicos, o mais belo ato de uma pessoa, era entregar a vida na defesa do seu povo.

Odim, o deus maior lá deles, resolve,

que os bravos rapazes da armada dos godos,vizigodos, viquingues et als,

mereciam  ascender a Asgard, a terra lá deles, de forma especial.

Gera então as Valquírias, suas filhas diletas, muito amadas,

para a tarefa gloriosa de buscar os heróis mortos no campo de batalha e

levá-los ao eterno banquete, oferecido por ele, Odin, no Valhala, um bufê aos pés da Yigdrasil,

árvore sagrada que iniciou o mundo do eterno retorno, lá deles.  

As Valquírias eram muito numerosas,

nasceram todas ao mesmo tempo,

eram diferentes umas das outras na aparência e no caráter,

e sua função era nobilíssima.

Se a mais honrosa forma de morrer era durante uma luta,

as Valquírias deviam estar a altura da tarefa de

conduzir os ilustres mancebos ao seu destino,

havendo que ser, elas próprias,

nobres no corpo,

com bela postura e bela gestualidade

e na alma:

Deviam ser belas:

foram concebidas por um deus, ora bolas! não podia ser diferente.
Além disso, era o rosto delas que os heróis veriam, em primeiro lugar, assim que fechassem os olhos. 
.
Deviam ser valentes:

porque a travessia era longa e perigosa,
descendo do infinito numa velocidade estonteante, perigando cair num abismo formidável.

Deviam ser gentís:

porque que diabos! o gajo mal tinha acabado de morrer,
tendo sofrido  ferimentos bem dolorosos, muito extensos e profundos e
naquele tempo não tinha paracetamol e similares.

Deviam ser resistentes:

que o vento norte é famoso por ser,
além de geladíssimo, cortante de tão rápido e forte e
machucava bastante a pele branca e fininha das moças.

Deviam ser piedosas:

os moços estavam deixando tudo o que amavam, tudo o que conheciam:
suas famílias, seus amigos, sua pátria, suas coisinhas, seus paninhos, para sempre.

Deviam ser fortes:

erguer e carregar aqueles galalaus altos, musculosíssimos,
que ainda envergavam suas traquitanas de guerrra, carecia de muita força.
Mesmo que em algumas tradições elas cavalgassem lindos corcéis brancos de esvoaçantes crinas.

Deviam ser puras:

pensamentos elevados e joelhos travados.
Porque se não se mantivessem assim,
seria um bocado difícil resistir aos galalaus louros.
 

Eu não sei quem foi que espalhou a história de que elas eram promíscuas.
                                 É mentira!
As donzelas eram muito, muit´ssimo virtuosas.

foi assim!                                                                 então inté jacaré...

Crônica nos Romances

Penso que a gente gosta tanto do Proust,

porque os livros dele contam coisas com jeito de conversa de botequim.

Dá a impressão de que é um amigo que se alongou por um tempo,

marcou um encontro de matar saudades pra falar dos ocorridos enquanto ele estava distante.

James Joyce faz isso com discurso mais cáustico, contundente, ofensivo.

É aquele amigo de quem as pessoas dizem "Não se chateia, não, ele é assim mesmo."

E você não se chateia porque ele conta aquelas coisas, dele lá, com uma tremenda verve,

com tantas cores e generosidade tão minudente,

que você acaba por respeitar seu azedume.

William Faukner faz isso também e

conta o cotidiano de uma época, de um lugar,

de determinadas pessoas, com tal definição de cores e perfumes que

parece a conversa ao telefone com um velho amigo bem falante.

Machado de Assiz aprofunda,

não é no olhar das coisas comuns, na entonação, nas pausas que você
 
depreende as emoções e sentimentos dos personagens,

ele faz você mergulhar na dor, na dúvida, no medo, na agonia...

Mas quem eu acho muito injustiçado é José de Alencar,

embora seus romances sejam mais ligeiros,

ele tem a qualidade de descrever uma época

com tais requintes de detalhes,

que colocam quem lê  no cerne da narrativa,

vestindo aquelas roupas, andando por aquelas alamedas,

carregando aquelas sensações que distanciam você da pessoa que você é hoje,

fazendo de  você  alguém que vive naquele lugar,

naquela época, sendo parte daquela história.

Isso faz o cronista: mostra a realidade através das lentes do seu olhar.

É assim que permite ao comum dos mortais

participar de uma vida que não é a sua.

O cronista também faz histórias compridas. Romances. Novelas.

A sua visão, a sua linguagem,  faz da narrativa uma conversa entre amigos.


                                                           então inté jacaré...

sábado, 28 de maio de 2011

Paleontologia

 Minhas avós, tias avós e bisavós, sobretudo minha mãe,

e as mulheres mais velhas na vida das minhas amigas,

despertam em mim admiração de devoto fanático.

Enquanto elas estavam na fase da procriação,o mundo não lhes oferecia as facilidades contemporâneas
                                                  de tecnologia,
                                                   de locomoção,
                                                     de informação,
                                                       de comunicação ou
                                                          de cura e prevenção de doenças

Sequer se reconhecia os mais básicos direitos do vivente.De qualquer vivente.

As mulheres tinham que trabalhar dezoito horas por dia, prá cuidar de uma família mediana,

às vezes mais, atendendo ás gripes, febres com diferentes etiologias,

estrepes no pé, picada de abelha e outras mazelas prosaicas

mais ou menos frequentes.

