quinta-feira, 7 de julho de 2011

relembranças.

Quando a gente começa a inventar uma identidade, escolhe também que coisas serão aceitas, das trazidas pela vida, as cometidas pelas pessoas e entre os acontecimentos socias.

Quando se ouve assim ó: aguento mentira, não gosto de nhenhenhe, detesto um incendio na floresta, acidente na estrada, caminhão entalado em viaduto, massacre etnico, pesca à baleia, falo quatro idiomas, entendo alguém me trair, ouço jazz ou pagode ou Mozzart ou Satie, invento que vivi na Paris nos anos loucos, adoro bleiser marrom... qualquer dessas afirmações, mesmo que seja uma só delas solta no espaço, forma-se um perfil de quem a proferiu.

Define-se a pessoa por apenas uma expressão de valor.  

Eu penso que não é precipitação, é que se deve montar, a partir do que se tem, o quebra cabeças que o outro representa.
Quando se tem o biotipo de quem fala fecha-se, mais depressa a questão, até que um dado mais recente
desacomode a paisagem  e de novo deve-se encaixar as pecinhas recortadas nos lugares apropriados.

É preciso entender como o outro se mexe, qual e quanto espaço ele ocupa no mundo, e quanto de aproximação pode-se permitir.

O medo do outro só é reduzido quando há a constatação de que é possível lidar com as diferenças, imbricar as semelhanças, partilhar gostos ou ignorar desgostos.

Assustador mesmo,é quando há a apropriação de quanta igualdade existe entre os da mesma espécie. Aquela identidade inventada a partir das características peculiares de cada um, elaborada e burilada a cada dia, exibida com propriedade e vaidosamente, não elimina o fundamento determinado pelo DNA.  

                                                           então inté jacaré!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

revivências

A cada post eu evito falar do que vi, vivi, pensei, presenciei.

Fico mais confortável falando dos mitos, ou das teorias que acato ou nego e até  proponho conceituações...
Penso que minhas experiências não são do interêsse de ninguém além de chatearem solenemente os circunstantes.

Vez que outra um episódio inusitado impõe-se e não consigo evitar de escrevê-lo. Como o blog tem sido meu veículo eu acabo publicando.
Não é de propósito embora não seja por impulso.O logos se declara. Não como uma epifania mas como uma definição.

Percebo hoje que nós precisamos contar de nós mesmos, quando já provectos, porque queremos que haja testemunhos da nossa existência.

Que outros possam afirmar, por mais algum tempo, depois da nossa morte, que vivemos, fizemos coisas (algumas até interessantes), que rimos de nós mesmos, que nos emocionamos, que fomos mais ou menos iguais a todos e em certa medida únicos.

Desejamos ser reconhecidos mesmo quando ausentes, porque não haverá nada que certifique que tivemos nossa vida. Que uma vez, no passado, estivemos aqui e construímos um ninho e deixamos alguns feitos.
As marcas que fui deixando, já estão por aí e minha assinatura deve ser indelével.

Não se trata de sermos lembrados mas de pertencer ainda e nessa medida permanecer.
Constato que exatamente como foi na adolescência preciso me espelhar para ver como sou vista e como gostaria que me vissem. 

Só que agora não é no outro que busco meu reflexo mas em mim mesma.
Contraponho minha imagem à figura de quem sou.

domingo, 3 de julho de 2011

Limites

Há limitações determinadas pelo nascimento; as geográficas, as físicas, as morais.
Há limites escolhidos por garantir a  vida no dia seguinte ou por mais uma década
.
Todo mundo conhece  limites. Posso listar um punhado daqueles que são claramente impeditivos mas há características que se apresentam como vantagens e podem se voltar contra os feiticeiros.

Pais ausentes, país sob ditadura, parentes lindos ou arrogantes ou folgados, cabelo ralo, nariz torto, bunda caída, pele áspera, diabetes, intestino preguiçoso, voz de taquara,.desorganização, procrastinação, inveja, gula, burrice, medo, vingança, sem gracice, deslealdade(a própria e a alheia), escola pública, classe média, subemprego, mal empregado, marcas de catapora...São fronteiras muito precisas que podem atrapalhar que o escopo seja atigido, diminuir as chances de felicidade.

