Repetia e repetia, num registro incompatível com a voz humana,
frases longas e comovidas.
Ela contava que as gôndolas ficavam amontoadinhas à volta do teatro,
próximas á porta e sob as janelas de onde se podia ouvir o espetáculo.
Quando saiam do teatro, nas noites de ópera, os gondolieri que os conduziam,
cantavam a plenos pulmões as árias masculinas, enquanto remavam.
Com ela também havia códigos.
Não sei se os nomes das canções estarão corretos
mas me lembro dos estribilhos e dos momentos em que eram entoados.
Ao crochetar, à velocidade da luz,
ela cantava árias de Verdi, Puccini, Rossini;
Lazzarella, era quando ela batia o bolo de goteira;
Funiculi-funicula, era pra fundear, com o polegar, os capeletti;
com a massa já cortadinha, sobre o tampo da mesa da cozinha;
O Sole Mio abrindo a massa da pizza;
Santa Lucia, fritando os cicciricciara...
Um dia, do outro lado da mesa, em que ela preparava o almoço de domingo, eu perguntei:
Nona por que a senhora não canta música italiana?
Io tô cantano!
Nona, a senhora não me disse que essas eram cançonetas napolitanas?
Ah! ... ma non tem música italiana, ô tem opera, ô tem cançoneta!...
E olha que ela era de Verona...
Estou ilustrando com vídeos que me alegram e porque eu estou aprendendo a botar imagens.
Se você não gostar das imagens, não faz mal. Eu acho napolitano dificílimo então se liga na tradução.
A versão dos Muppets com o "famoso" tenor Plácido Flamingo....
Arrivederci, per favore alligatore
Que lindo, Maliu, obrigada. Em tempos mais do que idos, antes dela queimar e ser reconstruida, estive na Fenice. Por sorte, so tinha conseguido bilhete no fundo do + alto poleiro. Era bisnona e bisono pra tudo qto é lado, levavam farnel, comiam, bebiam e cantavam as arias junto com a diva do dia que nem lembro + quem era. E batiam pés e maos pras notas + certas, xingavam o maestro qdo nao agradava, ma che schifo, stronzo, depois faziam corinho junto c/ o coro oficial. Emocionante. Melhor do que futebol. Comecei a gostar de opera pq vi que era mesmo pra todo mundo. baci, aliki
ResponderExcluirOlã Aliki de longe,que lindo! Penso que uma das razões para a pinimba clássica (melhor dizendo lírica) foi porque um maestro veneziano contratou a Callas -uma grega- em detrimento da Tebaldi uma vêneta...cê teve um privilégio raro, eu vi a Tebaldi aqui no Municipal com o meu nono, também no poleiro, e o clima era de total reverência como cê pode imaginar,quando eu chorando fungava mais alto meu avô dizia baixinho e vexado "Stai zita!" bem diferente do que voê participou.Aqui éramos só espectadores... Baccetti Marli
ResponderExcluirNão conheci minha bisnona, nem minha nona, cheguei um pouco atrasada. Mas meu pai e minha mãe cantavam e lá em casa os hits eram La Bella Polenta e Mérica, Mérica. Obrigada por me fazer lembrar. Beijos enormes!
ResponderExcluirOlá Silvaninha dos Pampas,
ResponderExcluirÈ mesmo,naõ é? as canções que pautaram a vida, que ensinaram carinho e calor independente das sua letras ou melodias, que deram o sentimento de pertencer a um grupo, ofereceram significados particulares e íntimos e sobretudo nos alegraram mesmo quando as letras eram tritonhas...tem uma corrente pelos aí que diz que a cançâo está acabando.Será? beijinhos e carinhos sem ter fim.