Montavam cardápios cuidadosamente balanceados

sem ter tido sequer uma aula formal de nutrição,

cozinhavam com as próprias mãos de fada cada prato, não havia o "por quilo":

a refeição era preparada pra servir a cada vez,

não havia congelamento doméstico, nem o congelado do super mercado,

muitas casas não tinham nem geladeira (e nós estamos num pais tropical! )

as frutas, verduras, graõs,  enfim a comida

não sofria  tratamento transgênico pra durar mais,

nem borrifos agrotóxicos contra parasitas,

não havia os recursos atuais para a consevação e armazenamento.

.
A mesa era posta quatro vezes por dia, e com guardanapo de pano,

não havia Klean:

e guardanapo de papel era "gauche"

as toalhas cobriam a  mesa inteira, tinham geralmente bicos crochetados

pelas mãos de fada da rainha do lar,

ninguém usava jogo americano,(não era higiênico)

O chão era limpo com cêra e muque ,sobre os joelhos da rainha.

As casas eram caiadas, internamente,  uma vez por ano,

a senhora da casa participava da operação,

quando não caiava ela mesma as paredes.

Quando a senhora tinha qualquer possibilidade financeira,

contava com alguma ajuda:

a da lavadeira, que buscava a trouxa de roupa suja

e devolvia limpíssima, passada e dobrada,embrulhada como um presente,

no lençol do casal preso com grandes alfinetes prateados.

A da babá,que geralmente era uma menininha(de oito ou nove anos)

mal paga, prá brincar com as crianças,

(o que oferecia à mãe mais tempo para cuidar da casa.)

A da  costureira, que ia uma vez por mês

virar colarinhos e trocar punhos das camisas e blusas,

cortar mangas compridas já gastas,

remendar o que estivesse puído,

fazer roupinhas pras crianças com retalhos,

ajustar roupas dos mais velhos para os mais novos,.

ou aumentar pros que tinham crescido,ou engordado,.

ou então a rainha do lar cumpria ela mesma essas tarefas

e ainda costurava seus próprios vestidos, tricotava, bordava...

Não se comprava roupa pronta,tudo era sob medida,

socorro deuses do consumo!  não havia shopings?

Uma ou duas vezes por mês a rainha ia à cidade pra maratona:

pagar água, luz, gás, imposto,

prestação da casa e de algum eletro doméstico adquirido e

cada uma dessas contas tinha seu guichês de recebimento

na sede da própria empresa, em lugares distante uns dos outros.

Claro que ela aproveitava prá comprar alguma coisa necessária

pra casa ou pra família

tecido, lãs e linhas, meias, luvas, sapatos, copos e pratos, chapéu...

aquilo que era impossível fazer com suas mãos de fada.

E ela se desincumbia de tudo isso de salto alto,anáguas engomadas, combinação

e sem o auxílio luxuoso de um pandeiro...

Essa espécie está extinta já faz é tempo...

Este é um estudo paleontológico aproximado,

necessitando de pesquisa mais acurada...

mas em linhas gerais é isso aí.

                                            então inté jacaré...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Tragos

Eu gosto do Dionisos.

Tem mitólogos que afirmam que Dio Niso significa deus manco(niso)
por ter Zeus mancado ao carregar Dionisos na propria coxa
para completar o período de gestação.

Vê que esse negócio de mãe de aluguel é antigo à beça, pois não?


Originalmente ele foi um deus agrícola sem pós graduaçâo .

Quando os gregos resolveram unificar as cidades - estado,

pasteurizaram as devoções professadas nas diferentes regiões gregas

às veperas de fundar na Hélade

               o mundo helênico.


Dionisos perdeu seu lugar central no panteão,

passando para o segundo escalão.

Só que daí ele era especializado em vinhas, vinhos, e

era o mais festeiro dos deuses.

Como quem foi rei nunca perde a majestade,

Dionisos continuou  exercendo grande influência em algumas regiões da  Grécia.

Quando foi adotado pelos romanos

os cortejos de outono, honrando Baco,

eram dignos da Beija Flor na era Joãosinho Trinta
.
(Eu sei, tô obsoleta. É que desde aquele tempo minha paciência pro carnaval acabou.).


No começo os bacanais (festivais, per bacco!: vários dias de festejo)

eram simples:

por ocasião das primeiras colheitas

os campônios faziam oferendas.

Eram cestos com verduras e frutas,

espigas de trigo e cevada,  


e claro!

a grande encenação contando histórias do Dionisos:

sua passagem pelas diferentes regiões da terra

ensinando a moçada a cuidar das vinhas,

obter maior produtividade nos vinhedos,

pisotear direitinho as uvas,

respeitar o tempo de fermentação,

a mistura certa com pinhas,

fazer fogueirinhas na vindima quando nevava

conservar o vinho...

Essa coisa de ferver o vinho veio depois do Pasteur?
(é o que imagino mas quem souber por favor ensine a tontona aqui)

Em todo o tempo tinha as arengas dionisíacas (ou báquicas)

com moçoilas e amigos e inimigos e...

Naturalmente tudo isso dava ótimos enredos para as tragédias.


Cada poesia para ser encenada tinha que ser original e

o poeta devia levar o poema de memória.

O ditirambo era  o tipo de música

que o coro cantava acompanhando a narrativa,

era específicamente do Dionisos.

também as máscaras que hoje simbolizam o teatro

são báquicas: eram de alegria, de tristeza e satíricas

O que eu acho mais legal é que

              tragédia

 é derivada de tragos

o bode branco,  bem branquinho

com que se presenteava a cada ano

o poeta vencedor do bacanal.

                          


.                                   Evoé...               então inté jacaré.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Zeus e Sêmele.