Todo mundo se impõe limites
Aprendemos a só cruzar a rua com sinal verde favorável,  não cutucar a onça com vara curta,
evitar o copo de cima do piano, não falar mal do chefe quando ele está presente, não contar nada pro fofoqueiro do lugar, não sentar-se em formigueiro, não balançar o vespeiro, deixar o local da encrenca antes de ouvir as sirenes, não atirar o pau no gato, não meter a mão em cumbuca, não agarrar o touro à unha, nem pelos chifres, pagar as contas quase pontualmente, não chegar mais cedo sem avisar...

Quando verificamos de perto notamos que tem  limites  que nos são impostos pelas circunstãncias ou por alguém., esses podem ser rompidos.

Os que contam, aqueles que são prá valer, trazemos conosco pela herança cultural ou genética, são obstáculos só transpostos com auxílio externo; pelas transformações tecnológicas ou sociais...

O que não se fala sobre limites é que eles dão segurança..Dar-se conta dos limites que impedem faz enxergar  as probabilidades que se apresentam. As bordas não permitem o despencar no abismo.

Assim como a estrada garante o sentido de direção com mão e contra mão, os limites explicam até onde ir e como aproveitar melhor o que cabe.

Descobrir que  não é preciso percorrer o espaço limitado com passos lineares mas que a área pode ser corberta  de lado, aos pulinhos, na diagonal, com um só pé, de quatro, depressa, girando , em zigzag...

Não é o  que é oferecido que tem que contar, mas é o uso das posses que importa.
São os limites que legitimam o desejo, o sonho, o desfrute. São os limites que fundam a coragem...

                                             então inté jacaré

sábado, 2 de julho de 2011

República da Chacarinha

Vivi cerca de vinte e cinco anos numa chácara.
Longe do asfalto, com a casa mais próxima situada a uma quadra
e um punhado de pastores alemães como compainha.
Os vizinhos só povoavam as imediações nos finais de semana.

A casa era um aquário. Funcional mas simples.
Tinha um horizonte aberto que eu podia dominar pelas grandes janelas de todos os quartos, da sala e da varanda envidraçadas de ponta a ponta. Dalí eu divisava um mundo sem fronteiras.

Bom mesmo era o jardim bem cuidado, com alamedinhas laterais guarnecidas de lírios e hortências e o atapetado verde de grama fininha.

Quando eu me mudei de lá, o que mais me fez falta foi poder enxergar bem longe...
Os limites próximos não nos dimensionam corretamente.
Nossa relação com as coisas, nosso corpo no espaço, a abrangência do nosso espiar...
nada disso é real quando os limites tem o raio dos nossos braços estendidos, muitas vezes nem esticá-los é possível.

Vendo como todos vivemos atualmente, tão amontoadinhos e apesar disso tão sozinhos,
não entendo porque não é mais atraente viver distante do burburinho mas à larga.
Eu não estou falando dos condomínios mas de bairros comuns, com uma avenida central, um comércio de conveniência, uma praça e uma ou duas escolas.

O que foi que mudou no conceito de viver bem dos anos 50 pra cá? 

                                                 então inté, jacaré!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

De gustibus et coloribus non est disputandum



Eu não gosto do Apolo.
Ele não era tão nobre como quer parecer, nem tão sábio.Não era o esteta superior que dizem.

Ensinou-nos o bom e sábio Nietzche, a espelhar Apolo em Dionisos.

Ao fazer isso, para mim, o do vinho sai da pareação com muitos pontos de vantagem.

Dionisos era lindo, era parceiro dos homens, era alegre, gostava de farrear e de amigos à sua volta.
Se suas seguidoras, num  momento adiantado do seu culto, tornaram-se más, destrutivas e assassinas,
isso não se devia ao culto de Dionisos por ele mesmo e à custa da embriaguez do vinho, como se atribuiu sempre.
É que elas ficavam doidonas por comerem um cogumelo alucinógeno, de acordo com a pesquisa do ilustre Robert Graves.  O entusiasmo, típico - e originado - dos bacanais, significava  ser tomado pelo deus 
e não a loucura desmedida e criminosa, a qual se viu nos bacanais tardios do Império Romano.

