sábado, 11 de junho de 2011

Canções napolitanas

Minha bisnona cantava.

Repetia e repetia, num registro incompatível com a voz humana,

frases longas e comovidas.

Ela contava que as gôndolas ficavam amontoadinhas à volta do teatro,

próximas á  porta e sob as janelas de onde se podia ouvir o espetáculo.

Quando saiam do teatro, nas noites de ópera, os gondolieri que os conduziam,

cantavam a plenos pulmões as árias masculinas, enquanto remavam.

Com ela também havia códigos.

Não sei se os nomes das canções estarão corretos

mas me lembro dos estribilhos e dos momentos em que eram entoados.

Ao crochetar, à velocidade da luz,

ela cantava árias de Verdi, Puccini, Rossini;

Lazzarella, era quando ela batia o bolo de goteira;
 
Funiculi-funicula, era pra fundear, com o polegar, os capeletti;

com a massa já cortadinha, sobre o tampo da mesa da cozinha;

O Sole Mio abrindo a massa da pizza;

Santa Lucia, fritando os cicciricciara...

Um dia, do outro lado da mesa, em que ela preparava o almoço de domingo, eu perguntei:

Nona por que a senhora não canta música italiana?
Io tô cantano!
Nona, a senhora não me disse que essas eram cançonetas napolitanas?
Ah! ... ma  non tem música italiana, ô tem opera,  ô tem cançoneta!...

E olha que ela era de Verona...


Estou ilustrando com vídeos que me alegram e porque eu estou aprendendo a botar imagens.

Se você não gostar das imagens, não faz mal. Eu acho napolitano dificílimo então se liga na tradução.


A versão dos Muppets com o "famoso" tenor Plácido Flamingo....

Arrivederci, per favore alligatore

4 comentários:

  1. Que lindo, Maliu, obrigada. Em tempos mais do que idos, antes dela queimar e ser reconstruida, estive na Fenice. Por sorte, so tinha conseguido bilhete no fundo do + alto poleiro. Era bisnona e bisono pra tudo qto é lado, levavam farnel, comiam, bebiam e cantavam as arias junto com a diva do dia que nem lembro + quem era. E batiam pés e maos pras notas + certas, xingavam o maestro qdo nao agradava, ma che schifo, stronzo, depois faziam corinho junto c/ o coro oficial. Emocionante. Melhor do que futebol. Comecei a gostar de opera pq vi que era mesmo pra todo mundo. baci, aliki

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  2. Olã Aliki de longe,que lindo! Penso que uma das razões para a pinimba clássica (melhor dizendo lírica) foi porque um maestro veneziano contratou a Callas -uma grega- em detrimento da Tebaldi uma vêneta...cê teve um privilégio raro, eu vi a Tebaldi aqui no Municipal com o meu nono, também no poleiro, e o clima era de total reverência como cê pode imaginar,quando eu chorando fungava mais alto meu avô dizia baixinho e vexado "Stai zita!" bem diferente do que voê participou.Aqui éramos só espectadores... Baccetti Marli

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  3. Não conheci minha bisnona, nem minha nona, cheguei um pouco atrasada. Mas meu pai e minha mãe cantavam e lá em casa os hits eram La Bella Polenta e Mérica, Mérica. Obrigada por me fazer lembrar. Beijos enormes!

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  4. Olá Silvaninha dos Pampas,
    È mesmo,naõ é? as canções que pautaram a vida, que ensinaram carinho e calor independente das sua letras ou melodias, que deram o sentimento de pertencer a um grupo, ofereceram significados particulares e íntimos e sobretudo nos alegraram mesmo quando as letras eram tritonhas...tem uma corrente pelos aí que diz que a cançâo está acabando.Será? beijinhos e carinhos sem ter fim.

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Olá, deixe seu recado para mim :o) Um beijo, Maliu