Como o nome indica Bacanal eram as festas destinadas a Bacco, o Dioniso louro dos romanos.
Dio Niso o deus de Nisa.

Eu contei que o Zeus era muito namorador,né? E também contei que a mulher dele Hera, era uma peste?

Pois bem; lá estava, como sempre, o Zeus sem fazer nada da divina vida;
prá espiar a paisagem,   ele ergue a franja de uma nuvem e vê a Sêmele meiga e linda.
É tomado por um desejo incontrolável de possuí-la.

Se assim desejou, assim o fez.

Quando a criatura é um deus endiabrado, a encrenca está pronta...

Todo mundo sabe que oficina do demônio são as mãos desocupadas.
Zeus decide ocupar as mãos nas ancas da Sêmele meiga e linda.

Se assim decidiu, assim o fez.

Lá veio Zeus, dos raios e trovões, seduzir outra donzela.

Claro que ele não aparece prá ela em toda a sua glória.

Todo mundo sabe que simples mortais, que encaram deuses, são imediatamente fulminados.

Ele vem sempre à noite, disfarçadinho, fingindo-se um amante comum.

Instala a moça meiga e linda numa ¨garçoniére",
que é pra ficarem mais à vontade.
Confessa quem é  numa noite em que estão mais fogosos
e assim
transforma em sua teúda e manteúda
a herdeira do rei Cadmo,  - dono do trono de Tebas.


Sêmele meiga e linda está completamente na do Zeus.
 
Aliás, o refúgio deles é um enorme palácio cheio de salas, terraços de mármore,
luxuosos aposentos e jardins suntuosos.

O que não era nenhuma espanto para a jovem que era quem era.

Só pra dar uma idéia, ao casamento dos pais dela disse presente todo o Olimpo
Inclusive Zeus.

Claro que a Hera fica furibunda com a situação.
Transforma-se em Beroé, a bá da princesinha e fazendo a conselheira amorosa, Hera convence a tonta a  exigir do amante divino que aparecesse com toda a pompa cicunstancial.

Depois de muito choro da moçoila,  muita birra , muita chantagem emocional, muxôxo e queixumes
Zeus  acaba cedendo.

Ao se mostrar na versão luminosa, queima a meiga e linda, o palácio, e arredores.

Naquele tempo não tinha  tratamento anti-fogo nas construções,
nem escada de emergência, nem portas corta-chamas, sequer um extintor no saguão.
Corpo de bombeiros então, nem pensar!

Sêmele estava grávida, embora ela sucumba no fogaréu
Zeus salva o feto das cinzas,
costura-o na própria coxa e assim
leva adiante o período final da gestação.

Quando o nenê nasce, para impedir as maldades da Hera,
Zeus entrega o filhinho às musas, para que cuidem dele até o momento
de dá-lo a Sileno, escolhido como pai adotivo.

Dioniso cresce em Nisa, aprazivel região do  mundo helênico, que não se sabe bem onde fica.
Longe do Olimpo, o deus do vinho, só fará parte do panteão já moçoilo,
belíssimo, louro, de grossas tranças, coxas grossas, largos ombros e largo sorriso.

Parece que o sujeito gordo, desleixado, constantemente bêbado que configura Bacco pros Romanos,
é uma confusão entre o deus de Nisa e seu padrasto Sileno,

o qual, dizem, foi um pai amoroso, dedicado e presente;

mesmo sendo um pouco desleixado no trajar-se e amarrando um constante pilequinho.

Dioniso se torna o deus das relações sociais, da paz, e pai da civilização.

Pois bom:    e os bacanais?

                    Evoé...                                então inté jacaré...

Fantasia

Conheço pouca gente que ao assistir Fantasia, aquela do Walt Disney , não tenha se impressionado para toda a vida.
Tal obra de arte só pode ser vista por tantas crianças no mundo inteiro, porque foi exibida em 1940.
Hoje em dia seria proibida para menores de 18 anos.
Repressão essa, que não sofrem alguns filmes com exibição de sexo grosseiro ,
elogio ao uso de drogas, sendo o uso expl´cito,
violência braba de toda ordem de espancamento à execução sumária...

  O bacanal com a Sexta do Beethoven de fundo, O Amanhecer no Monte Calvo, A Dança das Horas, O Aprendiz de Feiticeiro e talvez até o Quebra Nozes, seriam considerados políticamente incorrertos nos dias que correm.

                                                então inté jacaré...

terça-feira, 24 de maio de 2011

A primeira vez a gente nunca esquece.

Então, minha mâe nos vestiu para sair.  Muito arrumadinhas, eu, num vestido de veludo marrom de gola chale de renda branca,  luvinhas e um laço improvável, segurando as madeixas rebeldes, rumamos para uma aventura no meio da semana.

Eu não sabia nada do que ia acontecer porque não havia qualquer possibilidade de questionar as decisões maternas.

Descemos do ônibus, caminhamos um pouco de mãos dadas, até chegarmos a um prédio amplo cheio de cartazes coloridos.
Dirigimo-nos a um guichê onde ela me instalou diante de sí; encostada ao seu joelho, meu  rosto querendo esbarrar na parede à minha frente. (Esse era o truque para que eu não saísse de junto dela quando precisávamos soltar as mãos.)

Resolutamente atravessamos o saguão de pé direito altíssimo, entramos numa sala imensa cheia de cadeiras cor de vinho e ela procurou um lugar para nós duas onde não houvesse alguém que impedisse a minha visão.

Ficamos ali sentadas e eu já achando tudo bonitíssimo, as luzes, os chapéus de mamães e filhinhas, o rumor de tantas vozes, a cortina grená, a música enchendo a sala.

