segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Brun

Eu a chamei Brunhilda.
Claro que em homenagem,
mais do que declarada,
à valquíria mais velha dentre as irmãs gêmeas,
que o Wagner decidiu por estabelecer que eram nove.

Tantas quantas eram as musas.

Ela veio pra ser amiguinha do Bolívar.
Um pastor alemão preto, imenso, forte,
de maus bofes, voluntarioso e belíssimo,
que a Fal havia me dado.

Eu trabalhava por muitas horas naquele tempo
e fiquei definitivamente preocupada
com a solidão que o Bolívar
enfrentaria na chácara todos os dias.

Inclusive aos sábados e domingos e feriados.

Cães foram inventados
para caminhar com o ser humano.

Se houver mato melhor. Se houver perigo.
Se estiver escuro, ou topografia acidentada.

Só quem já andou com cães amassando barro,
procurando algum filhote perdido,
vasculhando um ruído estranho,
perseguindo uma ratazana,
precisando de guia para se orientar no escuro;
sabe o que esse companheiro inestimável oferece de segurança.

Pois bom, a Brun chegou pro Bolívar não ficar só.
De lambugem andaria comigo à beira do lago
e se deitaria aos meus pés
enquanto eu estivesse preparando aula,
estudando, cozinhando, ou
estaria sentada no banco do passageiro
enquanto eu dirigisse (naquele tempo podia)

Eu havia dito ao meu filho Pedro
que fosse ao canil comprar uma fêmea,
porque eu sei que machos adultos
são danados pra brigar.

Pedi que fosse uma boa fêmea..
"Olhe os jarretes" ,eu disse-
"Verifique a insersão das orelhas,
perceba a profundidade do céu da boca,
veja se tem reconhecimento
da Sociedade Brasileira de Cães Pastores Alemães,
dê um estalo forte perto dela
pra ver se ela é medrosa, procure ver os pais"....

Recomendações excessivas,
já que ele sabia tudo.
Crescera cercado por pastores.
Aprendera a andar levado por uma pastora.
Fora acordado por um pastor todas as manhãs da sua vida.

Lá foi o Pedro com um cheque em branco
e uma solene missão.

À noite ele foi me buscar no consultório.
A Fal já tinha chegado
na expectativa de conhecer
a pastorinha de quatro meses,
idade que eu exigira.

Já que eu não teria
como cuidar de um bebê de cachorro,
ela teria que ser
um pouco mais velha
para estar totalmente vacinada.

Pedro estacionou na rua.
O estacionamento do consutório
era só para um carro por casa.
Percorreu todo o pátio da vila
com a cadela na trela,

tímida, literalmente arrastada.

Entrou na saleta de espera e... surpresa:
era o pior espécieme de pastor alemão
que eu já havia visto.

Magérrima, sem porte,
orelhas caidas, sem orgulho,
desenxavidíssima!

"Pedrão,
porque você me trouxe esse bicho horroroso?"
-perguntei bravíssima

"Com quatro meses só tinha esta
e a irmã dela!" -ele me respondeu.

"A irmã dela também era assim ruim?
"Então não me trouxesse nenhuma!"
-eu retruquei bem azeda.

"Não!A irmã dela era grandona, alegre"...
-ele afirma olhando nos meus olhos
"mas se eu não trouxesse esta, ninguem ia querer, mamãe".
-ele me falou com a voz mais penalizada do mundo

E foi assim que eu recebi o melhor cão
de toda a minha longa vida.

Por conta dela, anos mais tarde,
ele me deu o livro Mulheres que Correm com Lobos.

Outra grande escolha!.


Até já!

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