O da lira usou a lira do Hermes, não a inventou e aliás foi num péssimo negócio que ele a conseguiu.
Conseguiu a flauta de Pã num outro negócio de grego com o Hermes.

Perdeu uma competição musical e mandou esfolar o oponente vencedor,  o sátiro Márcias, enquanto este ainda vivia e pregou a pele dele numa árvore.
O rio Márcias ainda está lá pra comprovar o mau perdedor que Apolo era.

Perseguiu determinado, a ninfa Dafne que não quis saber dele, até que ela foi tranformada em loureiro pra escapar do assédio. Ficou com remorso? sentiu pena dela? Nada! tomou para si a árvore, para fazer com seus ramos, a coroa dos vencedores em concursos.

Tinha uma princesa chamada Corônis que era noiva e apaixonada, já pra casar e tudo, mas o Apolo quis porque quis a moça e se deitou com ela. Foi assim que nasceu Asclépio, o deus da medicina.
Só que durante a gravidez a Corônis andou se encontrando com o noivo, Ísquis.
Um corvo branquinho como espuma, contou pro Apolo que muito patife ,
mandou a irmã Ártemis, a caçadora, dar cabo da Corônis a flechadas.
Nem pra  executar as próprias covardias ele era honesto, esse tal deus das artes.

Ainda chamuscou a plumagem do corvo, que transmitiu à sua espécie o seu sortilégio, tornando-se os corvos pretinhos como carvão.

Uma ninfa, a Dríope, estava com umas amigas pastoreando despreocupada quando Apolo finge ser uma tartaruga, adormece a bela enquanto ela brinca com a cascuda e ao fim de nove meses nasceu-lhe Anfisso,
que é um deus arquiteto.

Parece que os feitos dos filhos foram referência para o pai.

Quando se apaixonou pelo Jacinto, lindo mancebo que despertava paixões avassaladoras, pra não sofrer comparações com outro pretendente, o poeta Tamiris, ele faz uma intriga com as musas e estas privam o poeta da voz impedindo-o de cantar o Jacinto.
Quando Apolo está na jogada não tem pra ninguém! Usando dessas patranhas, não tem mesmo!

Havia ainda as nove musas, cada uma com sua especialidade, inpiradoras de todas as artes e ciências
e que eram suas meio irmãs por parte de Zeus (e quem não era?)
elas também servem de referência ao Apolo Febo.

Ele era o luminoso. Lúcifer também não era?
Como Lúcifer ele também é expulso dos céus. Só retorna pela interveniência da Géia, a mãe dele.

Claro que o Apolo teve seguidores muito fieis e que ele é aclamado como um deus solar enquanto Dionisos é visto como um deus noturno, soturno...

Eu não sou senão uma modestíssima mitófila...mas experimento cá umas controvérsias...
       
                                       foi assim!                       então inté jacaré...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Continua lindo....

É, eu sei. Progresso. Concentração populacional.Mais dinheiro.Aumento na demanda.Mais comércio.Mais moradias.Mais pessoas.Mais meios de transporte.De consumo.Escolas.Automóveis.Mercados.Lojas.Hospitais.
Farmácias.Laboratórios.Consutórios.Academias.Sacolões.Lanchonetes.Porquilos. Padarias...
A montanha. O sol. O mar?..É sal. É sul?
Como é que ele vai se arrumar pra continuar lindo, o meu Rio de Janeiro que eu sempre hei de amar?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Os Titãs

Os Titãs são a primeira leva dos filhos divinos no panteão grego.

Eram monstruosos na aparência,  desmedidamente fortes, terrivelmente feios e muito maus.
O progenitor, Urano, os enterrava um a um conforme iam nascendo.

Um dia o filho Chronos pegou uma espada e zapt! cortou o pinto do pai.

O esperma derramado se espalhou pela terra

preenchendo cada reentrância,

escorrendo em toda saliência,

demorando-se em cada platô,

formando assim  os rios,

lagos, cachoeiras e nascentes.


Produziu as árvores, as flores,

os pássaros, os peixes,

os sapos, as cobras e lagartos,

as conchas e caracóis, os insetos,

o bolor,

os animais de pêlo e teta.

A vida tomou  forma e
o planeta ganhou o aspecto  que quase vemos hoje em dia;

quando não tem asfalto e concreto.

                                                  então inté jacaré...