Ao meu lado sentou-se uma família inteira, pai, mãe dois meninos e duas meninas. Quando um deles pediu  ao pai para passar o saquinho de doces,  um apertão no braço impediu-me de olhar.
Lição número um de conviver com estranhos. 

Foi então que as luzes se apagaram, parte delas de início, todas elas a seguir e a cortina se abriu.A tela branca encheu-se de imediato de imagens em branco e preto enquanto um instrumento de sopro secundava figuras descritas por uma voz masculina muito elegante.

Embora a televisão tenha diminuido a magia desse episódio inaugural, eu penso que pros meus filhos a primeira sessão de cinema tenha oferecido deslumbramento semelhante.

Quero acreditar nisso porque, embora eu fosse muito pequena na ocasião, eu gravei para sempre o medinho de  estar num lugar desconhecido e escuro, o cheiro daquele salão, os ruídos todos e o silêncio ao eclipsar das luzes.
Principalmente as imagens enormes e o som vibrando no ar.Uma história contada com som e fúria.

E  claro, o orgulho da minha mãe por me dar um presente tão precioso.

                                                               então inté jacaré

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Uma Casa na Serra

A tarde estava gostosa com aquele sol raquítico filtrado pela névoa do outono.

A estrada estava quase livre e pelo caminho conversávamos de quase tudo., da bolsa linda que estava sozinha na vitrine, das oscilações da bolsa de valores, aos discursos em defesa de falar errado e suas implicações.

Vez que outra uma de nós indicava algum ponto na estrada: uma luz fugidia, alguma árvore florida, o portão de algum sítio.

Fazíamos trocadilhos e piadas de quase tudo e puxamos do fundo do baú situações vividas várias décadas atrás      .As tristes e as engraçadas.

Num determinado trecho fizemos uma conversão e cerca de dois quilómetros além, entramos na mata por um caminho que só os iniciados poderiam encontrar.

Dali, rodamos algumas centenas de metros por um declive pedregoso e  fizemos uma curva aguda.

O possante volquesvaguem encarou uma íngreme picada na montanha,  estreita e escavada pela chuva.

O cheiro do mato invadia nossos cérebros, refrescando nossos narizes e nossas almas.

Uma espécie de silêncio denso e camarada nos aninhou.

O carro rodou cerca de tres quilometros de caminho ascendente por dentro da floresta e imbicamos diante de um portão de ferro largo, de desenho simples que deixava ver uma casa pintada em bege rosado, que tem em todas as quinas, lindas trepadeiras floridas.
 
Entramos numa varanda elevada que dá prum gramado muito verdinho
cortado de alamedinhas guarnecidas por
plantinhas de folhagens de diversas cores e algumas ladeadas por flores.

E as árvores!...Logo na entrada um plátano adulto largo e solene se debuça sobre o quintal.
À esquerda, longinho da casa há um grupo de árvores velhas e duas delas, pareadas, formam uma espécie de portal que dá acesso à mata.

A casa é uma versão facilitada de uma casa na Úmbria. Formal, despojada mas acolhedora.

Logo que chegamos Silvia calçou longas galochas amarelas e foi para o jardim molhar suas flores, arrancar as pragas, vigiar o crescimento delas.

Nós a acompanhamos porque o entusiasmo dela ao cumprir essa tarefa é de contagiar.  Eu e a Sandra quisemos desfrutar daquela alegria

Do jardim rumamos pra horta e repetimos a operação limpa,  rega, despragueja, rega...

Depois nos sentamos na varanda e lemos reportagens dos jornais e artigos das revistas umas prás outras, leituras essas entremeadas de longos silêncios e manducando prazerozamente frutas cheirosas e coloridas..

Jantamos sopa de pijama e robe quentinho e meias de lã coloridíssimas.

Depois das abluções melecamos  a cara  de creme antieige.
Então botamos um filminho no vídeo e enroladinhas em mantas macias,bebericamos um tinto encorpado e o filme passou e nós não assistimos por termos assuntos na pauta .

É eu sei, ninguém quer detalhes do fim de semana de tres velhas, completamente despido de aventura ou glamour.

Não é do passeio que eu estou falando.É da amizade

Velhas amigas, só elas, permitem que mesmo não dizendo nada haja total harmonia no convívio
.
Só com velhos amigos podemos ocupar o lugar que nos pertence ou partilhar qualquer espaço sem constrangimento, sem explicações.

Depois de bodas de ouro de amizade não nos sentimos encabulados pelos nossos vexames, nossas gafes, nossas idiotias, nossos sonhos.

Permitimo-nos total intimidade e confessamos nossos erros ou calamos sobre os enganos uns dos outros,

Podemos ser submissos aos velhos amigos e podemos ditar o que eles devem fazer de suas vidas.

 Velhos amigos testemunharam nosso passado assim confirmamos pra nós mesmos que nossas lembranças são fatos e não fantasia.

Pra termos velhos amigos não precisamos  ser tão velhos assim mas temos que ter uma história comum;
que nos mantenhamos  próximos pela confiança , pela generosidade, pela lealdade e claro, alguns segredos    partilhados, certo tempo de constâcia e convivência.

Voce só constroi grandes amizades,  sólidas e valiosas, se voce  for torcedor fiel  do seu amigo, e isso implica em quebrar lanças por ele, em aceitar suas manias e fobias, em defendê-lo contra os desafetos, e gostar dele aceitando-o como ele é.

