domingo, 8 de julho de 2012

Paulistada

Nove de Julho,
Preparem-se para acordar ao som da marcha Paris-Belfort e um breve trecho da Bandeira Paulista lindamente declamado.
                                                Até já! (mesmo)

Os dióscuros. Mamãe Gansa.

"Um dia um cisne morrerá por certo,
e ao chegar esse momento incerto,
no lago, onde talvez a água tisne,
que o outro cisne cheio de saudade,
nunca mais cante, nem sozinho nade,
nem nade nunca, ao lado de outro cisne."

Esse é o fecho de ouro de um soneto
apropriadamente chamado "Os Cisnes"

no qual, Julio Salusse afirma, poeticamente,
aquilo que os zoólogos contam
do alto dos domínios do seu conhecimento:

os cisnes são monogâmicos.

O rameirão do cotidiano, com assuntos
fora das ligações românticas oficiais, que compreende:

cantadas ao vivo e no feicebuque,
flertes, insinuações, declarações de duplo sentido,
encontros às escondidas,
celulares com duplo chip e chamadas criptografadas
motéis em estradas sinuosas e pilantragens várias,

não fazem parte do repertório dos cisnes...
Lindos e majestosos eles passam ao largo dos trambiques humanos

Ao contrario da Helena, que conheceu (biblicamente) alguns mancebos
na sua tragetória pré, intra e pós belicosa,

os cisnes se atém a somente um amor, por toda a vida.

Estou falando da de Troia, 'aquela' Helena.

Vou contar a historia...

Então Zeus se enamorou de uma bela e graciosa mortal (outra) esta é Leda

Já casada com Tyndaro  gostava dele bem muito e não queria enganá-lo.

Resolve enganar o Zeus e se tranforma num ganso.

O Zeus que era onipresente, onisciente, e onívoro
(ele comia de tudo e todas, né não?)
sacou o estratagema e se transforma num cisne.

Numa tarde quente, enquanto a nubente nadava candidamente,
num lago de águas claras, Zeus possui Leda

Eu não sei qual é a do cisne mas pato tem um conluio amoroso
rapidíssimo, sem preliminares nem nada.

Se assim foi, deve ter sido um fiasco e Leda, decepcionada,
deve ter achado que o deus tinha incontinência orgásmica.

Pois bom Leda, a gansa, botou dois ovos
de um deles nasceram Helena e Pollux filhos de Zeus
do outro ovo nasceram os filhos de Tyndaro: Castor e Clitmenestra.
Claro; os dois primeiros imortais, já que eram filhos do deus e
os outros dois menos bem aquinhoados pelo destino,
um dia morreriam por certo.

O legal nessa historia é que para alguns mitólogos
Leda era só o nome de disfarce da Nêmesis- deusa da vingança-
prá outros Leda era a babá,
para outros ainda, a mãe adotiva da Helena e seus irmãos.

Nêmesis jamais perdoou a filha por ser tão bela assim,
claro! ela era a própria 'vendetta'
e com feitiços e magia, torna a vida da Helena
um verdadeiro calvário nos quais ela sofre raptos,
e sua beleza provoca guerras e desgraceiras que nunca se acabam.

Como se vê a Branca de Neve é bem mais velha do que conta a lenda...

foi assim... Até já!

sábado, 7 de julho de 2012

De novo nove de julho.

Dia mal aberto, horizonte cor-de-rosa e berilo.

Friorento e mal agasalhado o menino com cara de índio,
alegrinho e buliçoso entregava o pão de porta em porta,
levados numa cesta de vime fixada na bicicleta.

Ele assobiava prá espantar os fantasmas das suas mágoas.
Pois é, ele as tinha.

A mãe morrera, ficara sob a guarda do pai severíssimo,
justo porém duríssimo que embora não ministrasse castigos físicos,
era um crítico cruel, e tornava a vida insuportável,
mantendo com os filhos a disciplina férrea que ele mesmo recebera dos jesuítas.
 
Entregar o pão para ganhar o pão,
era a menor das penas que a vida imputara àquele menino
que mal completara doze anos e já se sentia
absolutamente dono do seu destino. 

Além disso tinha todo o salário para gastar e ele adorava roupas.

A padaria lhe fornecia cama e refeições.
Dormia em "prateleiras" de concreto: beliches de três andares ligados à parede
com pijamas e lençóis feitos dos sacos
de farinha e de açúcar (ninguém veria mesmo!)
que a padaria fornecia de graça.

Sempre havia um padeiro casado que pedia à sua mulher
que fizesse pijamas para o  órfão da vez.
Daquela vez era ele.

Havia um ganho secundário nesse trabalho:
à noite, enquanto ouvia a arenga dos padeiros e ria das suas anedotas
ele cortava cuidadosamente algumas palhas,
justinho no feitio das tampas das garrafas de leite
e fazia os cordões para amarrar.

Era como se usava naquele tempo.

Conhecedor do trajeto do leiteiro ele cumpria seu próprio roteiro,
dando um jeito pro leite ter sido entregue antes do pão.

Manhã cedinho, as ruas vazias,
ele abria a garrafa deixada em uma ou outra casa,
que ele variava sempre, pra não se denunciar
e tomava no gargalo um gole de leite fechando em seguida
com a palha e o cordão adrede preparados.

Os padeiros perceberam seu expediente.

Um dia um deles pediu ao garoto que ele pusesse um papelsinho
na caixa do pão de uma certa casa de uma determinada rua.
" Não deixe ninguém ver!" Foi a ordem.

Ele tentou protestar mas os demais padeiros mostraram que
se ele tinha tecnica e sutileza pra tomar o leite
ele seria bem capaz de cumprir essa nova tarefa.

E assim ele fez.

Não por elegancia mas por timidez
não perguntou o que estava escrito nos recados lacrados.

De início ele pensou que estava deixando
poesias e carinhos pra uma  bonita cabocla,

depois o número de bilhetinhos  que ele teve que entregar
e a variedade de endereços,
fez com que o José Menino Tolosa entendesse que havia se tornado
um mensageiro da Revolução Constitucionalista.

"Quando se sente bater, no peito heróica pancada,
deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer."

Ele viu que alguns padeiros deixaram a folha dobrada.

Ele parou de tomar o leite alheio.
Não como um comportamento maduro e sim como uma forma de honrar os colegas mortos.

                                      até já!