sexta-feira, 18 de novembro de 2011

quem olha o mito...

Aquilo que não é compreendido escapa do controle e pode passar a dominar.

Tudo o que se manifesta criando estranhamento, todo o imponderável,
é aceito como hierofania: tanto pode ser  benção quanto maldição;
pode ser dos diabos ou celestino,
está acordado no entanto que é uma interveniência do sagrado na vidinha dos mortais.

A pedra que rachou ao meio por causa da queda de um raio,
a única árvore que sobreviveu à tempestade,
o animal ou humano albino,
o sujeito com qualquer talento fora do comum,
a moça extravagantemente bela,
a fruta com a cara do Nixon, ou que secou sem apodrecer...

Qualquer aspecto extraordinário na condição humana,
no ambiente conhecido, na rotina,
nos fatos determinantes da vida, nascimento, casamento, morte,
merecem rituais que garantem a boa vontade sagrada,
ganhando status de hierofania.

Expressão divina ou demoníaca, no mundo profano

As manifestações dos deuses devem ser aceitas embora não compreendidas.

Não estou falando do mundo pré histórico ou medieval,
nem de grupos mais afastados geograficamente,
de qualquer cultura  que se tenha cristalizado...

Falo do que ocorre hoje em dia, já adentrados na segunda década do século XXI.

Cada vez que nasce um semelhante desigual a comunidade sofre um sobressalto.

Se atinarmos que o mundo é organizado pros normais,
que os excepcionais atrapalham,
fica assentado que o diferente é disfuncional,

sobra o medo atávico de ter uma diferença,
atribuida à onipotência dos diferentes panteões
e é expresso por:
"os deuses determinaram;  os deuses sabem o que fazem;
é uma benção na minha vida;   é um castigo justo;
eu não merecia essa punição...''
e vai por aí!

E porque os panteões estão sempre instalados nas alturas,
as decisões são sempre tomadas pelos superiores, os supremos, os do alto,
é assim que ajeitamos as coisas, pra não atribuir culpa
aos envolvidos pela desgraça da diferença. 

Só pra lembrar: graça é a ponte de comunicação entre o sagrado e o humano,
cair em desgraça portanto é ter esse caminho fechado.

Voltemos pros normais.
Normal é o miolo da curva de Gauss, (um conceito adquirido no ginasial)
Significa que o ápice da curva ascendente
indica que a queda é iminente. .

Não quer dizer que no restante da parábola não haja exemplares,
do que quer que estejamos classificando,
distribuidos por toda a tragetória da tal curva.

Em bom português, normal é vulgar, comum, corriqueiro, ordinário, numeroso, sem novidade, sem especialidade.

O normal é normal.
Não tem muita possibilidade de alterar a ordem das coisas.

                                                   até já!

6 comentários:

  1. como não sofro de hierofania, digo: o deus que consigo reconhecer é o acaso...

    não é da curva de gauss que vc está falando? galton fez outros tipos de gráficos estatísticos...

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  2. adorei,como sempre. podermos fazer as analogias dos deuses com os tempos modernos. o máximo, este blog ;)
    bjo gd e saudades mis

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  3. Olá Isalecrim,
    Obrigada, saudades, volte logo!

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  4. Olá Eloisa,
    Obrigada pela correção, até você me dizer eu não tinha me dado conta do engano. Deve significar mas às vezes é só um charuto mesmo, não é? quer dizer, trata-se da minha ignorãncia dando as caras...

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  5. mas que ignorância, galton foi um dos criadores da estatística e lidava com gráficos... mas o que importa é o texto lindo que vc escreveu, isso aqui é bárbaro:
    Significa que o ápice da curva ascendente
    indica que a queda é iminente.

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  6. Olá Eloísa dosmeusamô.Voce é mesmo uma flor mas o Normauss é Gauss, não tenho desculpa.

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Olá, deixe seu recado para mim :o) Um beijo, Maliu