.Não critique o seu amigo não em público nem em particular. Claro que voce pode opinar mas seja delicado, amoroso, atento. Nada fere mais que crítica de amigo querido.

É seu amigo que garante  que voce vale a pena, que é bom ter voce por perto (ou de longe) que voce é digno de amor.

Se voce estiver em dúvida sobre o que fazer do seu futuro  eu sei o que: faça um amigo.


Eu sei que tem ranço de aconselhamento mas eu tenho alguns amigos e é tão bom que eu gostaria que todo mundo os tivesse.

                                               então inté jacaré.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A quem interessar possa.

Algumas pessoas reclamaram que meu blog tem textos amontoados, com frases e parágrafos muito longos.
Tô tentando formatar o discurso, dando um ritmo mais próximo da fala.
Todas as sugestões, queixas e palpites serão considerados.
Obrigada.

Europa dos romanos, Ío dos gregos

Ío era uma menina doce e alegre.
Tinha uma beleza rara de pousar talher até em churrasco.

Zeus sofria de compulsão sexual,
que, antigamente,
não era considerada uma síndrome patológica,
acho que o chamavam D. Juan, Casanova, gabirú, galinha e... que sei?.


Um dia ela bricava na praia,
bela e fagueira,
com suas amiguinhas, quando
Zeus ficou completamente louco por ela e
decidiu seduzí-la .
(Este é outro anacronismo:
naquele tempo as donzelas eram conquistadas.
Haver donzelas já é antigo à beça.)


Pois bom, Zeus se transforma em um
lindo bezerro branco, daqueles fofinhos, sabe?
com dois chifrinhos nacarados.
mal apontados na pelagem macia.

O garrote corre pela areia
aos saltitos,
brincando com as ondas.

Europa se encanta com o animalzinho e
entrelaça guirlandas de flores
que pendura em seu chifrinhos charmosos.
Ele ainda aceita o capim que ela lhe estende e
oferece-lhe seu dorso
onde ela se senta confiante.

Aí é que a coisa muda!

O boisinho se atira no mar e
vai cortando as águas feito um marlin
passando por Gortynia
chegando à Creta pelo rio Lethes.

As margens dessas paragens os plátanos são sempre verdes,
então,
os gregos criam que os amantes namoravam por alí.

Nas cerãmicas,Ío é representada muito infeliz, sentada sob um plátano.

Desconfiada, Hera, a mulher do Zeus
(eles são sempre casados),
faz Argos, que era um sujeito de cem olhos,
vigiar muito de perto uma novilha que
Zeus vinha cuidando com desvêlo excessivo.

Acontece que Zeus prá fugir da zanga da patroa
transformou Ío numa vaquinha.

Hermes, que era um tipo de ajudante de ordens de Zeus,
corta a cabeça do Argos,dos cem olhos,
numa piscadela dele,
pra dar paz pra Ío.


Sem vigilante,
Ío sai pelo mundo.

Hera (que era uma peste!)
coloca uma mosca
perseguindo a Ío todo o tempo.
Prá onde quer que Ío se voltasse, lá estava o inseto,
picando a pobre bezerra sem trégua,sem compaixão.

Na tentativa de fugir da mosca e
tentando se afastar o mais possível
da sua desditosa parceria com Zeus,
Ío corta terras fundando o mar Jônico,
batizado assim em sua homenagem,

dalí ela volta e
numa freada, amontoa terra
formandoo monte Hemo e
num escavar dos cascos,
faz o delta do Danúbio.

Corre seguindo o sol e escava o mar Negro,
cruza o estreito de Bósforo alí na Criméia,

correndo sempre,
faz o leito do rio Hibristes
até chegar ao Cáucaso,
onde fez uma visitinha de doente
ao Prometeu
que estava com um problema de fígado.

Ela volta para a Europa cruzando a terra dos cálibes e
cruza de novo o Bósforo pela Trácia.

Aí o mosquito atazana tanto a pobresinha
que ela acaba galopando pesado e forma
a Ásia Menor , vai ,a todo vapor,
até a Ìndia,
atravessa a Arábia
contornando o Bósforo
do lado do Oceano Índico
até a Etiópia.

Chega no Nilo e para
prá repousar no Egito.

Zeus que estava cansado
só de espiar suas andanças
torna-a uma mulher de novo.

Assim, ela volta ao seu lar e
acaba se casando e
sendo quase feliz quase para sempre.

Em alguns autores  lê-se que,
conforme seus cascos escavavam
arrancando terra de um ponto
ou fazendo montes em outros,
ou ela chifrava
prá escapulir do mosquito,
iam se formando montes, vales,
rios, planaltos, nascentes e
embocaduras.

Em outros escritos diz-se que
ela só viaja por todo o mundo conhecido.

De todo o jeito é uma linda lenda.


e foi assim...                  então inté jacaré!

terça-feira, 17 de maio de 2011

chovendo no molhado

Quando nos instalamos sobre dois pés, na nossa carreira evolutiva, divisamos um horizonte mais amplo.

Nossas mãos ficaram livres para carregar coisas, fazer coisas, cultivar coisas. Enfim...

Nossa boca deixou de carregar coisas, então nossos grunhidos se desenvoveram, passamos a articular
p a l a v r a s.

Nós nos humanizamos.

Tudo o que os humanos fazem e que não é fisiológico (excluam alguns políticos) é cultura.

O galho seco que foi apanhado para alcançar a fruta mais alta, atingir a caça mais distante ou golpear o inimigo desavisado.

A pedra grande e redonda, lançada, para afugentar o predador, derrubar a fruta mais alta, golpear o inimigo desavisado.

A pedra longa e áspera usada para cortar a mandioca, esfolar a caça e o inimigo desavisado.

As roupas para proteger da chuva,do sol, da urtiga, do espinheiro,do formigueiro, do frio,
dos parasitas, dos predadores e dos inimigos desavisados.

A ânfora para carregar e armazenar água (e óleo, e vinho...) e o inimigo desavisado.  

O lápis,o lap.

O tribunal, o hospital, a banca de jornal, a praça, o preço, o prego, a prega da saia, a placa de pare, o microscópio, o telescópio, o estetoscópio.

Tudo isso é cultura.

A pintura, a escultura, a música, a dança,
o teatro, a fotografia, o cinema,
as cores nas roupas os colares, os piercings, os aderêços mil,
são facetas da cultura que visam
compreender e apreender o mundo e
seus fenômenos,  seus habitantes e
comunicar. Até pros inimigos desavisados.

Quando um grupo fica isolado num só lugar por determinado tempo,
os recursos à volta, os instrumentos e as técnicas
já constantes do seu arsenal cultural
mantêm-se os mesmos,
tornando-se, essa cultura,
emperdernida,cristalizada, imutável,
chatíssima.

A influência que diferentes grupos exercem uns sobre os outros,
transforma técnicas,
diversifica utensílios,
ensina truques,
aumenta o instrumental e
a compreensão,
multiplica possibilidades
e avanços.

A mesclagem mostra o ponto de vista do outro,
faz aceitar as diferenças,
faz nos aceitarmos originais
e pricipalmente, principalmente,

deixamos de ser o inimigo desavisado.


Aculturação não é só uma necessidade, é uma obrigação.


Como dizem Ivan Lins e Víctor Martins:   "Somos todos iguais nesta noite"
Somos todos iguais.

                                                                 então inté jacaré!

sábado, 14 de maio de 2011

Sábado

Penso que todas as possibilidades nos estão disponíveis por mais irreais que pareçam

 Eu acredito nisso desde menina e esse otimismo me foi inculcado por pai e mãe totalmente determinados.

Olhando para trás as pessoas percebem que tudo o que desejaram um dia foi obtido.

O que for decepcionante é consequência das escolhas


que são feitas sob premissas individuais de homem e de mundo


estabelecidas naquele código fundado na adolescência (lembra?)
Quero dizer é que não é fácil focalizar adequadamente o futuro na tomada de decisões.
O complicado é que inúmeras vezes o que se quis estava em

franco desacordo com as necessidades do momento e


também não dá pra desconsiderar as peças que a vida prega  e são inúmeras.

De maneira geral devemos nos perceber vitoriosos: o que quisemos conseguimos.


O diabo é que as necessidades, os desejos, e os pressupostos vão mudando durante a travessia.

Não há punição, só conseqüências, e com estas conseguimos nos haver


Devemos considerar ainda que não há escolhas sem renúncias.

Há um conforto: no momento em que são decididas, as opções nos parecem absolutamente corretas.

                          então inté jacaré...

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~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~    OSAMA X OBAMA                                               

Reparou que o vocativo caiu da moda?
Estou aqui pensando no Bin Laden sem colocar vocativos.  Bem que ele merecia.
Não há como negar que o imperialismo sobre os subdesenvolvidos sempre se fez odioso

deixando um travo amargo na boca em cada centavo de juro pago,

cada grão de areia monazítica (ou cacho de banana) levada como lastro,

cada medicamento que usou povos pobres como cobaias.

O grave é que as pessoas comuns não deveriam sofrer as conseqüências

das atitudesdos seus comandantes,

que deveriam ser representantes.

Tem uma frase do Millôr que explica o mundo:
 "Da massa só presta o indivíduo. Precisamos recuperá-lo para o julgamento ao qual ninguém se furtará no juízo final".

 Quando conhecemos as pessoas descobrimos, atônitos,

que mesmo não concordando com elas

ou desconhecendo totalmente sua cultura


elas são iguais a nós na maioria das coisas

independentemente de religião,

nível econômico ou intelectual,

lugar de origem ou destino previsto,

partido político ou time do coração.

Somos todos da mesma espécie,
a  antropofagia, (o terrorismo).
.
não deveria ser uma possibilidade,

deveria ser vetado no DNA

As teorias sobre os genes altruístas tem especulado que

a evolução depende, ás vezes,  desses genes e

parece que os indivíduos que os possuem são mutantes

Eu temo que esta seja uma mutação que não vai vingar.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
                                                                            
~~Da massa só presta o indivíduo.
Sr Millôr Fernandes
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~~~~~~                                                        
                                                                 ...então,inté jacaré.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

dia das mães

Quando andamos para trás no tempo, nós nos damos conta de que tudo já foi  inventado,  muito antes de existirmos nós.

O dia das mães na Grécia d´antanho durava nove dias e era conhecido como Mistérios de Eleusis.
Foi criado pelos devotos para honrar Démeter,mãe de Perséfone.  

Já explico:
Acontece que a guria estava colhendo narcisos, bella e fresca, quando seu tio Hades joga a moça na

caçamba da sua quadriga e fustiga seus corcéis negros até dar dar com os costados no Hades (o inferno lá deles).

Arethusa,  uma espécie de ninfa fofoqueira, que fica de olho na vida alheia, conta prá Démeter que


enlouquecida, sai pelo mundo à procura da filha,

carregando uma tocha para iluminar seus caminhos e perfumando a noite de mirtho.

Claro que ela vive uma porção de aventuras nessa travessia

e lá vai ela impedindo a grama de medrar,

transformando poluidores de águas em rãs,

trazendo estios de fundar desertos.

Zeus, o deus dos raios e trovões, maioral do Olimpo, dono da casa dos deuses,

dá prá Démeter uma saladinha de papoula, ela adormece,

ele aproveita prá dar um plá com o irmão Hades,no Hades.

Acontece que a Perséfone tinha comido umas romãs que o tio oferecera e

a regra é mais ou menos assim: "galo onde janta, canta"

ou seja, a moça teria que viver no inferno lá dos gregos para todo o sempre.

O que é tempo prá dedéu.

Já contei que quando a Démeter se aborrece voam penas para todo lado, né?

Pois bom, ela, por vingança pela bandidagem do irmão,

deixou os seres humanos à míngua,

acabou com as plantações de não ter um matinho no mundo nem prá remédio.

Pessoas quando se veem em grande aflição recorrem aos deuses, qualquer que seja o povo.

Com os gregos não foi diferente.

Eles se esforçaram fazendo oferendas com o pouco que lhes restava,

rezaram, fizeram penitência, jejuaram( o que estava bem fácil )

Fizeram procissões,

entoaram hinos e

como nada resolvesse ficaram mesmo danados

e deixaram os deuses de lado.

Foi por essa razão que Zeus e Hades se acertaram pela via diplomática

(exatamente como acontece em nossos dias).

Ficou resolvido que  Perséfone ficaria na superície durante a  primavera, o verão e no outono.

No inverno iria pro inferno  (lá dos gregos)

É por isso que temos flores,  frutas, vegetais e verdurinhas o ano inteiro

menos nos tres meses do inverno, nos países em que neva.

As festas dos Mistérios de Eleusis não são muito conhecidas porque eram,
como diz o nome, mistério.

Dela participavam só mulheres que tinham que chegar à festa a pé, tinham que se vestir de branco,

bom até os homens que ficavam prá assistir tinham que usar branco .

Matavam porcos e porcas.

Enfeitavam-se com flores,
menos jacinto que era a flor que a Perséfone colhia quando foi raptada.

Enchiam o caco de vinho doce e refresco de cevada e menta,

abusavam das papoulas que foi o

boa noite cinderelada Démeter.

Ah! os tribunais eram fechados durante essas festas.

As criancinhas atenienses desde o berço

eram iniciadas nos Mistérios de Eleusis o que eu acho esquisitíssimo

porque então não se manteriam como mistérios .

 
foi assim!...                                    Então inté jacaré.




.                     
,

terça-feira, 10 de maio de 2011

outono

Adoro as manhãs,os meiodias e os ocasos desde o mês de abril.
Faz um friozinho abençoado,o que me deixa bem feliz.
 O que me encanta mesmo é a luz filtrada por uma névoa, que me coloca numa tela impressionista, numa página do Proust, com fundo musical do Satie ou numa catedral submersa
Tô tão artenuvoneana !
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~                          

Falando em franceses ainda (sempre).

Que encantamento é assistir Jacques Tati!
Lembro-me da Mére Cristol falando de Mon Oncle, num parênteses da aula de religião, há algumas décadas.

Fui ver o filme da mesma forma que eu ia à missa: dever de ofício.
Em alguns domingos, logo depois do almoço, eu rumava para algum cinema do bairro para a matinê.
Quando eu era menina todos os bairros tinham cinema, geralmente mais de um.

Ao voltar prá casa mamãe perguntava sobre o filme e eu narrava, com requintes de detalhes que beiravam a tortura, que ela recebia circunspecta,aprofundando vez que outra a ruga entre os olhos.

Não depois de Jacques Tati.

Senti que algo escapava à mamãe por falta de competência minha em falar do que vira.
Eu não sabia como descrever o que a tela mostrou ao apagar das luzes.
Narrei, mais ou menos na sequência, as aventuras do menino e seu tio mas havia todas aquelas nuances de cinza e os espaços vazios - tão diferente daquilo que Hollywood nos mostrava ...
Tambem a ironia fina que não se escondia nem mesmo ao olhar tosco de uma menina que começara o ginásio.
Pela primeira vez eu pude me identificar com uma personagem do cinema.
As comédias românticas traziam  heróis que eu achava velhos ou que tinham um jeito de viver tão diverso do tupiniquim, como as histórias de fada que eu lia.
Naquele tempo, dez anos "dopo guerra",eu não conseguia me aperceber do fim de um estilo de vida que Tati anunciava
A Paris nova ao som do jazz contrapondo-se à velha Paris embalada pelas canções ligeiras tão francesas...
 Há a poesia também, cada tomada é um verso e isso  impressinou a alma e a mente de quem se expunha ao olhar vago específico (expressão de Millôr Fernandes falando de conversa de mulher) desse cineasta francês.

Eu ganhei da filha Fal a coleção de filmes de Jacques Tati, por causa disso voltei à infância.

Foi assim...                                                             Então inté jacaré.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A serviço de sua majestade le Dolphin

Os diários da adolescência oferecem uma visão panorâmica de nós mesmos em ação.
Claro que é uma tomada com filtros, luz e ângulos favoráveis.
As feiúras a gente não mostra.
O que é engraçado já que os diários são escritos,  teoricamente, somente para nossos olhos (tô tão jamesbondeana!).
Então o nosso glamuroso cotidiano dos 12 aos 25 (ou 68) é descrito com belas passagens, lindos cenários, maravilhosos coadjuvantes e até os figurantes são dignos de nota.
A grande função do diário é mostrar-nos a nós mesmos como somos, como gostaríamos de ser, e que pessoa queremos ser aos olhos dos outros.
Essa criação vale-se de todos os sujeitos que idealizamos ou isolamos aspectos e atributos que nos encantam em qualquer um.
Adotamos a gestualidade, linguagem, conceitos, preconceitos, estilo, cor de cabelo, roupas "et caterva" dos nossos amigos, professores, ídolos esportivos ou das artes e mixamos criando o ser ideal, eventualmente um monstro.
Mesmo assim  na escrita do diário chegamos o mais próximo da perfeição possível, seguindo as normas criadas por nós mesmos e que obedecem aos mais altos padrões de excelência que conseguimos atingir.
O bom é que, ultrapassada determinada fase, conseguimos retirar a sopa desse melting pote e passá-la por um cadinho com o que nos convém (quase sempre).
de acordo com São Tomás de Aquino, se nos esforçamos para exercer as virtudes que desejamos possuir por bastante tempo elas acabam se tornando nossa segunda pele.
 Os diários são perfeitos para nos auxiliar nisso ainda que sejam blogs.
Claro! Assim como todos os modelos que adotamos pela vida afora.

Toda originalidade é um plágio não identificado.  
                                                                                   Então, inté jacaré.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Chá da tarde .

.
Não havia na minha infância tantos livros quantos estão disponíveis prás crianças hoje em dia,
assim as editoras publicavam edições adaptadas
.
Foi dessa forma que eu li uma porção de clássicos: A Ilha do Tesouro,
Robinson Crusoé (era escrito assim mesmo), As Viagens de Gulliver, A  História do Mundo para Crianças, Novelas Extraordinárias e mais outros e outros porque eles eram conformados a diferentes idades.

Resumida e facilitada Alice entrou na minha vida e nunca mais saiu.
Relutei um pouco a assistir a versão do Tim Burton mas acabei capitulando.

A angulação desse diretor, mesmo mantendo passagens da narrativa de Lewis Carrol,
mostrou  o olhar, experiências e descobertas comuns à adolescência.

Não só ele faz a mocinha fugir do compromisso firmado pelos pais:
a ruptura com as normas familiares de comportamento e
o estabelecimento do  seu  próprio código,
(o que se configura como rebeldia)
mais a transposição de um punhado de dificuldades severas,
dando a Alice um caráter heróico:
ela salva o reino e se liberta nesse processo.
 
Os  jovens mitológicos têm sempre tarefas assombrosas para cumprir
com o agravante de não conhecerem  a si mesmos,
nem os entraves do caminho,
nem as armas e recursos com que podem contar.
Foi assim com Perseu, Teseu, Héracles, Thor, Hawhata, Philipe, Arthur,asValkírias e por aí vai.

Pois bom, todos os perigos enfrentados pelos adolescentes
tem função e gravidade de rituais de passagem:
só se tornam adultos aqueles que
cortam a cabeça do monstro,
que mudam o curso do rio,
que com as mãos nuas cavam um túnel na montanha ,
que arrancam a espada da pedra,
entre outras façanhas mais ou menos exigentes.

Alice tem lá  suas tarefas,
desencumbe-se delas aos trancos e barrancos,
na maior parte do tempo não compreende nada do que está acontecendo e
tudo se passa num ambiente estranho,
com cores de mistério e ritmo de sonho.

Isso remete você a algum período da sua vida?
(É, eu sei,  mas acho que houve um momento em que essas sensações foram mais intensas.)

A caracterização das personagens recorda-me as figuras que a minha imaginaçâo infantil criava  ao ler o livro o que deve atestar a generalidade delas.

Foi assim, decidi assistir  ao filme de má vontade e fui agradávelmente surpreendida.
Baixa espectativa: é esse o segredo das boas surpresas.

Visitei Alice, mais uma vez, e ela me recebeu para um chá...            
                                                                                   
                                                                                          Então inté jacaré...



 

domingo, 1 de maio de 2011

Ei todo mundo, obrigada pela gentileza.
Eu ainda não sei responder comentários, mas a Bi vai me ensinar amanhã de noite, depois que entregar um trabalho.
Obrigada a vocês.
Maliu

                                           então inté, jacaré

e atendendo a gentís pedidos...

Faz tempão que filhota Fal e filho Pedrão insistem prá eu montar um blog(é assim q se diz?)
parece que enfim eu resolvi.
É que Silvia e Isabeau foram incentivadoras maravilhosas;
filhos são parciais, é o que eu acho,
parece que conservam a imagem heroica das crianças pros pais
e eu pensava que eles estavam mesmo é sendo tendenciosos.
Agora eu desemperrei.  
Estas maltraçadas estão cumprindo a função de reforçar o meu aprendizado básico de entrar no blogdamaliu.

                                          Foi assim...                                    Então inté, jacaré.            

q queu tô fazendo aqui?

Era niver da Sílvia e da Lídia.estávamos conversando sobre mundão de coisas
e sem mais aquela -como sói acontecer -
eu me ponho a falar das Valquírias -
é,aquelas mesmas,da ópera do Vagner,dos corcéis brancos,das hitórias de criança

e surgiu a idéia de falar das coisas que me interessam, a mim,

porque a Isabel acha( tão europeiamente gentil que ela é)
que eu poderia interessar a outros circunstantes da internet.

Pois é, "start on" neste momento minha incursão de blogueira no mundo dos que sabem e fazem acontecer.
Peço humildes desculpas por não ser nem uma nem outra coisa.
Vai ser bom falar com mais gente que divida as mesmas competências.

                                                            então inté,jacaré.---------------maliu

Começando

Uma tentativa.